A arte de pensar livremente

A arte de pensar livremente
Aqui somos pretensiosos escribas. Nesses pergaminhos virtuais jazem o sangue, o suor e as lágrimas dos que se propõem a pensar com autonomia. (TeHILAT HAKeMAH YIRe'aT YHWH) prov 9,10a

domingo, 14 de março de 2010

Democracia Batista com cabresto

Caro Beda, saudades de vc em nossa sala do período matutino. Mas, faço das suas as minhas palavras. Espero que nossos dizeres não criem eco apenas no mundo virtual, mas de igual modo possam repercutir na moral e ética da nossa amada denominação. (Thiago Barbosa)



DEMOCRACIA BATISTA COM CABRESTO

Manifesto de Seminaristas

Caro povo batista,

Nós, alunos do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, estamos engajados em expor e sensibilizar alguns, ante ao grave quadro financeiro e descaso com os professores. Mesmo sabendo que parcela do povo batista está ocupada demais com seus afazeres pessoais e não podendo nos socorrer.



Entretanto, mesmo diante de tudo isso, nossos representantes estão querendo nos silenciar. Sim, isso mesmo, os representantes do povo batista, que estão a frente da Convenção Batista Brasileira, de modo indireto, estão solicitando a alguns pastores para que “orientem” e “esclareçam” suas ovelhas que estudam na referida instituição, que se concentrem apenas nos estudos. Pois não estão aqui para pensar, para duvidar, para questionar, para por a prova a cúpula da Convenção Batista Brasileira.



A democracia batista está sendo coagida a agir tiranamente contra alguns alunos, simplesmente por querermos expor nossa indignação ante a lentidão na tomada de decisões para solucionar toda a crise dessa instituição. Não recuaremos, a nossa geração não permitirá mais uma vez que o caso se repita, não assistiremos os fatos acontecerem como se não houvesse mais solução, simplesmente como se isso fosse uma tragédia. E ante essa tentativa de censura, fica claro que, como disse certo pensador “todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. A primeira como tragédia, a segunda como farsa.”



Decisões insensatas foram tomadas pela cúpula da Convenção Batista Brasileira anteriormente, seja por incompetência, malícia ou por omissão, levando a extinção outras instituições batistas tais como a JUERP e a JURATEL. Deste modo, não acreditamos mais numa tragédia, a história não irá se repetir, mas se esperarmos que os representantes da CBB façam algo, esses que estão agindo como coronéis querendo colocar cabresto em alguns alunos, então a história se repetirá de modo escancarado como uma farsa.



Estamos insatisfeitos com o quadro geral dos batistas, pastores que nos ligam nos induzindo ao silencio, estes que estão acomodados ganhando salários de R$ 10 mil reais, R$ 15 mil reais, R$ 20 mil reais ou mais por mês. E o pior é que os membros de algumas dessas igrejas aceitam calado. Isso é imoral, enquanto a maioria dos pastores e missionários estão no limite do sustento e nossos professores com salários atrasados. Precisamos urgentemente contestar pseudo pastores e diretores dos nossos arraiais que mancham a denominação.



Faço menção ao cristão Peter Drucker ao dizer sobre os altos salários de executivos de empresas, “acho que são escandalosos. JP Morgan, que não era de forma alguma avesso ao dinheiro, disse em 1906 que qualquer empresa onde o alto escalão ganhasse mais de 20 vezes o salário médio dos empregados não poderia ser bem administrada. Ele se recusava a investir nesse tipo de negócio. Essa é ainda uma regra útil.” Se este homem orienta o meio secular e o pior, se referindo a empresa e não a igreja, está esclarecido, em parte, o porquê do evangelho pregado não ter surtido tanto efeito na pátria brasileira como nós batistas gostaríamos. Não há credibilidade esse evangelho justo anunciado por alguns que vivem de maneira velada a promover a injustiça. Resta ao povo batista brasileiro simplesmente entender que, entre os vários motivos da crise nas instituições batistas, os salários escandalosos. É injustiça e imoral o luxo que alguns pastores e diretores de instituições batistas desfrutam, enquanto o restante tenta se virar como pode esperando, a boa vontade dos executivos da fé passivos em suas salas sob o ar-condicionado.



Portanto, a conduta de alguns pastores e diretores já revela por si só de que lado estão. Esses pastores, como diz A. W. Tozer, decidem compelidos pelo medo, fazem coisas para agradar, aceitam serviços por razões financeiras, realizam ato religioso simplesmente por ser um hábito, se deixam ser influenciados pelo amor a publicidade ou pelo desejo de alcançarem uma boa reputação. Essa é a conduta de alguém da cúpula da CBB que liga e do pastor que aceita a ligação, para enfim tentar silenciar seminarista de sua igreja. Assim, parece insensatez pedir a Deus que sensibilize os corações daqueles que ele “levantou” para cuidar da igreja, que cuidem da igreja. Mas é isso que temos feito. Tal como o povo de Israel pedindo a Deus que libertasse do jugo sacerdotal.

Evitamos ao máximo basearmos nosso manifesto em textos bíblicos, em nome de Deus e bem como em jargões cristãos, em respeito e temor, a fim de evidenciar somente nossa indignação a lentidão, a omissão e a opressão por parte do ser humano caído. Apelamos também a razão e ao coração do povo batista do Brasil. Nos ajudem!

Por fim, antecipamos o cabresto “democrático” da CONVENCÇÃO BATISTA BRASILEIRA. Estamos a disposição dos nossos pastores para permanecer estudando ou nos retirar, caso queiram colocar o cabresto em nossa identidade cristã democrática batista.

