A arte de pensar livremente

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Aqui somos pretensiosos escribas. Nesses pergaminhos virtuais jazem o sangue, o suor e as lágrimas dos que se propõem a pensar com autonomia. (TeHILAT HAKeMAH YIRe'aT YHWH) prov 9,10a

sábado, 16 de maio de 2009

CONHECIMENTO > CIÊNCIA (A verdade veio à tona sobre Lamarck)

Jà se imaginou propondo alguma forma de desenvolvimento orgânico ainda no início do século XIX (sempre ele...rs...)?


Algo horripilante, assustador, afinal a hegemonia “teocêntrica” era de uma força “titânica”. A sombra da Inquisição e de nomes como Torquemada ainda rondavam a mente e os corações de “bruxos” de plantão. É nesse contexto que surge Lamarck. Brilhantemente o pioneiro a propor em moldes modernos a evolução e desenvolvimento de organismos “superiores” sem a ação direta e intencional de uma “divindade”.


Apresentaram-me o sr. Lamarck sob uma descrição errônea, e infelizmente bastante comum ainda entre os professores de biologia, como o cientista que tentou mas errou. Tentou propor uma forma de evolução para organismos vivos, mas errou em suas propostas, várias vezes até ridicularizavam as proposições “lamarckistas” como se fosse algo estranhamente absurdo o “dito” nessas idéias até então únicas e inovadoras.


Dois são os princípios que resumem bem o pensamento evolucionista de Lamarck:
1 – Lei do Uso e Desuso – Organismos recebem estímulos oriundos do meio ambiente de forma que seus órgãos se adaptam a esses estímulos e modificam-se. Grosseiramente podemos analisar os bíceps de um jovem que vai à musculação. Ele recebe estímulos junto à musculatura do braço e este órgão se adapta modificando sua forma aumentando de tamanho. Da mesma forma podemos analisar a atrofia muscular característica em cadeirantes. Ao longo de sua vida ocorre uma diminuição da musculatura dos membros inferiores pela falta de estímulo.
Tal fato é facilmente aceitável, porém foi condenado por não ocorrer tais fenômenos (ao menos grosseiramente como os apresentados) em todas as células, como podemos observar na musculatura das pálpebras, cardíaca e outras funções orgânicas.
2 – Heranças de caracteres adquiridos – As características acima citadas ocorrem em células somáticas (formadoras do corpo), e tais caracteres seriam transmitidos para as gerações futuras. Outro ponto criticado já que as características dos organismos só podem ser transmitidas a suas gerações futuras caso estejam inscritas em células germinativas (especializadas em reprodução), o que não ocorre na apresentação “lamarckiana”.


Devemos nos lembrar que os estudos de Gregor Mendel (pai da genética) só foram realizados após o 1860, ficando amplamente difundidos apenas após 1910. Porém a partir de 1980, com o aprofundamento dos estudos genéticos surgem pontos que reformulam e reestruturam os princípios básicos de Lamarck.

Epigenética: além da seqüência do DNA, artigo Eloi S. Garcia


O hábito de fumar, o uso de esteróides e certas drogas também influenciam as funções genéticas por interagir química ou fisicamente com o DNA.

Eloi S. Garcia é pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz e membro da Academia Brasileira de Ciência. Artigo enviado para o “JC e-mail”:Recentes investigações genéticas têm demonstrado que gêmeos idênticos (possuidores do mesmo genoma) apresentam diferenças em seu comportamento e fisiologia. Por exemplo, eles podem diferir na susceptibilidade a doenças degenerativas e infecciosas. Por que isto? Quais são as razões? O genótipo ou o genoma de gêmeos idênticos não é o mesmo? Já o fenótipo – a fisiologia e a função orgânica - é reconhecidamente distinto e diferente. Somos mais que nossos genes. Os genes não são responsáveis por tudo. Uma nova área, a epigenética, está sendo desenvolvida para explicar estas diferenças. O termo epigenética existe há mais de cem anos, mas somente C. H. Waddington em 1942 deu uma definição mais precisa a ele. Epigenética é um campo da biologia que estuda as interações causais entre genes e seus produtos que são responsáveis pela produção do fenótipo. Pesquisas recentes realizadas sobre genomas e proteomas revelam que esta definição está correta. Na tentativa de compreender a complexidade da biologia da vida, os cientistas normalmente estudam elementos individuais do genoma. Seqüências gênicas e proteínas são analisadas para compreender suas interações específicas com outras entidades simples de sistemas mais complexos. Algumas vezes este enfoque oculta aspectos importantes da biologia, principalmente àqueles de dependem de níveis mais altos de organização genética.

Assim, por exemplo, o genoma não possui somente a informação das seqüências das quatro bases A, C, G e T na cadeia do DNA. Não resta dúvida de que esta seqüência é importante em termos dos códons, genes e cromossomos. Mas há informações adicionais no genoma dos mamíferos e estas se referem ao epigenoma.

A epigenética investiga a informação contida no DNA, a qual é transmitida na divisão celular, mas que não constitui parte da seqüência do DNA. Os mecanismos epigenéticos envolvem modificações químicas do próprio DNA, ou modificações das proteínas que estão associadas a ele. Por exemplo, nas histonas que se ligam e compactam a cadeia do DNA formando a cromatina, o material básico dos cromossomos. Ou nas proteínas nucleares e nos fatores de transcrição, moléculas que interagem e regulam a função do DNA. As modificações epigenéticas envolvem a ligação de um grupo metil (-CH3) a base citosina do DNA, particularmente aquela que vem antes da guanina; ligação de grupo acetil (CH3CO-) ao aminoácido lisina no final de duas histonas; remodelagem de outras proteínas associadas à cromatina; e transposição de certas seqüências da fita de DNA causando mudanças súbitas na maneira que a informação genética é processada na célula. Cada uma destas modificações age como um sinal de regulação e modificação na expressão gênica. O hábito de fumar, o uso de esteróides e certas drogas também influenciam as funções genéticas por interagir química ou fisicamente com o DNA.

O estilo de vida e exposição ambiental geralmente é diferente entre as pessoas por mais próximas que sejam. A metilação do DNA e a modificação nas histonas se distribuem pelo genoma e são mais distintas quando os gêmeos idênticos envelhecem e têm diferentes modos de vida. Isto leva aos fatores ambientais serem responsáveis por mudanças em um mesmo genótipo para diferentes fenótipos.

Existem enzimas que removem os grupos metilas das histonas modificando-as de tal modo que podem induzir a repressão de genes. Estas diferenças epigenéticas também levam a diferente susceptibilidade a doenças como o câncer, artrites, depressão de desordens psíquicas e emocionais. Hoje se sabe que enquanto o genoma é o mesmo em nossas células, o epigenoma é diferente em cada uma dos 250 tipos de células diferentes que formam o ser humano.

Ou seja, ressucitamos pensamentos dos princípios “lamarckistas” já que o ambiente pode influenciar na estruturação e desenvolvimento dos órgãos, bem como na codificação gênica dos organismos.

Edgar Morin deve estar feliz ao observar como o pensamento complexo conecta a diversidade dos estudos e dos saberes permitindo que o conhecimento seja soberano sobre a ciência. Aliás, dois conceitos que se relacionam, mas apresentam uma hierarquia que deve ser muitíssimo respeitada. CONHECIMENTO > CIÊNCIA.


Com saudades do objetivismo científico, mas apaixonado pela subjetividade das metáforas teológicas.

Thiago Barbosa

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