A arte de pensar livremente

A arte de pensar livremente
Aqui somos pretensiosos escribas. Nesses pergaminhos virtuais jazem o sangue, o suor e as lágrimas dos que se propõem a pensar com autonomia. (TeHILAT HAKeMAH YIRe'aT YHWH) prov 9,10a

quinta-feira, 25 de março de 2010

Quando líderes modernos copiam Zaratustra

Enfim terminei a releitura do “livro amaldiçoado”. Assim falou Zaratustra é uma obra prima. Um grito profundo de agonia mediante uma humanidade que não assume a soberania da consciência. Embora muitos duvidem, continuo cristão. Isso se dá pela plena concepção de Deus ser símbolo para Deus. Paul Tillich, o teólogo da cultura, nos salva do ácido causticante emanado das vociferações “Nietzschianas” ao apresentar a impossibilidade de representação real do Sagrado. Nossos apontamentos ao Deus nada mais é que especulação, Deus é símbolo por ser impossível sua descrição por ser sua essência reclusa à metafísica. O Deus morto por Zaratustra é símbolo, molde, charge, imaginário humano. A real essência divina não se faz conhecida. Nenhuma novidade, afinal, Feuerbach em seu “A essência do Cristianismo” já apontava ser a teologia, nossa amada e exaltada “ciência”, nada mais que antropologia. Nesse aspecto Zaratustra é poeta, a Saga do profeta nos encaminha aos calabouços mais profundos, aos grilhões mais resistentes, à angustia mais profunda do homem em sua busca de uma visão, enfim, antropocêntrica.

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Minha triste constatação se dá na cópia “ipsis litteris” das ações aristocráticas apresentadas por Nietzsche em Zaratustra, e pior, a cópia se dá nas comunidades de fé religiosa. Nas igrejas há tempos não se vê reflexão sobre o homem e sua interação com o mundo, há tempos não se vê relação fraterna de manutenção. Agora membros das comunidades de fé assumem a literalidade da imagem mítico-literária da “ovelha”. O povo, nas mãos dos péssimos líderes que se apresentam, tornou-se gado. Assim sendo:

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Se não nos convertermos e não fizermos como as vacas, não poderemos entrar no reino dos céus. Que há uma coisa que deveríamos aprender delas: é ruminar (refletir).

É, claro, de que serviria ao homem alcançar o mundo inteiro, se não aprendesse uma coisa, se não aprendesse a ruminar (refletir)?

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Pensando nos líderes de nossas comunidades, vejo outra passagem, tão cáustica como a anterior. Nossos líderes tornaram-se homens maus. Novidade alguma, já era real esse apontamento no Antigo Israel. Assim apontava o salmista no cap. 53:3-4. (Desviaram-se todos, e, juntamente se fizeram imundos; não há quem faça o bem, não há sequer um. Acaso não têm conhecimento os que praticam a iniqüidade, os quais comem o meu povo como se comessem pão, e não invocam a Deus?). Os líderes eram maus no livro de Salmos, igualmente malévolos no grito de Zaratustra e no coração de Nietzsche, e, infelizmente, continuam trilhando esse caminho em nossos dias. Assim falou Zaratustra:

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Que me importam a praça pública e a populaça e as orelhas compridas da populaça?

Homens superiores, aprendei isto comigo: na praça pública ninguém acredita no homem superior. E se teimais em falar lá, a populaça diz: Todos somos iguais.

Homens superiores, assim diz a populaça. Não há homens superiores; todos somos iguais; perante Deus um homem não é mais do que outro; todos somos iguais!

Perante Deus! Mas agora esse Deus morreu; e perante a populaça nós não queremos ser iguais. Homens superiores, fugi da praça pública!

...Ó meus irmãos! Subjulgai-me esses senhores atuais (os da praça pública), subjulgai-me essa gentinha!; são o maior perigo para o Super-homem.

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Homens da praça pública, vejam sua força! Afinal, quando Deus fizer voltar os cativos do seu povo, então se regozijará Jacó e se alegrará Israel (Sl 53:6b).

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Quanto a mim resta a esperança de aprender com erros de outros e desviar dos tropeços dos que me antecederam.

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Thiago Barbosa

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