Rodrigo Lima Beda

sexta-feira, 12 de março de 2010

carta aberta do pr. Carlos Novaes sobre a renuncia do pr. Carlos Elias na CBC

CARTA ABERTA AO PASTOR CARLOS ELIAS




(na última reunião do Conselho da Convenção Batista Carioca,
o pastor Carlos Elias renunciou à presidência
por não ter conseguido levar a cabo mudanças necessárias
e há muito tempo esperadas no âmbito da Junta de Educação)


Pr. Carlos Elias,
irmão querido e bom amigo:

Desejo tão-somente apoiá-lo em público. E cumprimentá-lo por ter demonstrado ampla visão da realidade, agudo discernimento das oportunidades, lúcida compreensão das intenções, além da admirável coragem e contagiante ousadia manifestadas na reunião do Conselho da Convenção Carioca.
O caríssimo amigo demonstrou possuir as raras qualidades de um verdadeiro profeta. Por isso, não estranhe a reação de alguns colegas pastores e membros do Conselho. Há muito tempo essa Convenção não sabe o que é uma autêntica ação profética. Reúne apenas sacerdotes que cumprem o rígido costume litúrgico dos cultos, do púlpito e da administração. Quando uma atitude profética como a sua se ergue no meio da mediocridade sacerdotal, as pessoas se espantam, ficam com aquele olhar atordoado e abestalhado, sem entender o que está acontecendo.
O que está acontecendo, meu bom amigo, é que, depois de vários anos de silêncio cúmplice e omisso no plenário daquele Conselho, finalmente ouvimos uma voz clara e inequivocadamente profética. Parabéns. Isso está ficando cada vez mais raro num mundo de cristãos distantes de Cristo, de evangélicos que se afastam do Evangelho e de batistas que, justamente nos meandros do poder e da estrutura administrativa, negam e envergonham o passado e a história da denominação.
Compreendo plenamente a sua decisão. E, embora muita gente boa de Deus esteja avaliando a postura assumida como covardia, entendo que o irmão se cansou de perder tempo jogando pérolas a porcos.
Chega o momento em que é preciso sair de um ambiente contaminado e apodrecido, como o do Conselho da Convenção Carioca, batendo as sandálias para sequer levar nos pés o pó desse lamaceiro fétido.
Chega o momento em que, como disse Paulo a respeito do ímpio de Corinto, é melhor entregar a estrutura viciada e corrompida a Satanás para que o corpo seja destruído e, ao menos, os propósitos originais sejam salvos.
Quando um presidente imbuído do legítimo desejo de acertar os desacertos descobre que a sua própria diretoria toma iniciativas ambíguas e age na penumbra, começa a ter sua autoridade questionada pelos que almejam permanecer nas trevas porque com elas se identificam e nelas se sentem em casa, passa a ser ameaçado por ímpios de alma violenta e insana, recebe telefonemas anônimos que colocam em risco o bem-estar da sua família e - depois de se submeter a todas essas desgastantes situações - ainda percebe que o Conselho com o qual contava para operar profundas mudanças permanece, na verdade, indisposto a pagar o preço, alheio aos gritantes apelos do momento, lento como um paquiderme, infantil como uma criança de fraldas, passivo diante dos desafios e dócil como massa de manobra nas mãos dos que são reis porque têm um olho, então é mesmo hora de pegar o chapéu e ir cantar em outra freguesia.
Pode acreditar, meu caro Pastor Carlos Elias, que seu trabalho à frente da igreja que pastoreia é bem mais valioso, imensamente mais importante e incomparavelmente mais compensador do que lidar com a emperrada e enferrujada máquina denominacional.
Você tentou ser vinho novo nesse odre velho sem recuperação. O Mestre já havia nos alertado que isso não dá certo. Vinho novo precisa de odre novo. Não adianta remendar tecido carcomido. A Convenção Batista Carioca, meu amigo, é tecido roto. A situação é essa. Simples assim.
Por muito menos do que anda acontecendo em nossa Convenção e no Conselho, o povo de Israel saía desbaratado das batalhas e voltava para casa carregando o dolorido fardo da perda e da derrota. E amargava anos de vergonha até uma nova geração estar pronta para recomeçar a reescrever a história sobre novos fundamentos.
A Convenção Batista Carioca está derrotada. Encontra-se em frangalhos. E assim vai permanecer até que haja uma nova geração com novos propósitos, novas causas, nova ética, novas atitudes, novos caminhos.
Enquanto isso não acontece, volto a fazer a mesma sugestão que já tenho feito várias vezes a pastores e líderes insatisfeitos: as igrejas que não acreditam mais na recuperação desses ossos secos só têm um caminho a percorrer: devem reunir-se para traçar um caminho paralelo e usar o dinheiro do Plano Cooperativo no intuito de abrir frentes inéditas de ação e atuação, tentando resgatar a alegria da cooperação batista.
Veja bem: não estou sugerindo a criação de outra Convenção ou denominação. Seria mais uma no vasto e confuso panorama do evangelicalismo brasileiro. Proponho que caminhemos à margem. Porque é à margem dos caminhos oficiais que o Senhor revelado nas Escrituras costuma agir com mais vigor e força. É fora das estruturas institucionalizadas, como o sinédrio, o templo de Jerusalém, a tradição dos anciãos, as leis dos fariseus e os mosteiros dos essênios que o Evangelho costuma operar com maior eficiência e ampla eficácia.
Mas isso é assunto para debates posteriores. Por hora, meu intento foi apenas empenhar-lhe total apoio. Deixe que os mortos enterrem seus mortos, querido Pastor Carlos Elias. E vamos à vida, onde o verdadeiro Evangelho pode ser encontrado.

Um abraço carinhoso em Cristo,
aquele que não fundou nenhuma igreja institucional
nem organizou nenhuma denominação,
não estabeleceu nenhum credo eclesiástico
nem oficializou qualquer estatuto denominacional,
mas, pela graça divina, concede a paz que excede todo o entendimento
e guardará o seu coração e a sua mente em todos os momentos.

Carlos Novaes


retirado do blog do pr. Carlos Novaes (http://carlosnovaes.blogspot.com/2010/03/carta-aberta-ao-pastor-carlos-elias.html)

Em busca da integridade de outrora.

Hoje é dia de choro e ranger de dentes.

