A arte de pensar livremente

A arte de pensar livremente
Aqui somos pretensiosos escribas. Nesses pergaminhos virtuais jazem o sangue, o suor e as lágrimas dos que se propõem a pensar com autonomia. (TeHILAT HAKeMAH YIRe'aT YHWH) prov 9,10a

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Aprendendo com o pai de Leonardo Boff

Devíamos todos aprender um pouco mais com o pai de Leonardo Boff.




Marina Amara
l - Você teve educação religiosa formal. Como era a parte formal de ir à missa, essa relação que as crianças têm com a religião católica, essa imagem de que Deus está espiando tudo o que você está fazendo, que vai te castigar, como era isso pra você?



Leonardo Boff
- Olha, primeiro que não havia missa. Havia uma missa a cada três meses mais ou menos, porque o padre circulava, vinha a cavalo, mas todo domingo tinha o rosário, com as ladainhas italianas, as orações todas em latim, e meu pai ajudava nessas coisas. Ele era extremamente libertário e gerou na família todo esse espírito. Por exemplo, ele dizia: "Deus inventou os padres, o sacerdócio. O diabo inventou o clero. O clero tem de ser enforcado com a tripa do último padre, porque a desgraça é o clero na Igreja". (risos) Então, ele já nos ensinava essas coisas desde pequeninos. Eu fui para o seminário dizendo: "Olha, o clero tem de ser enforcado". (risos) Quase me mandam de volta! Uma frase que sempre guardo dele é: "A Igreja Católica vive daquilo que Jesus não quis". Isto é, poder, instituição, aparato, e dizia: "A referência nossa tem de ser a Bíblia, porque ela é a palavra de Jesus, lá você não vê poder, não vê nada disso". E ele tinha na biblioteca dois autores proibidos: A Origem das Espécies, de Darwin, e os romances de Dumas, que eram todos proibidos, estavam no index. Uma vez fui para o seminário com aqueles livros, quase fui excomungado, porque quem lia se auto-excomungava. Então cheguei com dois livros de Alexandre Dumas, e eles: "Como? Você, com 15 anos, está excomungado". Fizeram uma delegação de três padres pra visitar meu pai, pra ele entregar ou queimar os livros. Ele disse: "Absolutamente, eu queimo vocês, mas não os livros". (risos)



Frei Betto - Diga do epitáfio que está no túmulo dele.



Leonardo Boff - Colocamos no epitáfio dele: "De sua boca ouvimos, de sua vida aprendemos, quem não vive para servir não serve para viver".



Leo Gilson Ribeiro - Ele tinha algum santo de devoção, por exemplo, São Francisco de Assis?



Leonardo Boff - Não. Ele não venerava nenhum santo, porque dizia: "Quem conhece Deus não venera os santos, porque vai logo no Supremo". Ele gostava de São Francisco, mas não como interlocução, nisso ele era bastante protestante, eu diria.




Sim são palavras de sabedoria, de libertação, bem se vê que somos o que recebemos, por genética e por aprendizado...
Sejamos assim, próximos ao criador, com livres-acessos; sejamos curiosos, mesmo quanto ao index que nos é imposto; sejamos servos e finalmente vivos...

Thiago Barbosa

Gaia X Hominídeos - relações e divindades oriundos do Haiti

Mais uma tragédia oriunda do volver da deusa soberana “Gaia”, e, novamente, mais um burburinho sobre as ações de Deus ou o diabo nas insignificantes vidas humanas. A divindade, ou a necessidade dela, sempre acompanhou-nos como humanidade em eterna transição. Pedras, árvores, astros, animais e nós mesmos sempre nos mostramos e fomos instituídos como deuses aos menos favorecidos. Dessa forma os poderes instituíram-se, dessa forma a força foi aplicou, dessa forma fomos feitos diferentes, assim criou-se a diferente gama de aparições em que homens, nos mais diversos grupos, se emolduram e formam castas de poder sob a palavra ritualística do sacerdote.


