A arte de pensar livremente

A arte de pensar livremente
Aqui somos pretensiosos escribas. Nesses pergaminhos virtuais jazem o sangue, o suor e as lágrimas dos que se propõem a pensar com autonomia. (TeHILAT HAKeMAH YIRe'aT YHWH) prov 9,10a

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Pra não dizer que não falei de flores...

Neste momento não me encontro sob o resguardo da sagrada “colina” do Seminário do Sul (lugar que copiosamente aprendo a amar), estou na Igreja Batista Central da Penha, lugar que também aprendo a amar. Ao fundo a trilha sonora constante dos estampidos dilacerantes dos fuzis. Neste momento pouco importa a corporação que os dispara, afinal o terror em um goiano pacífico e desacostumado a essa aclimatação é o mesmo.
Nesse momento Jonathan Edwards grita aos meus ouvidos: “O crente que possui apenas conhecimento doutrinário e teórico, sem emoção alguma, jamais alcançará a excelência da fé” (Uma fé mais forte que as emoções – Jonathan Edwards). Lembro-me das aulas que me foram ministradas durante esse inicio de curso e me pergunto quando Karl Barth fará com que os fuzis se calem. A teologia de Bultmann disserta sobre as desestruturações das famílias cariocas? Finalmente me encorajo e pergunto o que EU “digo-penso” sobre a realidade que me cerca?
É notório que, protestantes ou não, negligenciamos o século XIX. O super-homem é o homem que engatilha e dispara, sendo impotente ao receber seu fruto do ódio, a bala. Perdemos a sensibilidade para com o próximo na medida em que nos preocupamos apenas com o metafísico, a casa de Feuerbach existe, mas está coberta de tiros, a realidade transpassa e emoldura a resina protetora da mente ocasionando resfriamento. Cristianismo frio.
O caminho para o cadáver da religião não seria o mesmo dos cavaleiros do apocalipse romântico (Kant, Schopenhauer, Niestzcsh e Feuerbach)?
Ok. Concordo que talvez tenha exagerado, mas não existe um romântico no Cristo que se preocupa tanto com o próximo e que aproxima o homem de sua carnalidade? Não uma carnalidade no aspecto pecaminoso, mas sim estrutural, formadora de músculos e ligamentos, eu e você. Preocupado com a transcendência, mas apegado à carne, ao homem, à necessidade imediata, não fomentando uma busca cujo efeito primário seja a benção, mas a necessidade de uma ação física e espiritual. Como diriam os Titãs, você tem fome de que?
Falta-nos emoção, sentimento, apego ao próximo como próximo que somos.
Certo, Marx ganhou a disputa, devo concordar com a ação opiosa da religião, mas nunca com a ação ilusória do cristianismo. Obrigado Harnnack, cristianismo é sim conteúdo exclusivo dos sinóticos, não no sentido histórico ou estórico, mas no sentido carnal. O cristianismo do toque, da carícia, do afago, do prazer de andar, comer e beber, sorrir e chorar, das longas caminhadas pelo empoeirado Israel.
Seríamos a mesma estrutura se escutássemos o grito dos românticos por atenção em relação ao HOMEM? Com certeza não. A incógnita é se nos apresentaríamos “melhor” ou “pior”. Mas creio que ainda assim, na dúvida do que não aconteceu, na proposição do que nunca será, ainda assim, creio que seríamos românticos (por nos lembrarmos da crudeleza da vida) e transcendentes como propôs o autor da epístola de Tiago, “Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me essa tua fé sem as obras, e eu, com as obras, te mostrarei a minha fé”.
Enquanto isso, lá fora, o super-homem continua em seu “último estágio de evolução orgânica”.

Thiago Barbosa