Em nossa "sacra colina", lugar onde líderes de outros tempos se levantaram, nos colocamos à disposição da luta pela manutenção deste recinto. Nós aqui aprendemos,e, infelizmente, vimos a beleza de uma denominação religiosa ser vilipendiada, uma imagem de lisura e retidão, construída durante anos de comprometimento com esse país ser retorcida a golpes atrozes de seus líderes. Aqui vimos aqueles que deveriam nos proteger e suster nos virarem as costas como se lixo fóssemos. Mal sabem eles da força que existe nos que são fracos, oprimidos, maltratados, excusos da sociedade. Mas aqui na colina nos mostraram a força que emana das bases, a fulgura que ressurge dos que de coração limpo e integro olham para o alto e têm a plenitude de uma consciência tranquila.
Aqui aprendemos de homens e mulheres que ser professores e funcionários dessa instituição é um ministério, tão ou mais digno que o de pastor. Aqui, nos dizeres carinhosos de professores e afuncionários encontramos a solidez que construiu, constrói e, com empenho e fé construirá a liderança batista deste país.
Ficará registrado nos umbrais desta instituição que no ano de 2010, mais de 300 alunos se indispuseram contra a imoralidade, a corrupção, o descaso e a inércia,e, que a força motivadora desta atitude foi a história de uma instituição que a mais de um século permite a formação de líderes,e, acima de tudo, o amor à denominação e às vidas que sob esta denominação descansam.

Obrigado professores e funcionários por, com essência de amor, se colocarem a ministrar o melhor de suas mentes e corações.

Obrigado aos péssimos líderes da convenção batista, por nos mostrarem como NÃO se deve agir para com a denominação e as pessoas sérias e integras que a formam.

Eu amo o Seminário do Sul e NÃO quero que fechem-no.

ps. Graças à Deus ainda restam bons líderes, e a eles não se dirije meu desabafo.



segunda-feira, 8 de março de 2010

Quando Nietzsche pensou sobre amizade...

Se se quiser ter um amigo, é preciso também guerrear por ele; e para guerrear é mister poder ser inimigo.
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É preciso honrar no amigo o inimigo. Podes aproximar-te do teu amigo sem passar para o seu bando? No amigo deve-se ver o melhor inimigo. Com teu coração, deves estar o mais próximo possível dele quando lhe opões resistência.
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Gostarias de não trazer vestimenta alguma diante dele? Deve ser uma honra para o teu amigo que te mostres a ele tal qual és? Pois é por isso que ele te manda para o diabo!
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Já viste dormir o teu amigo, para saberes como ele é? Qual é então, a cara do teu amigo? É a tua própria cara num espelho tosco e imperfeito.
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O amigo deve ser mestre na adivinhaçõa e no silêncio: não deves quere ver tudo. O teu sonho deve revelar-te o que faz o teu amigo durante a vigília. Seja a tua compaixão uma adivinhação, é mister que, primeiro que tudo, saibas se o teu amigo quer compaixão.
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Serás tu para o teu amigo ar puro e soledade, pão e remédio? Há quem não possa desatar as suas próprias cadeias e todavia seja salvador do amigo.
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És escravo? Então não podes ser amigo.
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És tirano? Então não podes ter amigo.
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Existe a camaradagem. Tomara que exista a amizade.
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Assim falava Zaratustra...
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Amém...rs...(obrigado Diogo, Thiaguinho e Cidão)
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Thiago Barbosa

segunda-feira, 1 de março de 2010

O senhorio do discurso

Cosmopolita por natureza, o homem sob a alcunha de um mundo globalizado, nos apresenta uma incrível complexidade relacional entre os mais diversos grupos sociais existentes. As relações humanas observáveis, harmônicas ou não, são caracterizadas e afirmadas junto a tais grupos sociais pelo teor intrínseco aos discursos emanados de tais líderes “tribais”. Sendo o discurso uma ferramenta primaz de controle social, a permanência sustentável de um padrão cultural sistematizado, advém, entre outros fatores, da boa utilização do idioma corrente ao grupo em que se representa ou se faz inserido.

Durante os anos mais remotos do processo organizacional dos hominídeos, ainda com impossibilidades anatômicas para a elaboração de uma linguagem falada, as feições faciais e corporais emolduravam um discurso baseado em movimentos e expressões do corpo. O idioma não falado mostrava sua validade, importância e efetividade na transmissão dos conceitos mais remotos de tecnologia. O fogo, técnicas de caça, abrigos mais eficazes, bem como o próprio controle sobre a tribo, todos eram conhecimentos obtidos com a eficácia do idioma corpóreo.

A cognição humana sempre permitiu um notório aumento nos níveis de complexidade de seus grupos organizacionais. A linguagem, ou melhor, idioma falado, é oriundo do aumento da capacidade cognitiva sob a abordagem da comunicação. O líder, que no grupo de hominídeos se afirma pela expressão corporal de agressividade e força, agora consegue lugar de destaque na realidade tribal por sua capacidade de transmitir conhecimentos por meio do idioma falado.

A humanidade sempre teve relação de busca e experiência com o sagrado. Relações de gratidão e necessidade, bem e mal, sempre emolduraram a relação do homem com aspectos sem explicação mensurável. A supremacia do planeta em seus ciclos vitais de reprodução, nascimento e morte formaram na mente humana uma relação devocional para com a natureza. O desenvolvimento da religiosidade e a predisposição para a transcendência física permeiam a criação e estruturalização da linguagem escrita. O idioma escrito é a possibilidade de o líder, detentor dos conhecimentos que regem e guiam uma sociedade, fazer com que esse conhecimento perdure, mesmo após sua morte.

Em um olhar rápido, observar o líder é observar aquele que detém, não só o conhecimento, mas também a transmissão do conhecimento de um povo, fazendo-se maior que os limites físicos que se aplicam sobre a vida. O líder, que abriga em si o idioma, abriga o conhecimento de inúmeras gerações que se propuseram ao exercício da complexidade crescente do fenômeno cognitivo humano.

Thiago Barbosa

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Imagem não é nada?

Interessante como os aspectos físicos do campo da estética corporal estabelecem padrões limítrofes em nossas experiências quanto ao discurso que nos é apresentado, seja este discurso fruto de produção religiosa ou não.

