A arte de pensar livremente

A arte de pensar livremente
Aqui somos pretensiosos escribas. Nesses pergaminhos virtuais jazem o sangue, o suor e as lágrimas dos que se propõem a pensar com autonomia. (TeHILAT HAKeMAH YIRe'aT YHWH) prov 9,10a

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Crer para viver


Crer para viver: uma percepção dos versos em João 20.30-31.

INTRODUÇÃO
O texto referente ao Quarto Evangelho, tradicionalmente apontado como de autoria joanina, é, notoriamente, o texto mais comprometido com a imagética de Jesus como o messias, o Cristo, trazendo à tona cenas miraculosas de cura e de aparições post mortis, com uma perspectiva que nos parece referente à orientação profético-carismática, mas agora com este personagem sendo reconhecido como o Filho de Deus.
O presente trabalho se debruçará brevemente sobre os versos alocados em João 20.30-31; versos que anunciam o texto joanino como redação dos sinais feitos por Jesus, e que estes relatados, em especial, foram redigidos para reforçar a crença da comunidade em questão no messianismo de Jesus, bem como na sua filiação divina.
Quanto à metodologia que será aqui utilizada é reconhecida como histórico-crítica. Usa-se da percepção diacrônica dos textos bíblicos, sendo, histórica pelo fato de lidar com fontes históricas buscando determinar diversos estágios de sua formação e crescimento até chegarem ao formato atual. Respeita, sobretudo, as fontes construtoras do texto e seus estágios evolutivos. É crítica por dispor-se a emitir uma série de juízos sobre os aspectos históricos que alicerçam a construção da pesquisa. [1] Assim buscaremos encontrar o uso e função desses versos (Jo 20.30-31) na comunidade original, o que denota o intento histórico-social deste trabalho.

O TEXTO EM QUESTÃO:
Texto grego[2]
Texto traduzido literalmente
Πολλὰ μὲν οὖν καὶ ἄλλα σημεῖα ἐποίησεν ὁ Ἰησοῦς ἐνώπιον τῶν μαθητῶν [αὐτοῦ], ἃ οὐκ ἔστιν γεγραμμένα ἐν τῷ βιβλίῳ τούτῳ· (Jo 20,30)
Muitos então e outros sinais fez o Jesus perante os discípulos dele os quais está(ão) escritos em o livro este.
ταῦτα δὲ γέγραπται ἵνα πιστεύ[σ]ητε ὅτι Ἰησοῦς ἐστιν ὁ χριστὸς ὁ υἱὸς τοῦ θεοῦ, καὶ ἵνα πιστεύοντες ζωὴν ἔχητε ἐν τῷ ὀνόματι αὐτοῦ. (Jo 20,31)
Estes porém estão/foram escritos para que/para creiais/crerdes que Jesus é o Cristo o Filho do Deus e para que crendo vida tenhais em o nome Dele.

