A arte de pensar livremente

A arte de pensar livremente
Aqui somos pretensiosos escribas. Nesses pergaminhos virtuais jazem o sangue, o suor e as lágrimas dos que se propõem a pensar com autonomia. (TeHILAT HAKeMAH YIRe'aT YHWH) prov 9,10a

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Augusto dos Anjos - Eu, estranho personagem

Certo é que Augusto dos Anjos é meu poeta predileto, desde de a mocidade já tinha sobre mim uma sedução mórbida que só a curiosidade pela existencialidade humana pode emanar. Aqui um documentário sobre este ícone literário. Eu, Estranho Personagem, da série Tela Brasil, registra fatos da vida do poeta Augusto dos Anjos, que morreu de pneumonia aos 30 anos de idade, e analisa a única obra que deixou, o livro "Eu". O documentário foi produzido e veiculado na passagem dos 95 anos de morte do poeta, que ocorreu em 12 de novembro de 1914. Thiago Barbosa

Ferreira Gullart - A necessidade da Arte

"Sem criar Deus o homem jamais teria atingido a dimensão que tem hoje." O documentário Ferreira Gullar - A Necessidade da Arte, que estreia em 13/12, às 21h30, dirigido por Zelito Viana, Vera Paula, Aruanna Cavalleiro e Cláudio Duarte, reflete sobre o salto conceitual da arte no século 19 e explica por que o homem necessita da arte e da fruição do belo. Thiago Barbosa

Antônio Abujamra - TABACARIA (Fernando Pessoa)

Thiago Barbosa

Menino jesus - Fernando Pessoa

Nesse vídeo, a cantora Maria Bethânia diz o "Poema do menino Jesus", de Fernando Pessoa e, em seguida, canta "O doce mistério da vida". A linha tênue que se apresenta entre a teologia da experiência humana e a poesia que vem da alma humana. Ambas, teologia e fé, são frutos de uma existencialidade humana, pura genuína, íntima demais para serem abandonadas, mas, prontamente altivas para nossa curiosidade. Thiago Barbosa

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Reflexões sobre morte e vida



Peço permissão para, por meio desse pequeno texto, ser também pessoal e, escrevendo, buscar entendimento sobre sentimentos que me percorrem e aflingem. Certo é que este último mês não me foi dos melhores, afinal estar frente à morte nunca é uma experiência agradável; ela, a morte, sempre nos causa estranhamento, um certo grau de desconforto que são característicos. Sim, apenas neste mês de julho duas pessoas muito queridas morreram, uma após dois anos de lutas frente à uma enfermidade; a outra, de modo abrupto, rápido, com um enfarte fulminante; porém, ambos, antes desses eventos, cheios de vida, de força, de uma altivez motivadora e de um estilo de vida que nos impulsiona à Deus. Se foram o “tio Jurandir” e o “irmão Castilho”. E aqui me questiono: que sentimento é esse que nos percorre quando estamos diante à morte?

A morte é implacável e certa, talvez seja a única certeza de nossas vidas, é uma certeza biológica e incontestável. A poesia de Francisco Otaviano aponta para o sofrimento, que por meio da morte se faz presente: Quem passou pela vida em branca nuvem/ e em plácido recanto adormeceu,/ quem não sentiu o frio da desgraça,/ quem passou pela vida e não sofreu/ foi espectro de homem, não foi homem,/ só passou pela vida, não viveu. Este sentimento de desalento, de incompletude é evidência da impotência humana frente à morte, é demonstração da finitude humana, frente à um evento trágico que nos separa de quem tanto amamos, e é esta separação que nos dói, nos massacra, nos abre o peito em lágrimas. Eis a dor da saudade.

Mas, se por um lado a morte é dor, sofrimento, separação e saudade, por outro, pelo viés cristão, é esperança e renovo. Tal qual a natureza precisa da morte para recobrar forças e florir após o inverno, o cristão busca na morte o renovo, assim, nós cristãos redescobrimos na morte a força da esperança que nos impulsiona à viver. Sim, Deus manifesta-se também nas dores que nos cercam. Dietrich Bonhoeffer aponta para isso quando diz que a manifestação de Deus se dá na realidade humana: “Não há duas realidades, mas apenas uma, que é a realidade de Deus revelada em Cristo na realidade do Mundo. Ao comparticipar em Cristo, permanecemos, ao mesmo tempo, na realidade de Deus e na realidade do mundo.” A manifestação divina em Jesus, em todos os aspectos da sua vida messiânica, se deu nos momentos de felicidade e tristeza, durante as tempestades e bonanças, Deus manifestou-se em Cristo , e em nós também, nesses sentimentos díspares que moldam a complexidade humana. Assim, a morte não é o abandono de Deus, mas também é sua manifestação, de um modo pra além de nosso entendimento, apontando-nos para a finitude humana, mas sobretudo, mostrando a esperança da eternidade com Cristo em Deus. Dietrich Bonhoeffer foi enforcado pela ação do partido nazista durante a Segunda Grande Guerra, ao ser levado para o cadafalso um de seus algozes lhe disse: “Este é o fim”; Bonhoeffer retrucou dizendo: “Para mim, o início da vida.”