Anos atrás tínhamos um medo grotesco do Lula. Sua aparência quase que impunha suas opções marxistas, das mais extremadas possíveis, a vasta barba e os cabelos degringolados fizeram, creio eu, que ele perdesse as eleições contra Collor. Não foram poucas as pessoas que confessaram o assombro pelas vestes “revoltas” e aspecto “conspirador–comuna” de nosso atual presidente, fazendo com que ele perdesse a eleição em questão. Tempos depois, barbas negras e revoltas a menos, cabelos bem cortados e já grisalhos pelo tempo mensurável e experiência imensurável, Lula volta por “sobre a carne seca”. Elege-se pela primeira e consequentemente pela segunda vez. Não foram poucos os comentários sobre sua aparência. Interessante não ter eu percebido tanta mudança no discurso, mas parece que a aparência de Lula fez com que a intensidade do vermelho na flâmula petista tornou-a um pouco mais rósea, mesmo sendo o mesmo discurso em sua essência.

Hoje experimento a mesma situação e percebo como as pessoas nem ligam para o que você diz, mas sim para quem o diz. Optei por livre e espontânea vontade “tosar” as madeixas que me acompanhavam já durante três anos. Motivos? Minha total indisposição para o cuidado que é requerido. Os tempos de Heavy metal e diálogos com o mundo underground já não são uma constante. Por isso não senti nenhuma espécie de remorso durante o corte, talvez uma inerente saudade dos dias de show e encontros com os “irmãos de camiseta preta”. Com isso desconstruo a primeira argumentação que me foi apresentada, a de que cortei os cabelos por exigência da igreja ou por não suportar a pressão sobre minha aparência pouquíssima formal. Sinceramente, o mundo eclesiástico me pressiona por ainda requerer uma postura aceitável, portanto, fui pressionado, mas com muito respeito. Não fui exigido, ao contrário, fui questionado sobre o "porque" de ter cortado o cabelo pela minha igreja “mantenedora” ,que sempre se mostrou bastante acolhedora e benevolente para com minha aparência, embora soubesse da vontade de boa parte de sua liderança em me ver seguindo a mais formal etiqueta eclesiástica (eles não gostariam que eu o fizesse por qualquer motivo que não fosse minha própria vontade). A realidade do motivo é a de que o calor meridional de nosso país, bem como a não necessidade de me afirmar pela aparência me libertaram dos moldes modais que por ventura me sejam cobrados. Minha mais pura e completa vontade, ninguém teve nenhuma influência, por menor que fosse ,sobre meu novo visual.

Mas minha observação vem mediante o discurso que sempre me acompanhou e que sempre proferi, tanto nas comunidades de fé que eventualmente sou convidado a falar, como na academia e no próprio cotidiano. Interessantíssimo como as pessoas, confrontadas com o visual pouco convencional (parecendo um índio “Omeca” como diz o professor Osvaldo), tomavam meus dizeres como heresia, antibíblico, liberal em demasia. Sempre me coloquei a tentar saber os motivos desses dizeres, porém, assumo todas as responsabilidade sobre o que digo, portanto, sempre estive muitíssimo tranqüilo quanto a estas posições “contrárias”. Agora, após o novo visual, os comentários sobre meus dizeres deixaram de assinalar a heresia e abordam a “originalidade” nas hermenêuticas, esquecem-se do antibiblicismo e apontam a argumentação científica do texto, o evangelho “liberal em demasia” agora impacta o homem a perceber um evangelho que perpasse antes de tudo a consciência desse homem e sua relação pessoal com a divindade. Minhas pregações continuam sendo fruto dos meus medos, sentimentos, pensamentos, estudos, sempre dizem mais a meu respeito que ao outro. O que digo, digo antes a mim mesmo, posteriormente, os ouvintes estejam à vontade para uma analise do conteúdo do discurso e sua aplicação ou não na sua relação de pessoalidade com o divino. Parece que me tornei um excepcional preletor por ter cortado o cabelo. Em minha dura e fria análise continuo medíocre, afinal, não há grandes descobertas, apenas apontamentos sobre minha relação com Deus, tudo no campo da pessoalidade, da experiência pessoal, onde cada um é responsável por seu acesso ao Criador. Mesmo assim ainda ouço: Agora sim, esse é meu seminarista! Esse Será um “pastorzão”! (rs)Tudo por um corte de cabelo.

Acho que se Jesus tivesse visitado o cabeleireiro, talvez tivesse escapado de seus algozes, bem como de seu trágico fim terreno.


Thiago Barbosa

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Sherlok Homes, Desmistificação e Leitura Bíblica

1. Depois de pensar uma forma de fazer com que Kel se sentisse melhor de sua indisposição mensal, essa, que a atinge todos os meses e a deixa realmente tristonha e ligeiramente embravecida, tive a brilhante idéia (brilhante porque penso ter sido produtivo para ela e, principalmente, para mim) de irmos ao cinema para assistir as sagas do detetive mais famoso de todos os tempos: Sherlok Homes. Suas aventuras são de tirar o fôlego, literalmente. Parece que por todo o enredo do filme, nossas emoções sofrerão com os vários picos de tensão salpicados com um inteligente senso de humor por parte de nosso caríssimo detetive britânico. Mas o que me deixou intrigado não foram as fantásticas cenas de suspense, ou as formidáveis enrascadas em que se envolvia Homes e seu fiel amigo Watson. O que me deixou a pensar, num exercício de principiante, de um pensador ainda em formação, foi exatamente o dualismo Misticismo x Racionalismo, expressos, respectivamente, na pessoa de Homes e de seu Inimigo.