Quanto ao termo αὐτοῦ, dele, é omitido no Códice Vaticano (B) do século IV d.C, bem como no Códice Alexandrino (A) do V d.C; ocorrendo no texto Majoritário, papiro (66) ca.200 contendo porções extensas de João; no Códice Sinaítico (א ) do século IV d.C. no Códice Efraimita (C) reescrito no século V d.C que possui porções extensas do Novo Testamento. É aceito como leitura original em [Cr].
No verso seguinte, o termo πιστεύ[σ]ητε, creiais/crerdes, sofre modificação ou substituição no papiro (66) ca. 200 com possível testemunho de um importante pai da igreja, bem como no Códice Sinaítico (א ) do século IV d.C., assim como em um manuscrito muito importante que sempre é considerado no Códice Vaticano (B) do século IV d.C. Ocorre no texto Majoritário do Códice Alexandrino (A) do século V d.C, no Códice Efraimita (C) reescrito no século V d.C que possui porções extensas do Novo Testamento. É aceito como leitura original em [Cr].
Quanto à forma literária, trata-se de um nível linguístico conhecido como “comentários e comentações” [3]. O autor volta-se mais diretamente para os que se põem a acessar seu texto, manifestando muitas vezes um conhecimento maior sobre o nexo das coisas, motivos ou mesmo o íntimo das pessoas agentes. Isso ocorre sobretudo no quarto evangelho, há uma evidende percepção da tendenciosidade para fazem comentários, o que mostra a teologia do autor.
Uma possível tradução mais literária proposta aqui seria:
“Muitos outros sinais fez Jesus perante os discípulos os quais estão escritos neste livro. Estes porém foram escritos para crerdes que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que crendo tenhais vida em Teu nome.”
Não há grande discussão sobre a anterioridade desses versos, apenas partes são omitidas, partes essas que notadamente se assemelham a adequações de escribas posteriores, mas que contundo não alteram a percepção e importância. Os versos de João 20.30-31 são textos já presentes em textos antigos, participando dos primeiros grupos redacionais que formaram o corpo textual do quarto evangelho, como veremos mais adiante. Antes, abordaremos sua posição quanto os relatos que antecedem e seguem estes dois versos.
Sincronicamente o texto é antecedido pela aparição do Cristo ressurreto a Tomé (Jo 20.24-29), seguidor que tradicionalmente é reconhecido como aquele que duvida que Jesus tenha ressuscitado do mundo dos mortos. Tomé, após comprovar pelo tato, que se tratava realmente de uma ressurreição há uma exortação àqueles que, mesmo sem tocar ou ver, creem na ressurreição e, assim, na divindade de Jesus.
Sequencialmente após os versos que são frutos de análise no presente trabalho temos o relato da pesca miraculosa (Jo 21.1-14), Jesus apresenta-se no lago de Tiberíades para vários dos seus seguidores. Tais seguidores que se puseram no trabalho da pesca durante toda a noite retornam sem peixes para a alimentação do grupo. Após Simão Pedro se lançar no lago e ir de encontro com o mestre, os que ficaram no barco pescaram uma grande quantidade de peixes, e agora, nenhum deles duvidou que aquele à margem fosse Jesus. Nota-se que os versos de Jo 20.30-31, de certo modo centralizam dois relatos que se referem à crença na ressureição de Jesus, o primeiro tendo como personagem central Tomé, que havia duvidado; no relato posterior todos os discípulos creem que seja Jesus à margem esperando-os, destacadamente o discípulo “a quem Jesus amava” e Simão Pedro. O texto preocupa-se em afirmar que a vida é inerente à crença nos sinais descritos no texto joanino, bem como na ressurreição de Jesus e sua filiação divina.


