“O sofrimento religioso é, a um único e mesmo tempo, a expressão do sofrimento real e um protesto contra o sofrimento real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração e a alma de condições desalmadas. É o ópio do povo”.
Karl Marx, "Uma Contribuição à Crítica da Filosofia do Direito de Hegel" (1844)
A cultura brasileira nunca perpassou pelos “levantes” políticos e culturais, filosóficos e científicos oriundos da longínqua Europa “Iluminista”. O fato ocasionado pelo burburinho neuronial inerente ao século XIX emolduraram e emolduram os posteriores do século XIX e XX.
Esse período inicial de curso fomos apresentados ao mundo esquizofrênico da teologia. Digo esquizofrênico pela necessidade da vida em dois mundos, o mundo ontológico das igrejas que tanto amamos e o mundo empirista e romântico da filosofia pós-moderna e teologia fenomenológica. Os cavaleiros do apocalipse, para nosso grupo de “hereges”, receberam nomes “osvaldianos” (já que carinhosamente dizemos ser eles os responsáveis pelos maiores embates sofridos pela igreja cristã desde a sua criação como instituição), entre eles Karl Marx, possivelmente este seja o mais “afamado” e seguido em nossas universidades (cristãs ou não), ao mesmo tempo em que é caçado como a bruxa medieval em nossas congregações. Interessante que nos difíceis pontos de congruência nas infinitas denominações, a busca pela cabeça de Marx é uma unanimidade. Gostaria de “viajar” no ópio de Marx e falar sobre sua célebre colocação aos burgueses europeus.
Em análise simplista sobre os pensamentos marxistas notamos duas coisas. Primeiro Marx não diz que a religião é o narcótico, o entorpecente do povo, mas sim que é o ópio, um narcótico específico.
Caracterizar a religião como uma droga que anestesia a dor, por mais chocante que seja para muitos, hoje, foi ainda mais radical em sua época. E, no entanto, mais do que condenando a religião em si, Marx na verdade estava criticando a condição de uma sociedade que levaria as pessoas a um entorpecimento. De qualquer modo, a partir daí, não paramos de ouvir as críticas aos comunistas sem Deus, implicando que o pensamento marxista não tem valores nem moralidade.
Isso não é bem verdade. O que Marx queria dizer é que a religião funciona no sentido de pacificar os oprimidos; e a opressão é definitivamente um erro moral. A religião, dizia ele, reflete o que falta na sociedade é uma idealização das aspirações do povo que não podem ser satisfeitas de imediato. As condições sociais da Europa nos meados do século passado tinham reduzido os trabalhadores a pouco mais que escravos; as mesmas condições produziram uma religião que prometia um mundo melhor na outra vida.
Ainda segundo Marx, a religião não é apenas uma superstição ou uma ilusão. Ela tem uma função social. Distrair os oprimidos da realidade de sua opressão. Enquanto os explorados e espezinhados acreditarem que seus sofrimentos lhes propiciarão liberdade e felicidade no futuro, estarão considerando a opressão como parte de uma ordem natural, um fardo necessário e não uma coisa imposta pelos outros homens. É isso o que Marx queria dizer ao chamar a religião de "ópio do povo". Ela, a religião, alivia sua dor, mas ao mesmo tempo, torna-os indolentes, nublando sua percepção da realidade e tirando-lhes a vontade de mudar.
O que Marx queria? Ele queria que as pessoas abrissem os olhos para as duras realidades do capitalismo burguês do século XIX. Os capitalistas estavam extraindo mais e mais lucros a partir do trabalho do proletariado, ao mesmo tempo em que "alienavam" os trabalhadores de sua auto-realização. O que os trabalhadores mereciam, e poderiam obter se acordassem de sua sonolência, era o controle de seu próprio trabalho, a posse do valor que geravam com esse trabalho e, conseqüentemente, auto-estima, liberdade e poder.
Para atingir esse fim, Marx clamava pela abolição da religião como felicidade ilusória do povo. Ele queria que eles buscassem a "felicidade real", que na filosofia materialista de Marx era a liberdade e a realização neste mundo. Já que os ricos e poderosos não iriam entregar isso de graça, as massas teriam de tomá-lo. Daí, luta de classe e revolução.
Criamos seres extraterrenos em nossas igrejas, apolíticos, amorais, antiéticos e inertes ao mundo que os cerca. Até quando devemos duplicar, triplicar (tornando-o mortal, e digo isso literalmente) a dose do ilusório tóxico de Marx a ponto de matarmos mentalmente nossos congregados? Pela manutenção de uma instituição matamos mentalmente e socialmente nossos irmãos, a vida passa e continuamos como os trabalhadores da Europa marxista, sonâmbulos ansiando pelo amanhã enquanto vegetamos na realidade diária de nossas vidas. Sim, creio que nossos templos têm lugar para uma contextualização de consciência, afinal, Deus é Social, Moral, Ético e enfim sublimemente espiritual.
Na esperança de um evangelho de consciencia e verdade.
Thiago Barbosa
Karl Marx, "Uma Contribuição à Crítica da Filosofia do Direito de Hegel" (1844)
A cultura brasileira nunca perpassou pelos “levantes” políticos e culturais, filosóficos e científicos oriundos da longínqua Europa “Iluminista”. O fato ocasionado pelo burburinho neuronial inerente ao século XIX emolduraram e emolduram os posteriores do século XIX e XX.