2. O detetive é um homem extremamente racional, suas intuições permitem alcançar uma síntese “quase exata” dos fatos, uma solução, o que lhe permite resolver os problemas à sua frente. Uma mente racional que, especialmente nessa aventura, se põe em conflito com uma problemática, que, de início, é não- natural, fugindo do mundo sensível, possível, real. Homes se depara com os poderes supranaturais da magia até que, ao chegarmos no final de todo o mistério, ou melhor dizendo, quando ele chega ao final de suas investigações, pode, então, demonstrar a “supremacia” da razão sobre o misticismo que envolvia todo o caso. O grande detetive se lança sobre o problema que causava tanto temor (por se tratar de algo além do natural) às gentes da época, como se lança um filósofo, principalmente moderno, sobre um problema filosófico. Utiliza-se de metodologia, seja ela discursiva ou intuitiva. A forma de entender do que realmente se constitui o mistério é “garimpando”, duvidando, questionando, analisando e desconstruindo toda a camuflagem “espiritualizada”, mitológica, bem elaborada pelo suspeito, o que fazia crer, todos os envolvidos ou os que se envolviam.


3. Honestamente, não deixei de experimentar-me na difícil arte da reflexão teológica, fazendo uma aproximação da prática investigativa analítica de Homes com a investigação exegética moderna das escrituras sagradas, a bíblia. Assim como essa mente brilhante da investigação policial, as ciências bíblicas não se contentam em analisar formas “camufladas” dos textos bíblicos, sejam as que herdamos da tradição judaico-cristã, seja das repetidíssimas interpretações dessa mesma fonte. O que os teólogos-biblistas modernos desejam é apreender o que está “por trás das palavras”, ouvindo as “muitas vozes” dentro de inumeráveis circunstâncias. É saber o que é, o que está, debaixo de um “emaranhado místico-espiritualizante” no qual deixamo-nos envolver psicologicamente/emocionalmente/culturalmente, aponto de negarmos toda e qualquer possibilidade de investigação que realce ou que revele as “coisas” dentro de seu contexto histórico de fato. .


4. Ao final do filme, Sherlok Homes desvenda mais um mistério. Esse, um tanto diferente de muitos outros que já havia desvendado. Fica claro a grande mentira construída pelo suspeito. Os crimes que possuíam um teor sobrenatural tornam-se agora crimes arquitetados a fim de alcançar um objetivo, um plano ideológico e político afim de obter controle e governo. Havia uma intensão de fundo, um manipulador por trás de toda aquela magia, alguém que fazia crer na transcendência dos assassinatos parecendo “obras do além” a fim de encobertar e não transparecer as “reais” intensões. Foi assim que muitos reis judeus justificaram seus delitos, seus abusos. As injustiças sócias, a opressão econômica, tudo se justificava a partir de um discurso cheio de magia e autoridade dos “céus”. O que não é diferente daquilo que os especialistas tem desvelado no que se refere à leitura dos textos bíblicos na história da civilização ocidental. A estrutura patriarcal e colonizadora do ocidente europeu é um construto teológico judaico-cristão, que tem no poder político-religioso da cristandade a criação de identidades universais, que são vinculadas a um Deus transcendente e patriarcal a partir das representações e intervenções político-sacerdotais da cristandade européia.[1]. O famosos detetive desvenda o caso revelando sua imanência, nada de sobrenatural, nada de magia, nada de discursos mitológico, somente truques bem arquitetados que passam despercebidos aos olhos, acostumados a crer , olhos não inquiridores.


5. Podemos ler a bíblia somente crendo, sem ao menos permitir-se perguntar: porque ?, como?, quando?, em que contexto ou situação? quem disse? porque disse?. Ou podemos investigar, como um detetive que procura pistas para resolver um mistério. Não quero de forma alguma dizer que não precisamos crer, pelo contrário, como diz Gilberto Gil “andar com fé eu vou, que a fé não costuma faia”. A fé é parte de nossa constituição como seres do mundo, aprendemos isso e precisamos disso. O que nos propõe os biblistas e o que, agora, acompanho, é uma mente investigativa, uma fé não alienada, uma “leitura de detetive” para que nossa mente naturalmente “curiosa”, possa dormir em paz todas as noites. Não nego também ser isso uma tarefa difícil. É extremamente difícil perceber-se num circulo ideológico que, de certa forma, nos “conduz” na vida social. O circulo ideológico consiste precisamente na relação mútua, dialética entre nossa práxis e ateoria que se apresenta como sua inteligência e explicação. A práxis pede, exige uma teoria, uma inteligência. Esta teoria, inteligência, por sua vez, confirma a práxis, reforça-a. Assim circulamos dentro dessa relação. Cada vez mais a nossa práxis fica justificada pela teoria. [2]. É assim que aprendemos a fé, o que dizem é o que praticamos, o que acreditamos.


6. O mesmo espírito investigador de um filósofo deve ser o espírito de um estudante das escrituras, de um teólogo ou de um biblista. O desejo por autonomia e a coragem de romper com o(s) circulo ideológico, de alcançar entendimento no exercício da própria razão, deveria ser o espírito dos cristãos, principalmente, os de confissão protestante. Como diz Morente, “nós devemos permitir com que nos tome aquela alma lúdica, aquele instinto infantil, curioso e inquiridor” pois com certeza “cavando bem fundo” podemos nos aproximar mais daquilo que corresponde ao real, ao que pode ser historicamente tangível. Talvez, tornando-se necessário desmistificar algumas coisinhas. A perspectiva “maximalista” dos textos bíblicos, importada e assumida em nossas comunidades, é símbolo de verdade epstemológica, possui força política e é, de forma mais específica, nosso “círculo”. Nossa constituição cristã é forjada nessa prédica, é por esse viés que compreendemos a realidade, é nesse ambiente que gostamos de permanecer. Mais confortável é receber pronto tudo aquilo que precisamos para encarar o mundo, o que está fora do círculo. É angustiante a idéia do diálogo com o que está fora de “meus” limites; sim, não o nego, mas talvez seja necessário Romper com (em) fé (utilizando o título da famosa música), ou seja, romper sem, no entanto perder a fé,os limites que conduzem nossa consciência.



