A arte de pensar livremente

A arte de pensar livremente
Aqui somos pretensiosos escribas. Nesses pergaminhos virtuais jazem o sangue, o suor e as lágrimas dos que se propõem a pensar com autonomia. (TeHILAT HAKeMAH YIRe'aT YHWH) prov 9,10a

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Bem vindo à Pseudo-Reforma, querido Protestante...



Uma boa dose de teologia na veia causa excitação, tira o cabresto, arranca as vendas do fundamentalismo dogmático e ensina-nos a procurar a sinceridade existencial.

Pensar teologicamente é observar uma das expressões mais usadas em nossos dias: Pós-Modernidade.

Pobre Era... Injustiçando-a, cuspimos em sua cara, zombamos de seus discursos, ridicularizamos suas vestimentas. Contudo, com um andar altivo, caminhamos pela história nos cobrindo com seus belos trajes.

Não sejamos hipócritas: abominamos esta presente Era acusando-a de patrocinar relacionamentos superficiais, incitar a violência e a prostituição; atentar contra a pura fé; secularizar os dogmas e, relativizar as verdades. Leia-se: Protestantes, não sejamos hipócritas.

Domingo após domingo bradamos do púlpito palavras de ódio contra a Pós-Modernidade. Afirmamos não ser o modelo apregoado por Jesus nos Evangelhos – e de fato não é -, porém, transportando para a prática, é como se pregássemos contra nós mesmos.

Dizemo-nos filhos da radical Reforma Protestante, lutando junto com nosso querido monge barrigudo entornador das boas cervejas de Wittenberg – Lutero – pelo livre exame das Escrituras e da prática do Sacerdócio Universal, não satisfeitos com a política pós-moderna medievalista praticada por Roma.

Só temos nome...

Entenda-me: Pós-Modernidade é medievalismo; medievalismo em quase sua totalidade é platonismo; platonismo é imposição, é “goela-abaixo”, falta de olhar crítico, é “manda quem pode, obedece quem tem juízo”.

Querido Protestante, hoje em dia não levamos em conta a realidade, mas sim o que queremos que sejam ou que façam: isso é domínio Católico Apostólico Romano; não criticamos os sistemas como bons filhos da reforma que dizemos ser, mas pelo contrário, engolimos o que nos é “ministrado” (abre aspas e fecha aspas), dando-nos por convencidos quando um pregador diz para sermos como os “Bereanos” e analisar suas palavras: isso é manipulação, é medievalismo, é pós-modernidade. Olha ela aí mais uma vez... Nossa injustiçada e fétida Era...

Arranquemos a roupagem esteticamente bela de nosso Cristianismo Protestante, olhemo-nos diante do espelho: Somos os bons e velhos Católicos de antes, hipócritas, diferente de nossos irmãos romanos, mas ainda sim, católicos.

Pobre Lutero, sua Reforma foi sincera até o momento em que fundaste sua própria igreja.

Os ideais mais sublimes da reforma deram lugar ao Obscurantismo pregado por Roma ao ser colocada a pedra fundamental da primeira igreja protestante pós-moderna.

Livre-exame das Escrituras? É uma realidade distante de nossas instituições. “Aceite o que eu prego e assim você será aceito por Deus”. Ultraje...

Sacerdócio Universal? “Como as ovelhinhas branquinhas, burrinhas, surdinhas, ceguinhas vão saber se achegar a Deus?”, precisamos de “sacerdotes” para nos ajudar!

Sola Fide? É difícil de acreditar nessa, uma vez que uma fé fora dos padrões normatizados pela instituição será considerada contrária a Deus; taxada como abominação.

Sola Sciptura? A escritura interpreta a própria escritura. Porém, com o passar dos anos será abandonada essa visão, passando a ser: o que eu acho que a escritura diz.

Sola Gratia? Essa daqui não é praticada, permanecendo no papel, já que com práticas afirmamos que quem não se propuser a participar de todas as programações eclesiástica, de todas as eucaristias, não se enquadrar em todos os dogmas, não será alvo da “Gratia di Deo”.

Bem vindo a Pseudo Reforma, querido Protestante...

O que nos diferencia de nossos legítimos irmãos católicos, é a sinceridade deles ao reconhecerem, aceitarem e respeitarem o domínio espiritual, doutrinário, dogmático, platônico, manipulador e indecente do Papa. Já nós, dizemos não haver mediador entre Deus e o homem a não ser Jesus, porém, temos medo de desmistificar a figura quase divina de nosso líder eclesiástico; duvidamos da veracidade da nossa salvação se ela não se enquadrar nos dogmas doutrinários de nossa instituição e se pensarmos diferentemente da “declaração de fé”.

De reformadores não temos nada, estamos mais para repetidores. Na declaração doutrinária dizemos sermos filhos da Revolução religiosa do séc XVI, mas continuamos a viver na revolução de Constantino ocorrida no séc IV.

Deixe que coloquem um cabresto em sua boca, uma viseira em seus olhos, ferradura nos pés e seja feliz puxando charrete do fundamentalismo religioso.

Bem vindo à nossa bela Reforma. Bem vindo ao Catolicismo Apostólico Romano...

Que Deus tenha misericórdia de nós... Protestantes!!!
Alan B. Buchard