Esse período inicial de curso fomos apresentados ao mundo esquizofrênico da teologia. Digo esquizofrênico pela necessidade da vida em dois mundos, o mundo ontológico das igrejas que tanto amamos e o mundo empirista e romântico da filosofia pós-moderna e teologia fenomenológica. Os cavaleiros do apocalipse, para nosso grupo de “hereges”, receberam nomes “osvaldianos” (já que carinhosamente dizemos ser eles os responsáveis pelos maiores embates sofridos pela igreja cristã desde a sua criação como instituição), entre eles Karl Marx, possivelmente este seja o mais “afamado” e seguido em nossas universidades (cristãs ou não), ao mesmo tempo em que é caçado como a bruxa medieval em nossas congregações. Interessante que nos difíceis pontos de congruência nas infinitas denominações, a busca pela cabeça de Marx é uma unanimidade. Gostaria de “viajar” no ópio de Marx e falar sobre sua célebre colocação aos burgueses europeus.
Em análise simplista sobre os pensamentos marxistas notamos duas coisas. Primeiro Marx não diz que a religião é o narcótico, o entorpecente do povo, mas sim que é o ópio, um narcótico específico.
Caracterizar a religião como uma droga que anestesia a dor, por mais chocante que seja para muitos, hoje, foi ainda mais radical em sua época. E, no entanto, mais do que condenando a religião em si, Marx na verdade estava criticando a condição de uma sociedade que levaria as pessoas a um entorpecimento. De qualquer modo, a partir daí, não paramos de ouvir as críticas aos comunistas sem Deus, implicando que o pensamento marxista não tem valores nem moralidade.
Isso não é bem verdade. O que Marx queria dizer é que a religião funciona no sentido de pacificar os oprimidos; e a opressão é definitivamente um erro moral. A religião, dizia ele, reflete o que falta na sociedade é uma idealização das aspirações do povo que não podem ser satisfeitas de imediato. As condições sociais da Europa nos meados do século passado tinham reduzido os trabalhadores a pouco mais que escravos; as mesmas condições produziram uma religião que prometia um mundo melhor na outra vida.
Ainda segundo Marx, a religião não é apenas uma superstição ou uma ilusão. Ela tem uma função social. Distrair os oprimidos da realidade de sua opressão. Enquanto os explorados e espezinhados acreditarem que seus sofrimentos lhes propiciarão liberdade e felicidade no futuro, estarão considerando a opressão como parte de uma ordem natural, um fardo necessário e não uma coisa imposta pelos outros homens. É isso o que Marx queria dizer ao chamar a religião de "ópio do povo". Ela, a religião, alivia sua dor, mas ao mesmo tempo, torna-os indolentes, nublando sua percepção da realidade e tirando-lhes a vontade de mudar.
O que Marx queria? Ele queria que as pessoas abrissem os olhos para as duras realidades do capitalismo burguês do século XIX. Os capitalistas estavam extraindo mais e mais lucros a partir do trabalho do proletariado, ao mesmo tempo em que "alienavam" os trabalhadores de sua auto-realização. O que os trabalhadores mereciam, e poderiam obter se acordassem de sua sonolência, era o controle de seu próprio trabalho, a posse do valor que geravam com esse trabalho e, conseqüentemente, auto-estima, liberdade e poder.
Para atingir esse fim, Marx clamava pela abolição da religião como felicidade ilusória do povo. Ele queria que eles buscassem a "felicidade real", que na filosofia materialista de Marx era a liberdade e a realização neste mundo. Já que os ricos e poderosos não iriam entregar isso de graça, as massas teriam de tomá-lo. Daí, luta de classe e revolução.
Criamos seres extraterrenos em nossas igrejas, apolíticos, amorais, antiéticos e inertes ao mundo que os cerca. Até quando devemos duplicar, triplicar (tornando-o mortal, e digo isso literalmente) a dose do ilusório tóxico de Marx a ponto de matarmos mentalmente nossos congregados? Pela manutenção de uma instituição matamos mentalmente e socialmente nossos irmãos, a vida passa e continuamos como os trabalhadores da Europa marxista, sonâmbulos ansiando pelo amanhã enquanto vegetamos na realidade diária de nossas vidas. Sim, creio que nossos templos têm lugar para uma contextualização de consciência, afinal, Deus é Social, Moral, Ético e enfim sublimemente espiritual.
Na esperança de um evangelho de consciencia e verdade.
Thiago Barbosa
Esse é o Thiago mesmo?
ResponderExcluir8|
Essa geração está realmente comprometida com uma razão estabelecida sob a ótica de um crivo nobre.
Um texto indispensável aos críticos e futuros teólogos de plantão.
Divulguem esse blog!
Este é sim o Thiago (mas thiagão depende do referencial,é o "cabeludo " do STBSB)...rs...
ResponderExcluirValeu pelo apoio e reintero o convite exposto pelo amigo Enoque. Fique à vontade para contribuir com comentários, que mesmo contrários à opinião dos "postadores" sempre serão lidos e permitidos. Afinal, ou o CRISTIANISMO é LIVRE ou não é cristianismo...