7. Faz-se necessário, principalmente nos dias atuais, que tenhamos uma “mente analítica” , como de a de Homes.



Jonathan


[1] CABRAL, Jimmy Sudário; Bíblia e Teologia Política: escritura,tradição e emancipação- Rio de Janeiro: Mauad X ; Instituto Mysterium; 2009
[2] LIBÂNIO, J. B.; Formação da Consciência Crítica: 2. subsídios sócio-analíticos; Rio de Janeiro; Vozes; 1979

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Deus é deus para benefícios e malefícios

Realmente me incomoda o fato de assumir a autoridade de Deus. Não pelo simples fato de se assumir tal autoridade, mas pelo fato de que somos extremamente tendenciosos a assumir os fatos corriqueiros da vida como supremacia divina apenas quando tais fatos são benéficos a nosso respeito.
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Se formos assumir a autoridade de Deus devemos assumi-la por completo, alías, lendo o livro de jó, parece que as vontades e permissões divinas perfazem bem mais as partes ruins do que boas, triste que alegres. Assim, Deus assume seus ares de autoridade tanto nas proposições agradáveis e suaves da vida tanto quanto as assume nas tristezas e angústias.
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Assumir a autoridade divina sob nenhum aspecto é ignorar a autonomia humana quanto a suas atitudes, suas responsabilidades como seres emancipados que somos. Assim sendo, assumir a autoridade de Deus, ou "dos deuses" em nossa vida é assumir a possibilidade de que bem e mal podem ser vontade dos "senhores metafísicos". Para nós humanos resta apenas a possibilidade de sermos responsáveis por nossas vidas.
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Assim, na riqueza ou na pobreza, na saúde ou na doença, nas confraternizações ou profundíssimos momentos de solidão, Deus ainda é soberano se assim o dissermos e assumirmos. Portanto prepare-se, se disseres ser Deus autoridade sobre sua vida, assuma que essa é uma afirmação tanto para bem quanto para mal.
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Thiago Barbosa

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Quando os quadrinhos dizem as regras do jogo


Sempre gostei dos quadrinhos. Ver super-heróis, donzelas em perigo,e, é claro, os magistrais vilões. Interessei-me inicialmente por Chico Bento e a trupe da Mônica. Adolescente underground que fui, e penso ainda ser, deparei com o mundo subterrâneo e subcultural dos “Marvel Comics”, bem como os épicos fantasiosos de Conan. Mais tarde, pelos idos de 1996 apresentaram o RPG, principalmente o STORYTELLER gótico de VAMPIRE: the Mascarade. Entupia-me de leituras góticas, histórias baseadas nas idades das trevas, no medievo, hora fantasiosas, hora reais, hora mitológicas. Após o mundo do RPG mergulhei profundamente na história dos povos antigos, amava a pesquisa, livros empoeirados, letras e escritas com datações antiquíssimas. De modo que, quando encontrava um discurso religioso, entendia a mente que o concebia, enxergava nele história e ficção, juntíssimas, de mãos dadas, no intuito de levar o povo à devoção “divinamente inspirada”.



Com o tempo percebi a baixeza da mistura entre ficção e realidade histórica. A baixeza, por minha conta, se dá no intuito em que nem todas as partes envolvidas no jogo sabem das regras. No RPG, o mestre sempre trazia a memória a natureza fantasiosa de suas descrições. Assim, os demais jogadores sabiam que, por mais realística que fossem as descrições, ainda assim seriam fantasiosas. Já nos jogos da fé, quem sabe as regras do jogo é o lider, o pastor, o “religioso mor”. As ovelhas, o outro lado do jogo, pouco sabem sobre a realidade e ficção das leituras feitas. Passa a ser um jogo tendencioso, de mal caráter, onde um sabe de seu poder de manipulação e mescla entre história real e realidade ficcional. Já a outra parte apenas se entrega, na ilusão pueril de que as palavras ditas sejam todas realidades palpáveis e divinamente inquestionáveis.



Se queres jogar o jogo, abra as regras. Somente assim seremos ao menos ansiosos pela honestidade junto aos jogos da fé.



Lembro dos ditos e quadrinhos, quase que escatológicos, de Robert Crumb.

Robert Crumb (30 de agosto de 1943, Filadélfia, Pensilvânia) é um artista e ilustrador, reconhecido como um dos fundadores do movimento underground dos quadrinhos, e é considerado frequentemente como a figura mais proeminente nesse movimento, tendo como ponto de partida a publicação do gibi artesanal "Zap Comix". Seus trabalhos foram bastante apreciados na cena hippie, tendo deixado marcado nesta década a tira Keep on Truckin´ e os personagens Mr. Natural (que pode ser lido como uma sátira de Maharishi Mahesh Yogi e semelhantes, numa época em que era moda gurus espirituais) e Fritz The Cat, um gato boa vida que usa muitas drogas e tem uma vida sexual bastante lasciva.



Crumb foi tema de um documentário intitulado Crumb, lançado em 1994 pelo diretor Terry Zwigoff. O filme foca-se nele e em seus dois irmãos, os três com um certo grau de sociofobia, frutos da criação de um pai severo e uma mãe superprotetora. Há, sobretudo, bastante destaque no irmão mais velho, Charles, e sua influência sobre seu irmão Robert. É narrado, em certo momento, que Charles obrigava seus irmãos a desenharem quadrinhos, na infância.



Na década de 1970, começou a colaborar com o roteirista e arquivista Harvey Pekar, um homem da classe media baixa de Cleveland que narrou suas visões de mundo, mostrando o cotidiano tedioso da classe media americana, sem preocupações. Muitas vezes os percalços desta parceria foi retratada nos próprios quadrinhos feitos em parceria pela dupla.



Produziu frequentemente HQs autobiográficas com sua esposa, Aline Kominsky-Crumb, desenhadas a quatro mãos e publicadas na revista The New Yorker. Tais obras estão sendo republicadas no Brasil pela revista Piauí.



Passou a adaptar obras literárias de autores como Franz Kafka, Charles Bukowski e Philip K. Dick. Em 2009 lançou a adaptação quadrinhistíca do Gênesis, o livro da bíblia. E é pensando em bíblia, religiosidade e sua produção em HQ do “ Bereshit” que apresento uma facção da entrevista idealizada e feita por Rosane Pavan em http://www.cartacapital.com.br/app/coluna.jsp?a=2&a2=5&i=5168.


