A arte de pensar livremente

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Aqui somos pretensiosos escribas. Nesses pergaminhos virtuais jazem o sangue, o suor e as lágrimas dos que se propõem a pensar com autonomia. (TeHILAT HAKeMAH YIRe'aT YHWH) prov 9,10a

quinta-feira, 14 de maio de 2009

O problema do Jesus histórico...

O título desse post é o mesmo de uma conferência de outubro de 1953 pronunciado por Ernst Käsemann, onde se reconhecia uma mudança de situação: “Nossa situação se caracteriza-se, pois, pelo fato de que o problema tipicamente liberal do Jesus histórico adquire um novo peso teológico.” (Das Problm des historischen Jesus, tomo 1, PP. 189)

Em minha leitura atrasada do livro “Teologia do Séc XX” de Gibellini, deparei-me com a Teologia Existencial de Rudolf Bultmann e o uso de dois termos para o Jesus histórico e o Cristo da Bíblia: Historie e Geschichte. “Historie é a história no sentido do que aconteceu no passado, podendo ser objeto de reconstrução historiográfica. Geschichte é a história no sentido de acontecimento do passado ainda relevante para o presente significativo para o futuro.” (Teologia do Séc XX, pp. 47).

Uma nova percepção quanto à pessoa de Jesus passou a tomar forma em minha mente. Lembro-me de quando conversei com o Sem. Manoel Domingues sobre a minha vontade de estudar a fundo o Jesus histórico: o Jesus desvencilhado em grande parte do discurso eclesiástico, e presente nos Evangelho Sinódicos. Até que durante as aulas de Teologia e Método, juntamente com a leitura do livro de Gibellini, fui imperceptivelmente inserido no contexto teológico que procurava.

Como não poderia ser diferente, a esquizofrenia também se faz presente no estudo da pessoa de Jesus: “O Jesus histórico (historisch) é Jesus de Nazaré, o Jesus da história, terreno, Jesus ‘como ele realmente foi’ e que pode eventualmente ser objeto de pesquisa historiográfica. O Cristo histórico (genchichtlich) é o Cristo da história bíblica, o Cristo do Novo Testamento, que narra e interpreta a história de Jesus sob o ponto de vista de sua relevância para a fé, o Cristo do querigma que torna presente a salvação, aqui e agora, para mim.” (Teologia do Séc XX, pp. 47)

O confronto entre o Jesus histórico e o querigma cristológico irá permear a maioria dos escritos de Bultmann. Minha atenção se voltou para esse debate, após perceber que ao se realizar a pesquisa histórico-crítica, o historiador somente atingirá, no Novo Testamento, o querigma da Igreja Primitiva, e não o Jesus terreno, o Jesus histórico, já que “a comunidade não podia e não queria separar essa história (Historie) de sua própria história (Geschchte). Ela não podia nem queria, pois, fazer abstração de sua fé pascal, estabelecendo uma distinção entre o Senhor terreno e o Senhor glorificado.” (E. Käsemann, Das problm des historichen Jesus, PP. 203)

É impressionante a leitura das palavras de Bultmann: “Jesus nunca foi ‘cristão’, e sim judeu, e sua pregação move-se no âmbito das idéias e no mundo conceptual do judaísmo, mesmo lá onde essa mesma pregação encontra-se em contraste com a religião hebraica.”. Tal afirmação me induzirá a concordar um trecho da página 51 do livro que cito nesse post: “O querigma do Cristo é querigma cristológico, ao contrário do anuncio de Jesus, que não podia sê-lo, porque Jesus não anuncia a si mesmo, e sim ao Reino de Deus que está chegando.”

Concluo que todas essas observações produziram uma nova perspectiva no âmbito de meu estudo teológico, e sucessivamente, na esfera da espiritualidade. Entender que o Jesus presente nos evangelhos sinódicos não é cristão, e sim judeu, anunciando o Pai, não ele mesmo; que o cristianismo surgiu com o Evangelho de João, com o apóstolo Paulo e com as primeiras comunidades cristãs, ao se apropriarem do discurso de Cristo para promovê-lo causa estranheza. Contudo, não deixa de ser um fato.

Termino com uma pergunta dirigida a Bultmann, que se este estivesse vivo, eu mesmo me esforçaria em fazê-la pessoalmente: “É possível determinar até que ponto há convergência entre o Jesus histórico e o querigma protocristão, de maneira que, em vez de suprmir a diferença entre ambos, ela se torne significativa para a finalidade de um esclarecimento de uma oude outra?” (G. Ebeling, Teologia e anuncio, pp. 41-42)

Alan Buchard

3 comentários:

  1. No assunto da não existência do Jesus histórico, além da argumentação disponível na Internet, evidentemente frutificada de laboriosas pesquisas, existia uma pergunta para a qual eu não encontrava resposta: por quê? Tudo tem a sua razão de ser, principalmente a instituição de uma nova cultura religiosa do vulto do cristianismo. Seria possível que o fundador desta crença jamais tivesse existido? Seria sim. Entretanto, para mim, faltava explorar o problema pelo seu lado mais inequívoco e digno de uma acurada apreciação ─ a necessidade de tal concepção. O jeito foi pesquisar. Investi alguns anos na dedicação dessa tarefa. Minha curiosidade aguçou-se por não encontrar livro algum voltado a esclarecer assunto tão relevante do ponto de vista histórico. A versão da História Universal me parecia um esparadrapo sobre uma antiga ferida. Destoava da cor e da natureza do tecido daquilo que nos é apresentado como História. O resumo dessa minha pesquisa está publicado na Internet, como um e-book, no site http://www.ebooksbrasil.org/ Clique em “Entrar” e depois em “Nacionais”. O título é: Jesus Cristo – um presente de gregos, de Ivani de Araujo Medina. Minha tese oferece outra versão da história do cristianismo e é apresentada de forma simples para o leitor comum. Assim sendo, você terá a oportunidade de conhecer uma dissertação que escapa da forma usual de como o assunto é tradado. Será um prazer trocar idéias a respeito. Abraço.

