A arte de pensar livremente

A arte de pensar livremente
Aqui somos pretensiosos escribas. Nesses pergaminhos virtuais jazem o sangue, o suor e as lágrimas dos que se propõem a pensar com autonomia. (TeHILAT HAKeMAH YIRe'aT YHWH) prov 9,10a

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Música X Cultura: uma lacuna que aumenta mais

Quarta-feira, como sempre estou na colina II (vila cruzeiro - IBCpenha) e passando em frente a uma das igrejas que se apresentam sob uma ideologia "determinista-próspero-indutiva" notei sucessivas vezes a presença de material para divulgação de mais um "imperdível" encontro com mais um "adorador" ex-famoso. Penso em como as igrejas têm se tornado cada vez mais parecidas com os programas de fofoca da "REDETV", como as reuniões de oração ou encontros de crentes têm se parecido mais com os programas da "Eufrásia" ou em como os nossos pastores se parecem mais com os srs. "Nelson Rubens e Leão Lobo".
Me lembrei de como eram os cultos da minha época de conversão, isso nos idos da década de 90, mas principalmente como foram os cultos mais edificantes de toda a minha "carreira evangélica" e ainda "carreira cristã" (já que são coisas bem distintas para mim). Sobre o assunto me reporto ao recém estudado teólogo da cultura, o sr. Tillich.
“...e este é o princípio protestante – Deus está presente na existência secular tanto quanto está presente na existência sagrada. Não há maior proximidade para Ele em um do que em outro”. “Eu diria que está é o primeiro nível da relação entre religião e arte, a saber, aquele nível em que, no estilo secular e sem conteúdo religioso, o poder de ser é visível, não diretamente, mas indiretamente”.
Paul Tillich
Gostei de pensar nas manifestações de Deus não apenas refém de uma "cultura evangélica" (o termo evangélico, como se apresenta hoje, me causa ulcerações de desgosto). Piamente creio na soberania de Deus em manifestar-se mediante a beleza da natureza, o germinar de uma semente qualquer, o desabrochar de uma flor, o sol que se levanta por sobre o monte do STBSB, a lua fria e longíqua das noites nos brejos de veredas do meu saudoso cerrado goiano, aliás, lua e noites goianas que me remetem à "minha carol". Tem maior beleza que o amor, o afogo, o poema, a música, a letra e o pensamento? Sim, Deus se manifesta na riqueza da cultura e natureza, cultura que FAZ e SABE-FAZER.
A "cultura santa", sempre me incomodou. Achei sempre que faltava "esmero" no desempenho dos minitérios cristãos, em contrapartida um "profissionalismo" invejável se levantava junto aos "mundanos", uma vontade de se comunicar, não apenas pela comunicação mas pela importância da própria transmissão de SABER mediante a cultura, seja pintura, música ou literatura. Nada de assutar afinal, os filhos das trevas não são mais prudentes que os filhos da luz?
Sempre achei os "movimentos culturais" dos crentes meio chatos, em nada me chamavam a atenção, salvo raras e prazerosas excessões. Será que finalmente encontrei um motivo pra dizer que a atual “cultura GOSPEL” brasileira é enfadonha?

Devo me pronunciar, não sou um saudosista ufânico, mas digo que já não suporto o que é dito como música em nossas igrejas, não pelo ritmo ou letra, mas pela pobreza de espírito mesmo. Não me tomem por “espiritual” ou ainda “místico da fé” mas infelizmente nas igrejas (ao menos as televisivamente conhecidas) se tornaram totalmente sem criatividade. São moduladas, castradas e abduzidas a um mundo de idéias que remetem ao velho testamento (pseudo-primeirotestamentários) numa intenção maquiavélica de se assumirem ou aceitarem-se como levitas.

A verborragia contida em seus clichês “ministrativos” são tão repugnantes que demonstram o indelével caráter manipulador de seus líderes. Shows-man, popstars, ídolos, ícones, levitas, adoradores, tudo o que remete á grandeza, mas definitivamente servos não é um dos adjetivos que possam ou devam ser aplicados as nossos “cantores cristãos”.

Nesse minuto me vem à mente uma frase inesquecível de meu primeiro pastor. “Tudo isso não passa de masturbação espiritual”. Vejo a mais pura verdade em suas palavras “velho Shiloah”. Buscam uma indução que beira à psicose na sede paradoxal pelo fogo, aliás, fogo, sede, chuva, derramar, noiva, a cada momento são termos mais e mais cansativos, pertencentes a uma onda emblemática do louvor e adoração, mascarados e detupardos em nossos dias.

Lembro-me do grupo de louvor da Igreja Batista Central de Goiânia que se esmerava no melhor sem seguir “receitas de bolo”, mas com uma sede de servir e simplesmente realizar o período de culto como arte, e não como catequese, indução, insuflação, determinismo e profetismo falido. Com uma pureza de coração que beirava à ingenuidade, presenciei isso também em palmas na amada SIBAPA, sei que existem diversos outros exemplos, mas, infelizmente, tais exemplos se tornam mais escassos.

Isto é o que se localiza ao lado de “nossos púlpitos”, em um próximo momento gostaria de refletir sobre o que emana de “trás dos púlpitos”.

Thiago Barbosa

2 comentários:

  1. A cultura adquirida no cenário evangélico contemporâneo tem sido de uma superficialidade tremenda...O problema é q tem se crescido por demais em graça e pouco em sabedoria. Me remeto a Paulo, um de meus preferidos: "Renovai-vos pela transformação da vossa mente ou do vosso entendimento" Rm 12:2.
    Gosto do termo "mental", "entendimento", pois nos remete ao ato de pensar, arguir, argumentar, pq não questionar? Isso sim é evangelho de consciência. Nele há salvação, redenção e transformação...
    Gosto do apÊlo à consciência do evangelho pq isto nos leva à boa, perfeita e agradável vontade de Deus, ou seja, Deus quer q arrazoemos acerca de tudo aquilo q seja em detrimento DELE.. sela cultuando, vivendo, comendo e tocando!!! Não temos tido profundidade em cultura dentro das nossas igrejas, pq a maioria tudo q está sendo feito atualmente dentro das igrejas evangélicas não tem passado pelo crivo do bom-senso mencionado e escancarado nas escrituras. Tem sido absorvido de forma despreparada e indiscriminada. Não é isso que as escrituras nos recomendam. Crescimento desproporcional em graça somente e não no entendimento gera CRISTÃOS BABÃOS E INFANTIS que, como criança, podem ser manipulados e levados de um lado a outro não tendo a menor noção do que faz.

    Boa palavra gordão...Na paz daquele q é pedra angular.

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  2. As palavras de Tillich: "e este é o princípio protestante – Deus está presente na existência secular tanto quanto está presente na existência sagrada. Não há maior proximidade para Ele em um do que em outro", me remontou as palavras de Santo Agostinho quando ele afirma que Deus é tudo em Todos, e que todo o universo foi criado por Ele, contendo Ele em todos os lugares.

    Tillich é muito interessante! Procurarei mais conhecer sobre sua Teologia...


    Grande abraço Thiagão

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