A TRADIÇÃO JOANINA
A mais evidente característica do texto de tradição joanina é “o material que resultou na formação dos diálogos e discursos que refletem a cristologia e a soteriologia especificamente” [4]. Rudolph Bultmann elaborou a hipótese do uso de fontes de discursos gnósticos na composição do texto joanino, sendo muitíssimo criticado e, atualmente, devido às descobertas em Nag Hammadi temos outras perspectivas. O texto amplo do Quarto evangelho traz textos reconhecidos nos Diálogos de Jesus, bem como no Evangelho de Tomé, assim como com o Papiro Egerton e um texto reconhecido como A Narrativa da Paixão; As Tradições Escatológicas, e, importante para o presente trabalho, a fonte reconhecida como A fonte dos Sinais.
A Fonte dos Sinais, como conjunto de materiais que o autor se utiliza, relata histórias de milagre ligadas às fontes do Evangelho de Marcos. Os versos de Jo 20.30-31 é uma conclusão preservada por esse material. Jesus é transmitido com uma perspectiva divina, uma propaganda helenística que exalta esse personagem. Trata de um ambiente aramaico, uma espécie de transmissão de valores aramaicos do messias para uma visão helênica. Jesus é o próprio Deus vivendo entre os homens, enfatizando nestes versos a crença no Jesus, o Cristo, agora ressurreto. [5]
João 20.30 é, “claramente, a conclusão do evangelho original” [6]. Existem dificuldades que alicerçam a improbabilidade de que o mesmo autor tenha redigido o capítulo 21 e os versos em questão. Embora Jo 20.30 seja dificilmente apropriado como conclusão para o quarto evangelho, “é provavelmente adequado como final de um semeîa-fonte[7]”, para nós, Fonte dos Sinais de Jesus.
O autor trabalha poucos temas, usando para tal, paralelos e quiasmos.[8] Sendo que entre 13.1 – 20.31 descreve “a auto-revelação de Jesus em sua cruz e exaltação” [9]. Assim os versos 30-31 do capítulo 20 é uma declaração concisa do propósito do Quarto Evangelho. O autor, magistralmente, compele o leitor a aceitar o dado messiânico de Jesus, bem como a sua ressurreição “carnal” [10]. “Procurar pelas fontes distintas no quarto evangelho é uma causa perdida” [11].
Aqui, no caso específico dos dois versos, parece evidente em diversos textos que esses versos são uma conclusão concisa e enfática para uma fonte reconhecida como a Fonte dos Sinais. Como o texto já aparece em textos de alguns pais da igreja nota-se que é um escrito que, no mais tardar, foi composto nos primeiros anos do século II d.C. Sendo evidenciado que seu discurso é notadamente posterior ao ano 70-80 d.C. pelo fato de que o logos, palavra, é personificada, tal qual no conceito judaico de Hokmah, sabedoria, exposta em diversos textos sapienciais no primeiro testamento e que nesse período passa por um processo de canonização, tornando-se imprescindível na construção de um ideário judaico-cristão, bem como a exclusão dos judeus cristianizados do ambiente sinagogal. Estabelecemos uma proposta para datação entre os anos 80-85 d.C. que é corroborada pela queda do templo e discussão quanto ao judaísmo da Palestina, bem como a própria linguagem que caminha para uma expressão menos comedida que a de Inácio – que com frequência refere-se a Jesus como Deus – bem como sua linguagem sacramental. Isso remete a uma passagem de tempo até que este pai da igreja tenha composto seu texto, já que esse ideal é plenamente absorvido por ele.
BUSCANDO DADOS SOCIAIS
Muitas das histórias refletidas nos textos joaninos devem ser entendidas sob os conflitos presentes no evangelho, que surgem a partir de conflitos intrajudaicos. [12]
O Evangelho de João busca refletir uma nova identidade como resposta à exclusão sinagogal e sua aceitação, devido a conflitos que surgem desde 70 d.C. já que o dado messiânico era amplamente desencorajado quando relacionado ao profeta-carismático, Jesus. Assim, o fio condutor do texto é uma forte reinvindicação de exclusividade para a revelação de Cristo, que tem sua origem no judaísmo aflorado, ao mesmo tempo em que se opõe ao judaísmo. Isso se dá com Jesus sendo de origem judaica, mas aqui, transcendendo a realidade finita do judaísmo institucional.
Quanto à geografia temos quatro principais possibilidades[13]:
a)    Alexandria – com a alegação de que João possui certas afinidades com Filo.
b)    Antioquia – sob a alegação de que há afinidades com as Odes de Salomão, escritos siríacos com suposta procedência dessa região.
c)    Palestina – sob a alegação de que qualquer escrito que aborde o Jesus Histórico relate a realidade palestinense.
d)    Éfeso – sob a alegação enfatizada por evidências patrísticas, tais como Irineu e Eusébio.
Não assumimos um posicionamento exclusivista quanto à procedência geográfica, mas chama a atenção o ambiente da Antioquia, pela proximidade com os escritos de ideário sapiencial das Odes de Salomão que se aproximam ao uso do logos/hokmah joanino; da mesma forma que a Palestina, onde a discussão sobre a aceitação messiânica e de ressurreição de Jesus seria pano de fundo para uma disputa ideológica entre judeus cristianizados.
Essa localização pressupõe hipóteses e especulações sobre a identidade do autor que não estão isentas de problemas. Chama a atenção, em todo caso, que o testemunho manuscrito mais antigo do evangelho provenha do Egito, quando a tradição da Ásia Menor começa bem mais tarde. Por isso, em última análise, não será possível ir além de evidências ou indícios internos. Mas muita coisa fala a favor do surgimento num ambiente de cunho judeu.[14]
Não temos uma referência quanto aos seus destinatários, mas pode-se suspeitar de um desentendimento intrajudaico que refletem a exclusão da sinagoga dos que confessam a Cristo. “É possível que se esteja fazendo referência, dessa forma, justamente aos membros da maioria judaica aos quais se contrapõe a comunidade joanina” [15]. Esses aspectos apontam para o fato de a comunidade joanina ter um caráter “majoritariamente cristão judaico e supostamente deva ser procurada na terra de Israel” [16].
Quanto ao estrato social dos que pertencem ao grupo de Jesus no quarto evangelho, percebe-se que são membros dos estratos inferiores, mesmo não sendo os “absolutamente pobres” [17], chama a atenção que alguns dos que agora seguem o Cristo são membros dos estratos elevados da comunidade. Talvez esse fato social ajude na interpretação de que esse evangelho não se preocupa tanto com as diferenças entre ricos e pobres, antes traz à tona o conflito “latente entre membros do estrato inferior provenientes de círculos subdecuriais que se declaram abertamente pela comunidade dos crentes em Cristo e simpatizantes secretos do estrato superior citadino” [18].