Saímos da simplicidade dos coletores e das divindades instituídas pela natureza e controlamos nossa comida. Abandonar a coleta e aprimorar modos de produção do alimento levou-nos a aprimorar as divindades que nos cercavam. Esses divinos seres agora tinham nomes, histórias, parentescos, relações de poder que davam força às nossas próprias relações de poder. Mas Gaia sempre foi soberana.


Dias atrás vivenciamos novamente as forças insondáveis, imensuráveis, incontroláveis de Gaia, precisamente o Haiti esteve em seu caminho de fúria. Mas a deusa foi maldosa, intocável, não havia sacrifício que pudesse ser feito. Gaia é organismo vivo, voraz, nós somos nada, pó, cinza, farelo, ápice da insignificância aos pés de Gaia, e não há sacrifícios que a controlem, ao menos não por completo, afinal, somente o sacrifício de nosso clã humano, por completo, daria a possibilidade de que Gaia fosse deusa soberana, e, mesmo assim, Gaia ainda teria seus rompantes de mal humor repentinos.


Gaia é a personificação de “o antigo poder matriarcal” das antigas culturas Indo-Européias. É a “Grande Mãe” que dá e tira, que nutre e depois devora os próprios filhos após sua morte. É a força elementar que dá sustento e possibilita a ordem do mundo. Nos mitos gregos, os conflitos entre Gaia e as divindades masculinas representam a ascensão do poder patriarcal e da sociedade grega sobre os povos pré-existentes.


Lembro-me da frase, mas foge-me o autor, ponho assim mesmo, espero que sem perseguições por direitos autorais (risos). “Antes eu te conhecia só de ouvir falar, agora, meus olhos te contemplam e tenho pena do barro humano.”


A Terra é um planeta ativo, borbulhando em suas entranhas, com uma crosta formada de placas que tendem a mudar de posição em busca de um maior equilíbrio quando a pressão subterrânea aumenta. Obviamente, fazem isso sem dar a menor importância para a destruição que causam. Cataclismos naturais, como o do Haiti ou o tsunami de 2004 no oceano Índico, que causou em torno de 230 mil mortes, expõe a crua realidade da vida na Terra: precisamos da natureza, mas a natureza não precisa de nós. No nosso desespero, e sem poder prever quando cataclismos dessa natureza irão ocorrer, atribuímos tais eventos a "atos divinos". Nisso, não somos muito diferentes de nossos antepassados, que associavam divindades a quase todos os aspectos e fenômenos do mundo natural.

Talvez a transição do panteísmo ao monoteísmo, sobretudo no ocidente, tenha removido Deus do contato mais direto com os homens, relegando-o a uma presença etérea, distante da realidade do dia-a-dia. Mas muitos continuam atribuindo o que não entendem a "atos divinos", seguindo a receita tradicional do "deus das lacunas": a fé começa onde a ciência termina.

Talvez faça mais sentido associar esses cataclismos a uma indiferença divina. É horripilante testemunhar a crueldade -e até mesmo a estupidez- de certos homens de fé nesses momentos difíceis. Um exemplo é do pastor evangélico americano Pat Robertson, que recentemente atribuiu o terremoto a uma punição divina contra o povo haitiano, que supostamente assinara um pacto com o diabo para conseguir obter sua independência dos franceses. Nossos antepassados nas cavernas teriam concordado.

Dentro do contexto desta coluna, a tragédia provocada pelo tremor no Haiti nos ensina ao menos duas coisas. Primeiro, que a ciência tem limites, e que existe muito sobre o mundo que ainda não sabemos. Porém, não é por isso que devemos atribuir o que não sabemos explicar a atos sobrenaturais. Nossa ignorância deve abrir caminho ao conhecimento e não à superstição. Segundo, aprendemos que a vida -e aqui estamos nos incluindo- é extremamente frágil e deve ser protegida a todo custo. Nosso planeta, apesar de demonstrar fúria ocasionalmente, é nossa única morada viável. Devemos tratá-lo com o respeito que merece.

http://marcelogleiser.blogspot.com/2010/01/ciencia-religiao-e-o-haiti.html

Nossos deuses tornaram-se assassinos (vindos dos discursos de seus criadores); bocas, dentes, garras e, principalmente palavras, que dilaceram e buscam carne humana que possa tragar. As igrejas se refugiam na carnificina, “quem me dera de Sião viesse o livramento de Israel” (Sl 53,6a). Mas dos lugares de esperança não vem nada, afinal nossos deuses são tão maus quanto nós mesmos.

