A arte de pensar livremente

A arte de pensar livremente
Aqui somos pretensiosos escribas. Nesses pergaminhos virtuais jazem o sangue, o suor e as lágrimas dos que se propõem a pensar com autonomia. (TeHILAT HAKeMAH YIRe'aT YHWH) prov 9,10a

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Como assim esquecer a teologia em um curso de teologia?

Podem-se classificar as Teologias, todas, sob o critério de sua autocompreensão metodológico-estatutária, em três modelos: teologia como ontologia, teologia como metáfora e teologia como fenomenologia.

A mais velha de todas é a primeira – teologia como ontologia. Desde sempre, e ainda hoje, pretendia-se porta-voz da verdade metafísica. Pode-se acentuar qualquer das palavras. Porta-voz da verdade metafísica, no sentido de que se colocava, e coloca, ainda, como expressão única e válida. Porta-voz da verdade metafísica, no sentido de que, fora de sua boca, ouvem-se apenas falseamentos. Porta-voz da verdade metafísica, no sentido de que a verdade, “ideológica”, está lá fora, não apenas num idealismo imaterial, mas no mundo sobrenatural do sagrado. Porta-voz da verdade metafísica, no sentido de que a verdade metafísica fala tão somente por meio dela.

A Teologia como metáfora até se entende como autorizada a denunciar o anacronismo da metafísica, e denunciar a politização dela – e cai no mesmo erro que pretende denunciar. Porque ela é igualmente política, e apenas não abandona os termos da Teologia “clássica”, porque emerge dela, e pretende suceder-lhe. É continuísmo disfarçado em superação epistemológica. Mas, a meu ver, não a supera epistemologicamente, porque apenas coopta elementos esparsos da epistemologia romântica, mas até onde quer e lhe interessa.

Finalmente, a Teologia como fenomenologia, bastante rara, corre o risco de perder o direito de chamar-se a si mesma de Teologia. Ocorre que seu fundamento epistemológico pretende ser coerente com os desdobramentos filosófico-culturais do pós-kantismo, naquele trilho que se pode traçar desde o primeiro Kant, o da Crítica da Razão Pura, sem o contágio do segundo Kant, o da Prática, mas passando pelo Romantismo alemão, por Schopenhauer, por Feuerbach, por Nietzsche, por Heidegger, por Freud, e, mais recente, pelos desdobramentos próprios das Ciências Humanas, do século XX. Convertida, sinceramente, a tais valores epistemológicos, próprios da filosofia daqueles senhores todos, a Teologia como fenomenologia encarna radicalmente. Abandona, honestamente, seu desejo metafísico, seus arroubos ontológicos, e transforma-se em discurso reconhecidamente (apenas) humano.

As informações acima foram retidadas de: http://www.ouviroevento.pro.br/teologicofilosoficos/classificando_teologia.htm (Osvaldo Luis Ribeiro).


Hoje novamente voltou a acontecer, mais um dos alunos da "colina" se levantou para dizer que devemos esquecer a teologia. Não sabem eles que se matricularam no curso de "bacharel em teologia", e agora reconhecido pelo MEC? Se não querem a teologia o que buscam aqui? Já me apresso em dizê-lo, buscam o que deveriam ter desenvolvido em suas comunidades de fé. Buscam o amor, a experiência metafísica, o crescimento espiritual, as experiências pessoais e personalizadas dos "homens de Deus". Tudo isso deveria ter sido conhecido e aprimorado nas comunidades de fé, ou não é essa uma das atribuições dos líderes ontológicos ou seus candidatos à sucessão? A teologia apenas se propõe ao estudo e crítica dos discursos feitos a respeito de Deus - ao menos a teologia do MEC , a fenomenológica - já o estudo do próprio Deus deixemos para os especialistas "homens de Deus", homens com um deus tão medíocre que consegue ser manipulado na prepotência de serem estudiosos dessa divindade. Aos teólogos que ainda resistem a um mar de omissão e deturpação das academias teológicas que surgem em número - o que infelizmente não reflete em qualidade - resta a esperança de nos prepararmos para refutarmos mais uma avalanche de "besteirol" pré-moldado que inevitavelmente colidirá com o discurso do divino. Quando este dia chegar, observaremos quem resistirá à critica, pois a maledicência não resiste à teologia.


Ps. O pior é que esses não notam que o que eles querem é teologia, mas a ontológica. Ainda sim, teologia.

Thiago Barbosa

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