TEOLOGIA E FUNÇÃO TEXTUAL
Sem dúvida a temática principal que emoldura a construção textual é a apresentação de Jesus como o Messias. Jesus é o agente de Deus na terra, para tal os versos 20.30-31 são fundamentais no chamado à crença dessa perspectiva, já que o “termo confessional Filho de Deus[19] é apresentado e deve ser compartilhado pelos leitores com fé e compromisso.
O autor de João transcende imagens anteriores de Jesus como enviado ou mensageiro da Sabedoria. Superando o discurso que se refere a Jesus como corporificação da Sabedoria personificada, ele adiciona a noção de sabedoria preexistente. (...) a Sabedoria preexistente se encarna, toma corpo em Jesus. (...) O Evangelho de João marca ainda um estágio ulterior dessa reflexão sapiencial acerca de Jesus na apresentação do seu ministério segundo a carreira da Sabedoria (personificada). [20]
Tomando o messianismo como chave hermenêutica de acesso aos versos em questão neste trabalho deve-se perceber que seria parte da apocalíptica judaica, tendo como características básicas a “significação histórica, de autoria pseudônima, uso liberal de visões, um forte elemento preditivo, altamente simbólico, dramático, e era uma defesa radical do povo para o qual era escrito” [21]. Essas são características perceptíveis em todo o texto do Quarto Evangelho, principalmente nos que tratam de Jesus como portador da Sabedoria, dos Sinais, da ressurreição dentre os mortos e, enfim, da filiação divina. Sua função é responder perguntas de um povo perseguido, trata da justiça divina, do sofrimento humano, sobretudo viabiliza a esperança por meio das letras.
Vê-se certo elemento apologético em Jo 20.-30-31, fato que seria observável pois, em uma crescente disputa entre seguidores de Cristo, notadamente judeus, e judeus mais apegados aos apontamentos do templo, há de se notar uma indecisão no primeiro grupo. Em João os judeus, com percepção mais alinhavada com o templo, são negativizados, enquanto os judeus cristãos que creem no messianismo por Jesus são positivizados.
Já foi sugerido que João parece ter construído seu Evangelho em torno de sinais que Jesus fez. Aparentemente, escolheu um número limitado de milagres (20.30-31) para apresentar suas provas acerca do messiado de Jesus. (...) a ressurreição é o sinal supremo da natureza essencial de Jesus.

