A arte de pensar livremente

A arte de pensar livremente
Aqui somos pretensiosos escribas. Nesses pergaminhos virtuais jazem o sangue, o suor e as lágrimas dos que se propõem a pensar com autonomia. (TeHILAT HAKeMAH YIRe'aT YHWH) prov 9,10a

quinta-feira, 25 de março de 2010

Da (in)utilidade da Teologia

É bem cento que exista na Filosofia várias noções e óticas sobre o conceito de utilidade de todas as coisas. Por muito que sejam as visões, discorrerei de apenas uma delas, que segundo creio, será de grande valor em nossa reflexão.
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Comecemos nos perguntando: O que vem a ser utilidade? Por senso comum afirmariamos ser algo que sem o qual determinada realização ou pensamento estaria incompleto. Citemos o exemplo do metrô, que nos é útil para nos transportar até um destino pré-estabelecido. Sendo assim, utilidade portanto, consistiria em algo que nos serve de instrumento.
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Seguindo em raciocínio, questiono o valor daquilo que é útil: seria de maior valor o objeto que nos é útil, ou o objeto que se serve do útil para existir? Em outras palavras, o metrô haveria de ser mais importante do que o objetivo que temos ao pegá-lo? O martelo de um carpinteiro haveria de ser mais importante do que a mesa que através dele se faz? Se decidirmos seguir esse raciocínio chegaremos a conclusão de que aquilo que é útil não possui valor em si, a não ser aquele conferido-lhe em função de sua utilidade? Creio que seria exatamente esta conclusão.
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Uma obra de arte idealizada para servir de decoração possuiria mais valor do que aquela arte que nasce do artista em seu momento de êxtase estético? Pensando assim, se o útil é sempre usado como um instrumento, e se o instrumento não possui valor em si, mas naquilo que se direciona, logo concluiremos que o útil não possui valor, em detrimento de sua instrumentalidade.
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No âmbito teológico, questiono meus sinceros amigos: haveria de existir na Teologia uma não-utilidade que a levasse possuir valor em si e não em sua serventia? Atistóteles afirmou que a EUDAIMONIA, ou felicidade, é a única coisa existente que não serve à nada e nem à ninguém. Afinal, quem ficaria feliz para depois fazer uma graduação? Antes, faz graduação para ser feliz! Ou ser feliz para se casar? Pelo contrário, se casa para ser feliz. Por não estar a serviço de ninguém, a felicidade é o bem mais valoroso existente. Semelhantemente, poderiamos dizer que a Teologia é valiosa em si, ou ela nos é útil para sermos líderes esclesiásticos ou estudiosos? Entramos em seus obscuros porões para sermos detentores dos mistérios ocultos e sermos aplaudidos por muitos, ou vasculhamos seus textos em busca daquilo que é por si só?
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Ou sejamos ardentes apaixonados pela inutilidade desse saber, ou lhe conferimos utilidade e a prostituimos...
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Alan Buchard

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