A arte de pensar livremente

A arte de pensar livremente
Aqui somos pretensiosos escribas. Nesses pergaminhos virtuais jazem o sangue, o suor e as lágrimas dos que se propõem a pensar com autonomia. (TeHILAT HAKeMAH YIRe'aT YHWH) prov 9,10a

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Teologia, Medo e Esperança - O Cristo pessoal

Hoje tenho medo. Medo de ter me tornado amargo ao perceber o mundo, que já não era tão colorido, perder o restante de suas cores já desbotadas e envelhecidas pelos milênios de perverção do que penso ser cristianismo.

Amargo por me assumir – mesmo que sem intenção – o acusador de todo um sistema que dia após dia se torna mais visível à minha ótica pessoal. Aqui tento me justificar, não no intuito de desmentir o que até agora foi dito e escrito, mas na espectativa de que entendam a posição que assumo não só nessas linhas, mas por todos os meus dias.

O que me rege é a paixão. Sei de onde vim, o que passei. Conheço o que são trevas e agora que vejo luz não há força que me aprisione novamente à escuridão. Conheci o evangelho não como dogma, mas como ressurreição. Sim, um linfoma de Burkitt (O Linfoma de Burkitt - anteriormente denominado Linfoma Não-Hodgkin de alto grau de pequenas células não-clivadas - é uma neoplasia de células B maduras altamente agressiva que acomete mais a faixa etária pediátrica, sendo endêmico em regiões africanas. É altamente agressivo, sendo tratado como um setenciamento à morte em meados da década de 80) assolou minha vida e recebi a notícia de que seria aconselhável que eu passasse meus últimos dias em casa. Lá se vão 24 anos dos meus “últimos dias”. O submundo de uma grande cidade me foi apresentado aos 12, e desse submundo eu fugi aos 18. Nesse intermédio conheci a religião, várias foram elas, confesso que levado por parentes na esperança de que eu fosse resgatado, no início da sentença de morte predita pelo linfoma, posteriormente na expectativa de que eu me tornasse socialmente aceito. Nenhuma dessas apresentações surtiu efeito, já que o único efeito foi o ceticismo religioso. Uma aparência religiosa com uma vida meramente vazia. Meu afã de gritar mediante esse blog vem do meu encontro – místico/cognitivo – com o Cristo dos sinóticos, o mesmo Cristo que em sua simplicidade prediz que só existe metanóia mediante amor.

Conheci a Cristo, ao menos o meu (aquele que é símbolo construído por mim e para mim) e diariamente medito no que tenho feito para o que me digo chamado. Meu interesse vem no intuito de que as pessoas que comigo pensam, lêem e refletem conheçam – por experiência pessoal – o “verdadeiro Cristo”, aquele que é apenas seu, fruto de consciência, meditação, busca suor, lágrima, vivência e esperança. Ao meu grito de clamor presente nestes posts – por vezes pesados e pesarosos – une-se a necessidade de bradar a um mundo adulto que o único sentido de se pensar cristianismo arreligioso, anti-catequético e adoutrinário é conhecê-lo na individualidade de seu ser.

Por tanto ao me tomar como maledicente, herege, subversivo ou iconoclasta anti-eclesiástico saiba que aqui há um coração que bate junto à boca. Aqui nessas palavras por vezes destruidoras e rudes há alguém ainda incompleto, na sua eterna busca.

Encontrei no poema de Gonzaguinha um suspiro das minhas/nossas intenções nesse pretensioso blog.

Sangrando

Gonzaguinha

Composição: Gonzaguinha



Quando eu soltar a minha voz
Por favor entenda
Que palavra por palavra
Eis aqui uma pessoa se entregando

Coração na boca
Peito aberto
Vou sangrando
São as lutas dessa nossa vida
Que eu estou cantando

Quando eu abrir minha garganta
Essa força tanta
Tudo que você ouvir
Esteja certa
Que estarei vivendo

Veja o brilho dos meus olhos
E o tremor nas minhas mãos
E o meu corpo tão suado
Transbordando toda a raça e emoção

E se eu chorar
E o sal molhar o meu sorriso
Não se espante, cante
Que o teu canto é a minha força
Pra cantar

Quando eu soltar a minha voz
Por favor, entenda
É apenas o meu jeito de viver
O que é amar




Na esperança que só o Cristo dá...

Thiago Barbosa

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