POSSIBILIDADE HERMENÊUTICA
Quanto aos dados obtidos podemos anunciar que, mesmo não se explicitando o autor, temos a redação de alguém que teve contato com a Fonte dos Sinais de Jesus, e, que nos versos 30-31, preocupou-se na manutenção de uma conclusão concisa, enfática, sobre a crença nos sinais de Jesus, mas, sobretudo na crença de sua percepção como imagem messiânica e filiação divina. Jesus é/contém a Sabedoria e é filho de Deus.
Para uma definição quanto ao Lugar Vivencial opta-se por assumir a posição dos irmãos Stegemann[22] apontando para a Palestina. Para apoiar tal posição, mesmo certos de críticas apontando para outras localidades, temos o uso das fontes dos Sinais de Jesus com a manutenção de sua conclusão, remetendo à importância desse texto para a comunidade em questão; a chamada à crença nos sinais de Jesus, seu messianismo e filiação. Com a expulsão dos judeus cristianizados das sinagogas, estes valores, inerentes aos seguidores de Jesus, devem ser mantidos e por isso ganham destaque em Jo 20.30-31. Os versos que são frutos de análises neste trabalho remetem ao cunho apologético e esperançoso da apocalíptica que aborda o messianismo.
Sobre o problema hermenêutico dos textos apocalípticos vemo-nos entre duas possibilidades: “um horizonte pequeno-burguês, que reduz a vinda de Deus a eventos dentro do pequeno mundo de nossas novidades”[23] ou mesmo “reduzir as imagens apocalípticas à sua significância, e assim, tirá-las totalmente do âmbito da história”[24]. A linguagem desse gênero apocalíptico é metafórica e poética, o que nos impede de uma aplicação unilateral. Embora os versos em questão não tratem da linguagem apocalíptica, mas, uma chamada à aceitação dessa linguagem. Como se trata de um enunciado de juízo, sumamente sobre os que creem, em contraposição aos que não creem. Afinal, os que creem terão vida.
Na interpretação do apocalipsismo temos critérios[25] como:
a)    A estranheza básica da realidade mística referente à tempo, ação e decorrência, identidade e corporalidade;
b)    O efeito corretivo para a expectativa do juízo;
c)    Quanto às características básicas divergentes, aplica-se a realização transversal em relação à história, não perdendo de vista o todo.
Assim, podemos apontar que “o intérprete não pode desistir da correlação bíblica entre ação e decorrência ou renunciar a ela por causa de princípios aparentemente contraditórios” [26].
A realidade da exclusão das sinagogas dos judeus cristianizados atemorizava e deixava em dúvida as vítimas desse processo, mas a realidade libertadora dos sinais de Jesus aplacava suas impressões, tão profundamente, que seria impossível apenas negligenciar tais eventos. Milagres, curas, exorcismos, mas certamente mais que isso, a imagem de O Messias, marcara definitivamente a Palestina judia que ouvira falar de Jesus, aquele que se tornara O Cristo. Assim, mediante os discípulos, o Messias tinha feito uma enormidade de sinais, tanto os descritos no texto joanino quanto outros não relatados, mas que a própria comunidade ainda balbuciava. Não era apenas mais um Jesus, de tantos outros que circulavam pelas gentes, mas era o que fez vários sinais, e, acima de tudo, o que foi reconhecido pelas gentes como O Messias, e, que sob a pena do autor de João personifica a Sabedoria – organizadora do caos social (hokmah/maat) – mas também é o filho do próprio Deus, é Deus caminhando entre homens, mulheres e crianças do oprimido Israel.
Mas agora, expulsos da sinagoga, da casa do Deus dos Pais, esse povo se questiona se era mesmo o Messias que lhes falava sobre arrependimento, ou apenas mais um carismático que aclamava a liberdade, mas a trouxe em partes.
Com a expectativa da esperança que remonta à apocalíptica, mais ainda, que remonta os ideários de Jesus, a pena do autor que redige Quarto evangelho retorna à Fonte dos Sinais de Jesus e reforça a esperança das gentes. Pois os sinais descritos no livro são para que creiam – homens, mulheres, crianças, judeus cristianizados, judeus templares – que Jesus é o Messias, o filho do próprio Deus, e crendo tenham vida, eterna, livre, efetiva, por meio Dele.

