A arte de pensar livremente

A arte de pensar livremente
Aqui somos pretensiosos escribas. Nesses pergaminhos virtuais jazem o sangue, o suor e as lágrimas dos que se propõem a pensar com autonomia. (TeHILAT HAKeMAH YIRe'aT YHWH) prov 9,10a

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Religião e Símbolo

"A religião nasce com o poder que os homens têm de dar nomes às coisas, fazendo uma discriminação entre coisas de importância secundária e coisas nas quais seu destino, sua vida e sua morte dependuram [...] Com sues símbolos sagrados o homem exorciza o medo e constrói diques contra o caos." (O que é Religião - Rubem Alves, p. 24)
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Compreender essa frase de Rubem Alves nos permitirá entender que a religião é estritamente humana.
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Baseada em experiências místicas - de uma pessoa ou grupo - a religião se sacramentalizará na vida destes e, todos os seus símbolos (místicos, práticos, divinos) se tornarão uma verdade absoluta.
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Dessa cosmovisão, o que for profano, ou seja, contra o entendimento desta religião, terá que ser subjugado pelo sagrado. E desse entendimento, os agentes religiosos farão obras louváveis e deploráveis.
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Contudo, como não questionar o por que de tantas barbaridades serem cometidas em nome da religião, que em si, é um empreendimento humano?
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Rubem Alves dá uma resposta realista na página 37: "nós nos esquecemos de que as coisas culturais (e aqui se encontra também a religião - acrescimo meu) foram inventadas e, por esta razão, ela aparecem aos nossos olhos como se fossem naturais."
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Pimba... Exorcizando o medo, ordenando o caos, e esquecendo que os símbolos são culturais, o ser humano se tornou capaz de passar por cima de um semelhante, empunhando uma bandeira religiosa nas mãos, bradando ser a "vontade de Deus".
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Como cristão errante, e que devota a fé na figura de Jesus, cabe a mim aprender com este homem a abrir mão das responsabilidades da religião - quem se lembra da briga de Jeus com o tempo, e sua aproximação com o profeta e o sábio? - e práticar o Amor, a Justiça, a Compreensão para com os que são, preconceituosamente, chamados de "pagãos" e, cima de tudo, com os próprios cristãos - nós que achamamos que temos o Rei e as dádivas do Reino na barriga.
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Afinal, em termos de religião, somos todos iguais, Não há superior nem inferior. O que existe é a fé depositada em um símbolo ou em outro, pois os homens são diferentes e, seus símbolos são pessoais... Nessa pessoalidade, o mundo sagrado é construído."
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Alan Buchard

2 comentários:

  1. Como diria Bonhoeffer esses descritos por Allan sao os Homo Religiosus...
    Buscaremos o cristianismo arreligioso, ou nos prenderemos na humanidade religiosa?

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  2. Agora que estou ao termino do livro do Rubem Alves, e prosseguindo na leitura do "Depois da Religião" de Lucy Ferry e Marcel Gauchet, também me questiono qual dessas duas situações haveremos de nos prender...

    Se for levar em conta o pressuposto que religião não é esforço humano de se encontrar Deus - pela forma natural, como foi afirmado pelos filósofos do séc 19, que não se pode encontrar Deus - e sim uma projeção subjetiva do indivíduo, para o objetivismo do metafísico, não há porque o cristianismo ser arreligioso. Se a religião é muito mais que pressupostas verdades absolutas, e também fenômenos antropologicos de carater cultural, enxergada como ideologia de construção de um mundo perfeito (sem opressão, sem opressões, com igualgualdade e harmonia), servindo de ópio enquanto este não sai da utopia, a religião nunca deixará de emergir do ser humano.

    Como cristão, podemos nos deter nessa discução e debater como será possivel no futuro um cristianismo arreligioso, ou se permanecerá uma humanidade religiosa. Contudo, para que essa questão não abranja apenas os cristãos, o essÊncial seria, talvez, debatermos como vivermos numa sociedade onde a religião deixar de ser algo estritamente absoluto, para assim manejarmos melhor uma sociedade de forma laicizante e igualitária!

    Alan Buchard

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