Que possamos esquecer as superstições, deuses e demônios serão sobrepujados por nosso relacionamento aos que necessitam. Assim, olhando nos olhos do povo que clama, seremos enfim o livramento do povo; seremos deuses, pois, afinal, Deus terá habitação em nosso intimo (ao menos o Deus do Cristo Galileu, amoroso e preocupado ),quiçá de uma vez por todas.

Thiago Barbosa

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Que venham os feiticeiros...

Por vezes a luta por autonomia é vista e dita como rebeldia. Para os rebeldes jaz a alcunha, dada pelos cristãos, de feitiçaria ...

1Sm 15:23
"Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e a obstinação é como a idolatria e culto a ídolos do lar. Visto que rejeitaste a palavra do SENHOR, ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei".

Eis a rebeldia na mais tenra idade, pena que os protestantes, duplamente rebeldes e, portanto, duplamente feiticeiros (vide a reforma de Cristo e a reforma luterana) hoje repudiam os gestos e rompantes contra os que buscam a autonomia, liberdade, sonho. Ei-la, pequena feiticeira, e muitíssimo obrigada, afinal, se podemos ser “subversivos” nas linhas despretensiosas desse Blog, muito se deve a seus braços cruzados, cerrados, rebeldes, que em atos lidera a imagem e liberta os gritos dos desaparecidos.

Em breve pretendo pensar em autonomia... Mas, hoje sonho com ela, e o sonho me basta, ao menos por enquanto.

PS. “...negou um aperto de mão ao general Figueiredo, em foto célebre de Guinaldo Nikolaevscky. A foto simboliza o início da abertura política no Brasil”.

Thiago Barbosa

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Música, teologia e pensamento livre: Heresia ou liberdade de expressão?


"Cantiones profanæ cantoribus et choriscantandæ comitantibus instrumentis atque imaginibus magicis"
(Carl Orff)


Manuscritos no Mosteiro

Carmina Burana é uma cantata cênica de poesias latinas medievais, pretendida para ser representada e dançada, posta sobre textos em baixo latim e baixo alemão, os quais foram extraídos de uma colocação de duzentas peças poéticas diversas compiladas pelo final do século XIII.

A palavra Carmina é o plural de Carmen (em português, Canção). O título inteiro significa literalmente: Canções dos Beurens; esta última palavra se refere ao fato de que os textos escolhidos para esta cantata secular foram descobertos em 1803 em um velho mosteiro beneditino da Baviera, em Benediktbeuren, no sudoeste da Alemanha.

Esta cantata é emoldurada por um símbolo da Antigüidade, o conceito da Roda da Fortuna, eternamente girando, trazendo alternadamente boa e má sorte. É uma parábola da vida humana exposta a constante mudança. E assim o apelo em coral à Deusa da Fortuna (O Fortuna, Velut Luna) tanto introduz quanto conclui a obra, que se divide em três seções: o encontro do Homem com a Natureza, particularmente com a Natureza despertando na primavera (Veris eta facies). Seu encontro com os dons da Natureza, culminando com o dom do vinho (In taberna); e seu encontro com o Amor (Amor volat undique).

A maioria dos mais de duzentos poemas sacros e seculares remonta ao século XIII e foi escrita por um grupo profano de errantes chamados Goliardos. Estes monges e menestréis desgarrados passavam o seu tempo deliciando-se com os prazeres da carne e os poemas que eles deixaram, faziam a crônica de suas obsessões por vezes ao ponto da obscenidade.