CONCLUSÃO
“A literatura apocalíptica representa um grito de protesto das aspirações políticas de libertação do povo judeu palestinense” [27]. Observa-se uma situação política, social, religiosa e cultural que direciona a finalidade desse estilo literário revelando, em toda a plenitude, tensões existentes na sociedade e que justifica sua produção. Parece que os escritos apocalípticos, de um modo geral, buscam respaldo em um olhar pessimista quanto a esse mundo, evidencia objetivamente a experiência do sofrimento, por vezes fruto do subjugo oriundo da dominação helênica e romana, desenvolvendo a partir dessa perspectiva uma visão esperançosa da história que se desenrola.
A Bíblia, invariavelmente, não se presta à descrição de eventos. Ela, como produção textual se ocupa do ensino, seu propósito é pedagógico e esta finalidade estende-se às narrativas bíblicas do passado.
A memória coletiva representa o conjunto coletivo de memória partilhada pelos indivíduos e, além disso, ela consiste de memória passada a gerações subseqüentes. Memória é o que uma cultura coletivamente carrega de seu passado, enquanto história envolve uma avaliação crítica do passado. Assim sendo, é expressa por meio de imagens partilhadas que personificam uma elaborada rede de moral social, valores e ideais considerados pelos grupos sociais. As interconexões entre as imagens partilhadas, por sua vez, formam e moldam as estruturas sociais (cadres sociaux)da memória coletiva. [28]

É assim que acessamos o texto de Jo 20.30-31. Nele, mais que reflexo de um grupo expulso do seu ambiente religioso, temos a esperança que, ainda, emerge dos sinais de Jesus. Saindo das sinagogas, transcendendo seus dogmatismos e ortodoxias, as gentes viam a libertação que vem de Deus. Manifestos nos sinais, na sabedoria, no conforto e ânimo de suas palavras, Jesus mostrou ao povo a finitude da estrutura templar, e a infinitude simbolizada pela ressurreição. Os dois versos analisados aqui são o convite para a crença na esperança, na sapiência, nos sinais, mas acima de tudo na libertação definitiva que vem da crença em Jesus, O Messias ressurreto, O Logos Filho de Deus.

Thiago Barbosa




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERGER, Klaus – As Formas Literárias do Novo Testamento – Klaus Berger; trad. Fredericus Antonius Stein. – Belo Horizonte-MG, Loyola, 1998. P. 226-228.

BERGER, Klaus – Hermenêutica do Novo Testamento – Klaus Berger; trad. Nélio Schneider – São Leopoldo: Sinodal, 1999.

CARSON, D.A. – Introdução ao novo Testamento – D. A. Carson, Douglas J. Moo e Leon Morris; trad. Marcio Loureiro Redondo. – São Paulo: Vida nova, 1997.

CERESKO, Anthony R. – A sabedoria no Antigo Testamento: espiritualidade libertadora – Anthony R. Ceresko; trad. Adail Ubirajara Sobral, Marial Stela Gonçalves. – São Paulo: Paulus, 2004.

HALE, Broadus David – Introdução ao estudo do Novo Testamento – Broadus David Hale; trad. Claudio Vital de Souza. – São Paulo: Hagnos, 2001.

KOESTER, Helmut – Introdução ao Novo Testamento, volume 2: história e literatura do cristianismo primitivo – Helmut Koester; trad. Euclides Luiz Calloni. – São Paulo: Paulus, 2005.

kÜMMEL, Werner Georg – Introdução ao Novo Testamento – Werner Georg Kümmel; trad. De 17ª  ed. Inteiramente refundida e aumentada da Introdução ao Novo Testamento por Paulo Feine e Johannes Behn por Isabel Fontes Leal Ferreira e João Paixo Neto. – São Paulo: Edições Paulinas, 1982.