Você acredita em Deus?

Não sou religioso. Mas fui criado no catolicismo. Em escola católica, de freiras e irmãs. Acredito que, quando criança, não tinha razões para desacreditar no que me contavam. Por volta de 15, 16 anos, comecei a fazer meus questionamentos. Rapidamente rompi com o catolicismo depois que comecei a questioná-lo. E passei a estudar outras idéias sobre o assunto, sobre as coisas chocantes que não lhe contam sobre a Igreja, sobre o comportamento dos papas. Especialmente na Idade Média, comportavam-se muito mal. Ainda se comportam. Parei de me confessar aos 16 anos. Nunca mais me tornei membro de uma igreja estabelecida ou de uma religião. Não sigo qualquer doutrina religiosa, de maneira alguma. Contudo, ainda me sinto muito interessado pela procura espiritual, mas de uma maneira mais ligada ao intelecto. Eu certamente acredito que existe uma força que move nossos destinos. Maior do que nós. Não sabemos o que é. É grande demais para que nós tenhamos qualquer chance de saber do que se trata. Mas é interessante estudar, perguntar-se, imaginar o que ela poderia ser. Eu pessoalmente não acho que alguém vá encontrar inspiração no Gênesis. As histórias são boas, mas como guia espiritual ou moral, não servem. Você terá problemas se ler o livro com essa intenção! É primitivo. A moral é tribal. Existe um plano. E o cara se sente honrado em segui-lo. Deus nos deu essa terra, essa terra pertence a nós, toda essa história... Contudo, procurei sempre ilustrar o que está no texto. Ló fez sexo com suas duas filhas, coisa muito estranha. Isto está escrito e eu desenhei. Eu evitei ser cômico, lúbrico, sensual, explícito. Se as pessoas se sentirem ofendidas com o que virem, problema delas. Não podemos agradar a todos. Especialmente pessoas seriamente religiosas. Não posso ajudá-las. Às vezes o texto não descrevia exatamente o que estava acontecendo. E então inventei o que ilustrar, até certo ponto. A cena diz: “Antes que Deus decidisse destruir a raça humana... Porque ele viu o mal no coração do homem.” Mas o que ele viu? Que mal o homem fez? Então eu tinha de mostrar que mal esse homem estava fazendo. Eu não estava indo contra o texto, porque o texto me deixava livre para imaginar que mal seria esse. Mas se o texto dissesse que os personagens se deitavam no chão, sim, eu os deitava no chão. Pessoas fazendo sexo, sim, eu desenhei.


Seu Deus é tradicional, um velho homem barbudo. Foi assim que ele se apresentou em seu sonho?


No meu sonho de 2000 ele era muito mais complexo. Mas eu decidi desenhá-lo velho, de longas barbas e severo, com a face do patriarca. E o fiz homem porque assim ele é descrito _ Ele, segundo o texto bíblico. Tudo isto partiu dos hebreus. Eu até pensei em fazê-lo mais judeu... em uma segunda leitura, havia mais componentes africanos... A história toda pertence à tradição semita. A europeia faz Deus com os cabelos loiros. Então decidi desenhá-lo de cabelos mais escuros, na tradição semítica.


Esse Deus que você viu no sonho não seria apenas você?


Eu? Bem, tudo o que aparece nos sonhos remete a alguma parte de nós mesmos. Pelo menos é o que dizem. Mas a imagem do sonho, tão vívida, definitivamente não pertencia a mim, estava do lado de fora. A verdade é que ele entrou em mim, falando comigo de alguma forma. Mas eu só fui capaz de visualizar essa criatura. Sua face era muito severa. E também repleta de ira. Um deus muito velho, com barba. O deus do Gênesis é o da justiça. Não é bonitinho, nem especialmente amigável.


Tudo parece muito respeitoso sob este aspecto para que alguém se incomode com suas ilustrações.


Eu imagino que os fundamentalistas, especialmente alguns judeus ortodoxos, se sentirão muito incomodados. Porque, segundo eles, não se pode ver a face de Deus, de forma alguma.


Talvez estejamos vivendo um momento especialmente de trevas, em que a liberdade de ação ou de pensamento pareça indesejável a grande parte das pessoas.


Concordo. Vivemos um momento obscuro.


Nunca lhe interessou desenhar o Novo Testamento?


Sempre me interessou o Gênesis. E a história do Novo Testamento apresenta algumas dificuldades para ser contada. Você tem de escolher uma entre as quatro versões de Mateus, Marcos, Lucas ou João. Não há como narrá-las todas. Ou então é preciso encontrar uma maneira de extrair as histórias interessantes e seguir com elas. Isto seria o que eu faria, provavelmente. Mas Chester Brown já contou essas histórias, e muito bem, em suas leituras dos evangelhos de Marcos e Mateus.


Talvez com Crumb tenha sido assim: Leu por demasia os quadrinhos de cultura underground, percebeu-se da mescla desonesta dos “mestres do jogo” entre realidade histórica e realidade ficcional,e, finalmente, cansado da desonestidade do jogo sentou-se, deixando o jogo para aqueles que ainda não se aperceberam das irregularidades.

Thiago Barbosa

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Brincando com o brinquedo errado - copiado do Blog de Danilo Gentili


Retirado de http://danilogentili.zip.net/


Depois dizem que com Religião não se brinca.


O bom desse brinquedo é que se o seu filho o quebrar, em 3 dias ele se conserta sozinho.

Segundo a embalagem o boneco é " totalmente articulado", ou seja, não é como aqueles bonecos que você compra e ficam pregadões, sem se moverem.

A embalagem ainda diz: "Ouça Jesus Falar". Certamente ele ensina os mandamentos de Deus como: "Não farás pra ti imagem alguma do que está nos céus.." ou então "Vinde a mim as criancinhas... por apenas R$ 49,90!"

