Seria possível um caminho alternativo que possibilite a recuperação da experiência bíblica do povo de Deus e ainda assim ressalte a importância da história na elaboração do fenômeno religioso?
Estamos no meio de uma controvérsia em relação a duas posturas. Uma denominada maximalista que defende que tudo nas fontes que não pode ser provado como falso deve ser aceito como histórico e irretocável. Outra postura denominada minimalista que defende que tudo o que não é confirmado por evidências científicas referente aos eventos deve ser propagado como inverdade, portanto, devendo ser reinterpretado à luz científica e criticado.
Como arqueólogos e historiadores modernos têm tentado reconstruir o passado de Israel sem a dependência do testemunho bíblico, levantou-se a questão de o oposto ser também possível: pode-se discernir a força das acusações de Amós ou ponderar a profundidade da mensagem de Oséias sem o conhecimento das condições sócio-históricas do reino do Norte no século oito? Pode-se agarrar totalmente a severa polêmica do Segundo Isaías sem a consciência dos desafios culturais e teológicos que a comunidade exílica enfrentou na Babilônia?
O movimento no sentido de incorporar métodos sócio-científicos e antropológicos para reconstruir o passado de Israel tem estado relacionado com a transformação da pesquisa antropológica. De fato, o estopim que detonou a explosão de tais métodos foi o monumental trabalho de Norman Gottwald. Além do mais a ascensão do estudo antropológico e sociológico tem efetivamente preenchido a lacuna presente em muitos tratados históricos sobre o Israel antigo, isto é, os processos socio-culturais e estruturais que deram forma às comunidades do mundo bíblico. Não mais limitada a questões de cronologia e às ações conscientes de indivíduos, a investigação histórica se expandiu ao incluir forças e processos por trás de aspectos menos “dramáticos” da história antiga (por exemplo, adaptações tecnológicas, desenvolvimento econômico, o papel social da mulher e a distribuição do poder político). Em suma, a utilização de teorias sociais científicas e antropológicas tem feito muito para suplementar o tipo de reconstrução histórica que até então se utilizava.
Ainda gosto da perspectiva vetero-testamentária dos historiadores e arqueólogos. Talvez seja o SUPEREGO do biólogo adormecido que me impeça de embriagar-me com a ontologia pura das comunidades de fé. Gostei de aprender a ler o “primeiro testamento” sob a perspectiva do “sacerdote”, do “sábio” e do “profeta”. A análise historico-crítica parece ser mais sincera, mais clara, mais estruturada, fatores que me permitem uma construção mais sólida para a teologia e comunidades que buscam ler a fé no século XXI sob os textos bíblicos. O grito do questionamento não se cala, aliás, ecoa de forma permanente e latente nas mentes dos sinceros: Seria possível um caminho alternativo que possibilite a recuperação da experiência bíblica do povo de Deus e ainda assim ressalte a importância da história na elaboração do fenômeno religioso?
O vespeiro está armado, o corpo dos sinceros está totalmente desprotegido. As picadas serão profundas e o veneno da análise crítica será inserido pelas matérias apresentadas neste segundo semestre. Minha oração é para que seja eu forte o suficiente para suportar todo o veneno e sair vivo, mas ileso ninguém pode apresentar-se, afinal a teologia feita com seriedade e sinceridade é única, unidirecional e metamórfica.
Na esperança de conseguir,
Thiago Barbosa
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