MARSHALL, I. Howard – Teologia do Novo Testamento: diversos testemunhos, um só evangelho – I. Howard Marshall; trad. Marisa K. A. de Siqueira Lopes, Sueli da Silva Saraiva. – São Paulo: Vida Nova, 2007.

PIRES, Anderson Clayton – Esperança e teologia da história apocalíptica judaica – Anderson Clayton Pires. Fragmentos de Cultura, Goiânia, v.14, n.8, agosto 2004. P.1461.

SMITH, Mark S. – O memorial de Deus: história, memória e experiência do divino no Antigo Israel – Mark S. Smith; trad. Luiz Alexandre Solano Rossi. São Paulo: Paulus, 2006.

STEGEMANN, Ekkehard W. – História Social do protocristianismo – Ekkehard W. Stegemann e Wolfgang Stegemann; trad. Nélio Schneider – São Leopoldo, RS: Sinodal; São Paulo, SP: Paulus, 2004.

WEGNER, Uwe – Exegese do Novo Testamento: Manual de metodologia – Uwe Wegner: - São


[1] WEGNER, Uwe – Exegese do Novo Testamento: Manual de metodologia – Uwe Wegner: - São Leopoldo: Sinodal: São Paulo: Paulus, 1998. P. 39-84.
[2] Novum Testamentum Graece, Nestle-Aland 27ª edição; em associação com textos da LXX Septuaginta editada por Alfred Ralhfs.
[3] BERGER, Klaus – As Formas Literárias do Novo Testamento – Klaus Berger; trad. Fredericus Antonius Stein. – Belo Horizonte-MG, Loyola, 1998. P. 226-228.
[4] KOESTER, Helmut – Introdução ao Novo Testamento, volume 2: história e literatura do cristianismo primitivo – Helmut Koester; trad. Euclides Luiz Calloni. – São Paulo: Paulus, 2005. P. 194.
[5] KOESTER, Helmut – Introdução ao Novo Testamento, volume 2: história e literatura do cristianismo primitivo – Helmut Koester; trad. Euclides Luiz Calloni. – São Paulo: Paulus, 2005. P. 201.
[6] kÜMMEL, Werner Georg – Introdução ao Novo Testamento – Werner Georg Kümmel; tradu. Paulo Feine e Johannes Behn. – São Paulo: Edições Paulinas, 1982. P. 263.
[7] kÜMMEL, Werner Georg – Introdução ao Novo Testamento – Werner Georg Kümmel; tradu. Paulo Feine e Johannes Behn. – São Paulo: Edições Paulinas, 1982. P. 270.
[8] CARSON, D.A. – Introdução ao novo Testamento – D. A. Carson, Douglas J. Moo e Leon Morris; trad. Marcio Loureiro Redondo. – São Paulo: Vida nova, 1997. P. 152.
[9] CARSON, D.A. – Introdução ao novo Testamento – D. A. Carson, Douglas J. Moo e Leon Morris; trad. Marcio Loureiro Redondo. – São Paulo: Vida nova, 1997. P. 154.
[10] Uso aqui o termo carnal para enfatizar a clara oposição do discurso a respeito da ressurreição à luz de João e dos discursos gnósticos que, efetivamente, aproximam-se de um Jesus incorpóreo.
[11] CARSON, D.A. – Introdução ao novo Testamento – D. A. Carson, Douglas J. Moo e Leon Morris; trad. Marcio Loureiro Redondo. – São Paulo: Vida nova, 1997. P. 173.
[12] STEGEMANN, Ekkehard W. – História Social do protocristianismo – Ekkehard W. Stegemann e Wolfgang Stegemann; trad. Nélio Schneider – São Leopoldo, RS: Sinodal; São Paulo, SP: Paulus, 2004. P. 260.