Sim. Jesus, o Filho de Deus custa R$ 49,90! O que comprova que Judas nunca foi um bom judeu, pois o vendeu por apenas 30 moedas.

E enquanto a Mattel cobra R$ 70,00 no Max Stell, um boneco que precisa de uma lancha de R$ 40,00 pra fazer uma operação oceânica, a Tales of Glory (fabricante de Jesus) cobra apenas R$ 49,90 num boneco que não precisa de acessório nenhum pra caminhar sobre as águas. Pense nisso na hora de presentear.

Falando no preço do brinquedo ainda, não sei quanto custa os outros apóstolos da coleção, mas o boneco de seu arqui-inimigo com certeza está 16,70 mais caro que Jesus, o Filho de Deus. Faça as contas agora na calculadora do Windows e veja o resultado.

Mas eu ainda acho que o Falcon e os Comandos em Ação são brinquedos mais cristãos que esse aí. Eles sim são verdadeiras réplicas dos cristãos que conhecemos: fazem guerras, atiram... essas coisas...

Verdades, verdades e mais verdades. o que mais chama atenção é que pouco fazemos para reverter o quadro. Parece que nos tornamos nossos maiores pesadelos, tais quais os americanos, ao nos propormos a conter e combater o Terror, nos tornamos com ênfase e louvor o maior de todos os terrores. Somos tudo, menos cristãos. Ou melhor, comos cristãos somos excelentes gladiadores, e para piorar tudo, ainda usamos "O Cristo" para isto.

Conversando com um amigo esta semana ele me manda esta: Se Deus voltasse, o que diria sobre nós, nossas igrejas e nossas ações?
Eu soltei na lata que: - Vocês não entenderam nada... (Deus dizendo com voz de decepção)

Minha esperança é que se houver um julgamento, sejamos todos julgados por nossas intenções, talvez assim eu escape. Quanto a você, que me lê, verifique você mesmo e veja se escaparia... No final acho que todos estariamos perdidos, afinal, nossas ações só não são piores por incompetência própria...

Na esperança de um ser cristão autêntico, autônomo e liberto.

Thiago Barbosa

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Os super poderes do Controle-Remoto



Paul Hutton, funcionário do zôo de Londres, foi trancado em um recinto - como os animais que vivem no local - construído de forma personalizada, onde mostrará a vida do ser humano no habitat natural. Além do quarto com mobiliário completo, o recinto possui uma espécie de pátio ao ar livre para Hutton representar as atividades diárias do homem, entre elas, a alimentação.


O intuito dos zoológicos é realmente este, demonstrar como os animais se comportam, permitindo que as pessoas observem o hábito destes em um ambiente que busca reproduzir o mais realisticamente possível o local onde tais animais são naturalmente encontrados. A proposta do zôo de Londres era justamente esta, apresentar os hábitos de um ser humano, de forma mais verossímil. Seria o início do Reality Show?

Reality show é um tipo de programa televisivo baseado na vida real. Podemos então falar de reality show sempre que os acontecimentos nele retratados sejam fruto da realidade e os visados da história sejam pessoas reais e não personagens de um enredo ficcional. Realmente chama a atenção os princípios motivadores dos “internos” na “casa mais assistida do Brasil”. Em site oficial, 76% dos participantes da edição BBB 2010 apontam o dinheiro como sua única e/ou principal motivação. Esta motivação não está apenas no Reality Show, ela se encontra disseminada nas sociedades brasileira e mundial. Pasmem, não são poucos os casos em que pessoas são motivadas pelas possibilidades de “dinheiro fácil” inclusive nas igrejas – basta mudar de canal que é possível acompanhar vários dos programas religiosos que abordam e se sustentam em tal temática. Infelizmente, com essa ação, poucos de nós sentem-se violentados.

Homossexualidade, agressividade, negociatas, mentira, exibicionismo, futilidade, sexualidade grosseira e dissimulação são algumas das tantas ações abordadas e apresentadas nos programas de realidade. São essas ações que nos incomodam como telespectadores, pois nos afrontam como cristãos. Mas não são estas as ações que formam e sustentam o mundo que conhecemos, vivemos e construímos nesse século XXI? Contra o mundo devastado por tais ações nós não nos indignamos, mas nos indignamos contra os programas de televisão que mostram em nossas casas, escancaram para nossas famílias, que valores como justiça, amor, domínio próprio, mansidão, caridade e benevolência são utópicos demais, distantes demais, inalcançáveis demais.

O que vemos nos shows de realidade são as ações que formam o mundo que nos cerca. Nossa indignação deve ser contra o mundo e todas as ações que nos afrontam como cristãos e, secundariamente, contra os programas televisivos. O BBB é nosso “zoológico televisivo”, lá observamos como a sociedade humana tornou-se banalizada pelo dinheiro e fama (23% das motivações restantes aos enclausurados globais). Observamos um mundo que se encontra em vias de um colapso originado pelo declínio das ações humanas, e agora, contra o eminente colapso, não nos indignaremos?

Os zoológicos não criam animais inexistentes, eles apenas os apresentam, tais quais são na natureza. O BBB não cria humanos hipotéticos, ele apenas os apresenta, tais quais são em nossa sociedade. Contra os programas de realidade e os princípios humanos em declínio abordados em suas programações já existe uma solução simples desde 1950, se gasta pouquíssima energia e não é necessário mais que uma fração de segundos, basta clicarem e mudar de canal (imenso o poder que emana de um simples controle remoto não?). Infelizmente a sociedade, o mundo e seus princípios degenerados continuarão nas ruas, nas esquinas, rondando escolas, trabalhos e igrejas. Infelizmente, contra os princípios degenerados que acometem a sociedade e o mundo em que vivemos ainda não há controle remoto possível. Contra a sociedade em declínio não há medida miraculosa, há apenas a necessidade de encararmos, dialogarmos e sonharmos que princípios como o amor e o respeito voltem a nos governar. Penso que devíamos começar por nós mesmos, mas isso é assunto para outro encontro.

Thiago Barbosa

(voltando a refletir sobre 1 João 5:4)