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  2. ¿Jesús Histórico?

    El uso de éste oxímoron demuestra una dependencia de fuentes helenistas anti judías del cuarto siglo. James Parkes, un historiador eminente de Oxford, también demostró esto en su libro, The Conflict of the Church and the Synagogue.

    Aunque eruditos discutan la procedencia de los relatos originales sobre los cuales las versiones helenistas romanas y anti judías se basan, no hay ni un fragmento (fragmentos encontrados son pos-135 EC), ni una letra del NT que provenga DIRECTAMENTE de judíos fariseos, seguidores de Ribi Yehoshua, del primer siglo.

    Historiadores como Parkes, han demostrado indiscutiblemente que el cristianismo romano del cuarto siglo fue la antítesis del judaísmo del primer siglo. Es decir, el cristianismo romano del cuarto siglo fue lo opuesto al judaísmo de todo ribi fariseo. Los primeros cristianos eran extremadamente anti tora. Por lo cual, declaraban desplazar y reemplazar la tora, judaísmo, Israel y judíos. Claramente, el cristianismo original fue anti tora desde su incepción mientras que los manuscritos del mar muerto (ver 4Q MMT) y documentación judaica demuestran que todos los fariseos del primer siglo eran pro-tora.

    Hay una cantidad enorme de información histórica que cristianos rechazan contemplar. Lo puede ver en www.netzarim.co.il.

    (Vea el History Museum comenzando con "30-99 C.E." )

    El cristianismo original = anti-torah. Ribi Yehoshua y sus netzarim, eran pro-torah como todos los fariseos. Esto es una contradicción intratable.

    Veamos, se fabrico una imagen romana a raíz de relatos helenistas décadas después de la muerte del fariseo del primer siglo y después del desbanco de sus seguidores originales judíos (135 EC, documentado por Eusebio) por romanos helenistas no judíos. Estos relatos son basados en los escritos de un judío helenista que fue extirpado como apostata (135 EC, documentado por Eusebio) por los mismos seguidores originales judíos del fariseo del primer siglo. Creer en esta imagen es razonamiento circular.

    Las enseñanzas del ribi fariseo histórico no se encuentran en los relatos y rumores pos-135 EC de los romanos helenistas sino en descripciones judaicas de fariseos y ribis fariseos del primer siglo….. en el manuscrito del mar muerto 4Q MMT (véase a profesor Elisha Qimron), entre otras cosas.

    A todos los cristianos: La pregunta es, ahora que le han informado, ¿usted seguirá al fariseo histórico auténtico Ribi? ¿O continuara siguiendo una antítesis redactada por romanos- un ídolo?

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  3. Bruno Bauer (1809-1882), filósofo, teólogo e historiador alemão, licenciado em teologia lecionava na universidade de Bonn. Por ser um investigador minucioso e um estudioso intelectualmente honesto, depois de investigar as fontes do Novo Testamento chegou à conclusão de que este livro era mais grego do que judeu e que Jesus Cristo era um mito criado no segundo século. Por causa disso perdeu o emprego de professor. O emérito historiador e professor da Sorbonne, Henri Irénèe Marrou (1904-1977), aconselhou aos futuros historiadores: “O historiador não avança sozinho ao encontro do passado. Aborda-o como representante do seu grupo.” Evidentemente, digo que ele “aconselhou” como um eufemismo, porque desde o quarto século da nossa Era a versão religiosa daquilo que se tornaria a história universal tornou-se obrigatória. A razão disso é que o cristianismo nunca foi uma simples religião, como se imagina. O cristianismo já nasceu como uma cultura religiosa. Uma religião como a umbanda, por exemplo, nunca deteve o poder civil, o cristianismo já. Tecnicamente o cristianismo se chama a nova cultura, surgiu como um antídoto ao judaísmo e um divisor de águas à cultura do mundo antigo. A preocupação número um de uma cultura que se impõe é a educação e conseqüentemente com o ensino. Todos os historiadores conhecidos são apaixonados cristãos, especialmente àqueles que se dedicaram à história da educação. A história tem o papel primordial na preservação do cristianismo e da filosofia que o sustenta. Toda documentação histórica encontra-se desde o quarto século sob a guarda da nova cultura que fez dela o que bem quis. Depois de dois mil anos, é inconcebível que nada além de Tácito, Plínio o Jovem, Suetônio e Flávio Josefo (reconhecidamente adulterado) puderam ser apresentados? O Talmude é uma obra tardia cuja preocupação era falar mal de Jesus para proteger o judeu menos culto da propaganda cristã. Não existe nada a respeito de Jesus nem sobre o chamado cristianismo judeu fora da história cristã. A defesa do Jesus histórico é na verdade o prosseguimento a um favorecimento ideológico. Como não existem argumentos históricos, argumentos os filosóficos sobram no meio acadêmico confundindo os inexperientes. Não são os historiadores engajados que dão historicidade a personagem algum, sim as evidências da sua passagem por esse mundo. Bruno Bauer era só uma andorinha, mas o verão é certo.

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