Este manuscrito abrange todos os gêneros, de versificação erudita à paródias de textos sacros, incluindo canções de amor e melodias irreverentes e até grosseiras. O fato de que o texto original destes Poemas de Benediktbeuren seja executada hoje em dia com tão extraordinário sucesso artístico, permite ao ouvinte discernir ainda melhor as intenções de Orff onde sua música não se expressa claramente.

Como uma antologia, Carmina Burana apresenta tudo o que o mundo cristão entre os séculos XI e XII fora capaz de exprimir. Aquela época não foi secionada como a nossa, nem inibida pelos nossos tabus. Assim, os autores anônimos dessas saturnálias escritas não temiam espalhar a chama incandescida pelo contato inesperado de uma melodia litúrgica e uma blasfêmia, mais precisamente um priapismo verbal, ou inversamente de uma nova melodia profana e uma profissão de fé.

Neste sentido, a coleção original restaura para nós, todo um cosmo onde o Bem não existe sem o Mal, o sacro sem o profano e a fé sem maldições e dúvidas: a oscilação onde se encontra a grandeza da Humanidade.

A dialética freudiana foi necessária para a redescoberta deste humanismo medieval até então considerada bárbara e cruel; uma vitalidade que permitiu ao homem sobreviver ao sofrimento da guerra, o mundo infestado pela praga em que ele era submetido à injustiça, à instabilidade, e mantido na ignorância de tudo que não fosse santificado pelo dogma. Sabemos que insultos dirigidos contra a autoridade, palavras ofensivas e blasfêmias que temperavam de maneira acre a expressão dessa energia vital eram herdadas do mundo antigo e chegaram ao começo do renascimento na tradição dos Carnavais e Triunfos que Lorenzo de Medicis e Rabelais ilustrariam, cada qual por sua vez.

Esta genealogia espiritual era tão familiar a Orff que ele concebeu Carmina Burana como apenas o primeiro elemento de uma trilogia intitulada Trionfi-Trittico Teatrale, que incluiria Catulli Carmina (1943) e Trionfi dell'Afrodite (1952), uma obra que revelou a significação do todo: só o Desejo e o Amor podem capacitar o Homem a viver, lutar e crer.

A primeira apresentação de Carmina Burana foi na Ópera de Frankfurt em Junho de 1937. Causou uma grande impressão sobre o público, e a aclamação mundial que recebeu a partir daí prova que não perdeu nada do seu efeito hipnótico.

A trilogia Carmina Burana é obra coral de exuberante alegria e fortes acentos eróticos; a obra, inicialmente destinada para representação como ópera, venceu, porém, nas salas de concerto. A música é deliberadamente anti-romântica. É uma música inteiramente original, quase sem harmonia, baseada só em elementar forma rítmica, acompanhada por orquestra inédita: principalmente instrumentos de percussão e vários pianos.

O manuscrito original inclui poucas melodias anotadas que Carl Orff levou em consideração, mas não citou diretamente, ampliando apenas sua atmosfera particular com instrumentos ancestrais que usou em seu Método, aqueles mais exigidos pela música contemporânea: uns poucos instrumentos de sopro, sem violinos, mas uma ampla família de percussão.

Não há contradição entre a obra do compositor e seu Método: ambos falam ao mesmo irredutível descendente dos homens das cavernas, que aparentemente estão tão pouco à vontade hoje em dia em seu universo de ar condicionado.



O Fortuna



Ó fortuna
variável
como a lua
cresces sempre
ou diminuis,
detestável vida!
hoje maltratas
amanhã lisonjeias
brincas com os nossos sentidos
a miséria
o poder
fundem como gelo em ti.
Destino cruel
e vão
roda que giras
a tua natureza é perversa
a tua felicidade vã
sempre a dissipar-se
pela sombra
e em segredo
aproximas-te de mim
apresento o meu dorso nu
ao jogo da tua
perversidade.
Felicidade
e virtude
são-me agora contrárias;
afeções
e derrotas
estão sempre presentes.
Nesta hora sem demora
pulsai as cordas
pois que o bravo,
derrubado
pelo destino
chorai todos comigo




quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

COMUNHÃO COM DEUS: MUDANDO A MORADA DO PAI

Pensar em comunhão com Deus é, no mínimo, abrir-se para novas experiências para com Deus e para com a própria humanidade. Existe sempre em meu íntimo um profundo receio ao abordar assuntos que demonstram a real necessidade de uma relação com Deus. O medo se dá por ter a consciência de que é impossível estabelecer fórmulas para se tornar “comum” com e/para Deus. Ter comunhão com Deus é saber onde se inicia a estrada, ter a certeza da urgência de nosso primeiro passo nessa estrada, mas nunca visualizar o restante da estrada, um passo de cada vez, dia após dia. Felicidade e competência ao texto encontrado nos “Documentos Batistas”, afinal, nem a maioria nem a minoria nem a unanimidade refletem, necessariamente, a vontade de Deus.

A necessidade de se ter comunhão com Deus é tema orientador da apresentação relatada em 1João 1.1-4; onde a idéia central é a comunhão, não apenas entre autor e leitor, mas de forma igual tal comunhão se dá com Deus (o Pai) e Jesus Cristo (o Filho). Claro, idéias gregas sempre permeiam a nossa leitura dos textos do Novo Testamento (Segundo Testamento), mas o que buscava dizer o autor? Devemos lembrar da origem semítica de João, de sua relação e convivência com a revolução reformadora que foram os discursos e atitudes de Jesus Cristo para com a religião judaica. João aborda a comunhão com outros olhos, agora seus olhos vêem Deus com uma proximidade estarrecedora, não há mais a distância imposta pelos ritos do judaísmo antigo. Pena termos perdido, ao menos nos discursos que monopolizam a mídia a relação de proximidade com Deus, agora voltaram à tona os discursos dos antigos sacerdotes judaítas.

A voz do sacerdote no judaísmo antigo é aquele que sistematiza e centraliza a relação de culto do povo com Deus à seu templo, principalmente em Jerusalém. Os sacrifícios, que outrora foram símbolo da relação próxima entre os patriarcas bíblicos e Deus, agora estão desfeitos, só há sacrifício no templo e, mesmo assim, mediante a ação sacerdotal. O clímax pode ser apontado quando até mesmo a possibilidade de se recitar o nome de Deus (YHWH) torna-se uma insolência digna de maldição deste Deus sacerdotal. Deus está agora refém do templo e de seus mantenedores (Êxodo 20.7).

Jesus Cristo, porém, é a reforma do judaísmo, a perfeição no que diz respeito à relação Deus-Homem. Deus, agora na boca e na ação de Jesus é grande demais para um templo, Deus assume enfim uma forma imensurável, gigantesca, finalmente Deus é onipotente, onipresente e onisciente. A ação de Deus por intermédio de Jesus rompe todas as estruturas aprisionadoras do templo e nos torna filhos, nos aproxima de Deus. Com Cristo, a comunhão se dá em nosso amor incondicional a Deus, mas de igual forma se dá em nosso amor incondicional ao nosso irmão. Ter comunhão com Deus é saber que Ele (Deus) se abriga não mais no templo judeu, mas o coração e a alma do seu próximo (Marcos 12.28-34), Nossa comunhão com Deus é sermos estrutura de sustento ao nosso próximo, é finalmente vermos Deus abrigado nos olhos do necessitado e nos condoermos com ele, sermos unidos a ele pela relação de proximidade com Deus. O Deus de Jesus Cristo, do autor da primeira epístola de João e o nosso Deus é o Aba (Marcos 14.36), um adjetivo de tanta intimidade que nos remete ao interior das casas, das famílias, do nosso próprio sentimento para conosco e para com o nosso próximo.

Finalmente, entender Deus Comum a nós é ter a consciência de que Deus é grande demais para ser confinado em templos, porém, em contraposição, intimo ao extremo para ser encontrado em nossos quartos, de portas fechadas (Mateus 6.6), lá, no secreto de nossas almas, onde descansam os medos, receios e angústias, temos a certeza de encontrar Deus liberto dos sacerdotes e próximo, muito próximo dos nossos corações.

Thiago Barbosa e Silva