[13] Cf. CARSON, D.A. – Introdução ao novo Testamento – D. A. Carson, Douglas J. Moo e Leon Morris; trad. Marcio Loureiro Redondo. – São Paulo: Vida nova, 1997. P. 178-179.
[14] STEGEMANN, Ekkehard W. – História Social do protocristianismo – Ekkehard W. Stegemann e Wolfgang Stegemann; trad. Nélio Schneider – São Leopoldo, RS: Sinodal; São Paulo, SP: Paulus, 2004. P. 259.
[15] STEGEMANN, Ekkehard W. – História Social do protocristianismo – Ekkehard W. Stegemann e Wolfgang Stegemann; trad. Nélio Schneider – São Leopoldo, RS: Sinodal; São Paulo, SP: Paulus, 2004. P. 260.
[16] STEGEMANN, Ekkehard W. – História Social do protocristianismo – Ekkehard W. Stegemann e Wolfgang Stegemann; trad. Nélio Schneider – São Leopoldo, RS: Sinodal; São Paulo, SP: Paulus, 2004. P. 261.
[17] STEGEMANN, Ekkehard W. – História Social do protocristianismo – Ekkehard W. Stegemann e Wolfgang Stegemann; trad. Nélio Schneider – São Leopoldo, RS: Sinodal; São Paulo, SP: Paulus, 2004. P. 264.
[18] STEGEMANN, Ekkehard W. – História Social do protocristianismo – Ekkehard W. Stegemann e Wolfgang Stegemann; trad. Nélio Schneider – São Leopoldo, RS: Sinodal; São Paulo, SP: Paulus, 2004. P. 265.
[19] MARSHALL, I. Howard – Teologia do Novo Testamento: diversos testemunhos, um só evangelho – I. Howard Marshall; trad. Marisa K. A. de Siqueira Lopes, Sueli da Silva Saraiva. – São Paulo: Vida Nova, 2007. P. 446.
[20] CERESKO, Anthony R. – A sabedoria no Antigo Testamento: espiritualidade libertadora – Anthony R. Ceresko; trad. Adail Ubirajara Sobral, Marial Stela Gonçalves. – São Paulo: Paulus, 2004. P. 192-193.
[21] HALE, Broadus David – Introdução ao estudo do Novo Testamento – Broadus David Hale; trad. Claudio Vital de Souza. – São Paulo: Hagnos, 2001. P. 25.
[22] STEGEMANN, Ekkehard W. – História Social do protocristianismo – Ekkehard W. Stegemann e Wolfgang Stegemann; trad. Nélio Schneider – São Leopoldo, RS: Sinodal; São Paulo, SP: Paulus, 2004.
[23] BERGER, Klaus – Hermenêutica do Novo Testamento – Klaus Berger; trad. Nélio Schneider – São Leopoldo: Sinodal, 1999. P. 355.
[24] BERGER, Klaus – Hermenêutica do Novo Testamento – Klaus Berger; trad. Nélio Schneider – São Leopoldo: Sinodal, 1999. P. 355.
[25] Cf, BERGER, Klaus – Hermenêutica do Novo Testamento – Klaus Berger; trad. Nélio Schneider – São Leopoldo: Sinodal, 1999. P. 371.
[26] BERGER, Klaus – Hermenêutica do Novo Testamento – Klaus Berger; trad. Nélio Schneider – São Leopoldo: Sinodal, 1999. P. 367.
[27] PIRES, Anderson Clayton – Esperança e teologia da história apocalíptica judaica – Anderson Clayton Pires. Fragmentos de Cultura, Goiânia, v.14, n.8, agosto 2004. P.1461.
[28] SMITH, Mark S. – O memorial de Deus: história, memória e experiência do divino no Antigo Israel – Mark S. Smith; trad. Luiz Alexandre Solano Rossi. São Paulo: Paulus, 2006. P.185. citando estudos elaborados por Maurice Halbwachs.