A arte de pensar livremente

A arte de pensar livremente
Aqui somos pretensiosos escribas. Nesses pergaminhos virtuais jazem o sangue, o suor e as lágrimas dos que se propõem a pensar com autonomia. (TeHILAT HAKeMAH YIRe'aT YHWH) prov 9,10a

quinta-feira, 18 de junho de 2009

EU e o abismo - metáfora da queda...

Voltando da Uruguaiana com Allan discutíamos sobre a postura de alguém que se propõe a admitir a veracidade dos românticos. Suas agruras frente a um mundo ontológico, suas linhas epistemológicas e a receptividade, ou falta dela, no contato com a fé professada.

Uma verdade emanou de nossas divagações, só existe a possibilidade da “queda”. Sobre o conceito, tento explanar agora.

Queda por sentir que, quando apoiados apenas na família, inevitavelmente a perderemos. Primeira queda.

Queda por sentir o gélido ar na fronte ao pensar seriamente teologia, segunda queda.

Queda por esperar o calor dos afagos da pessoa amada e esta, quando sente sua ontologia dogmática ameaçada lhe responde ríspida e secamente. Terceira queda.

Queda por apostar nos amigos, e o mundo adulto furta as amizades, permite as relações vazias e incompletas. Quarta queda.

Queda por depositar esperanças em uma igreja medieval, e ela se mostrar ineficaz, incoerente, prepotente, vil, vazia, infantil e imutável. Quinta queda.

Pensar teologia do século XXI é perder totalmente os alicerces que já sustentaram sua vida, e notar que a única resistência antes do fim do abismo é o calor que dilacera e emana sob gotas sanguíneas dos dedos relutantes em permitir a queda do homem ao fundo do abismo. Assim, é meu pensamento, dor, angústia, sofrimento e esperança. Mas ainda há um medo, no fundo do poço, sob os gritos do homem sombrio, há um monstro que atende por super-homem. Serei eu? Prepotência. A proposta é desvendar o enigma, ao menos em tese, durante o que ainda me resta de vida.

Thiago Barbosa

Um comentário:

  1. “Através de meus graves erros — que um dia eu talvez os possa mencionar sem me vangloriar deles — é que cheguei a poder amar. Até esta glorificação: eu amo o Nada. A consciência de minha permanente queda me leva ao amor do Nada. E desta queda é que começo a fazer minha vida. Com pedras ruins levanto o horror, e com horror eu amo. Não sei o que fazer de mim, já nascida, senão isto: Tu, Deus, que eu amo como quem cai no nada.”

    (Clarice Linspector)

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