Mas a morte é implacável e certa, mesmo com essas constatações a humanidade teima em amenizar, mascarar a morte. Iludimos falseando a certeza da morte. Esse rompimento drástico com o tangível, o perceptível, talvez seja a razão pela qual nunca estamos preparados para essa trágica cisão. Mediante essas convicções, da certeza inevitável da morte e da incerteza do que está para além da vida, é que podemos enfrentar “a morte sem pavor ou rejeição”. A morte parece ser o antagonismo de Deus, mas curiosamente, frente à morte de Cruz, Jesus contempla o Deus que está ausente. Esta teologia negativa, da ausência, ainda sim nos remete à dimensão do cuidado e da esperança. A jornada de Jesus teve um duro golpe na cruz, mas ainda sim trouxe esperança enquanto percorria o caminho de Emaús. A morte é o nosso êxodo, é o mar que se abre para a completude. A dor da morte é irrepreensível, mas assemelham-se mais às dores de parto, pois é assim que experimentamos a vida, agora eterna. Assim o pranto se transforma em dança, enfim.

 Thiago Barbosa

terça-feira, 12 de junho de 2012

SEMPRE UM PAPO - Frei Betto e Frei Fernando

Grandes teólogos sempre terão lugar em nossas mentes, afinal, suas falas não são prisioneitas da teologia, mas são transcendentes na existencialidade humana. Thiago Barbosa

sábado, 2 de junho de 2012

Os rumos teológicos da Betesda - Ricardo Gondim

De certo modo sinto-me representado por essa fala do Pr. Ricardo Gondim. Percebo essa urgência na teologia brasileira/latinoamericana, uma urgência de pensamento, para além de uma EBD de luxo, pseudodenominada teologia apologética. É preciso coragem, consciência da aspereza do caminho, mas, acima de tudo, esperança na cruz que visualiza a vida, e não o metafísico. Thiago Barbosa

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Uma crônica do Natal - Chico Anysio

Ao lançar seu olhar para o natal, Chico Anysio mostra sua hermenêutica popular do evento natalício, e assim, aponta para sua visão de volta à Deus. Interessantíssimo. Thiago Barbosa

terça-feira, 22 de maio de 2012

Uma igreja relevante para os pobres

Uma bela fala do Pastor Carlos Queiroz, com uma bela apresentação feita por Ariovaldo Ramos. Realmente vale a pena assistir, ainda mais em um país de Evangelhos prósperos e em um mundo que ser pobre é ser Maldito. Eis a essência do Sermão do Monte. Thiago Barbosa

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Um pé na Bíblia, outro no chão - Frei Carlos Mesters

Eis mais um vídeo que nos chama à percepção de uma espiritualidade pronta à terra, ao povo simples do campo. Tomo aqui as palavras do amigo teólogo Jonathan Douglas: "Me lembra coisas do Antigo Testamento... fé que é necessidade, fé que está atrelada as necessidades básicas da vida. Num mundo tecnocrata, é bom sentir o sabor das canções e poesias que nos sensibilizam, nos aproximam do gosto da vida, daquilo que vale a pena, da presença divina que se manifesta também nos cantões e nos sertões." Carlos Mester é um desses seres que tem a erudição que fala para a vida, é a suavidade e a beleza. Como ele mesmo diria, é a porta lateral, da teologia, fazendo concordância com a porta principal da fé e da experiência do povo campesino com o SAGRADO. Com vocês, Frei Carlos Mesters. Thiago Barbosa

Rolando Boldrin - A fé na roça

Gosto de perceber a fé do povo simples do campo, parece ser mais genuína, mais livre, mais terrena e perspicaz. É na terra do campo que brota a fé que liga o homem à Deus, e todos vivendo ali, no campo, comendo, respirando, bebendo, amando. É necessário entender a fé campesina, aí então propor a fé para o Brasil. Eis a questão cultural para os teólogos brasileiros.
Thiago Barbosa

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Quem é Jesus?


Dias atrás, um domingo pela manhã, como tantos outros me pus de pé para começar a preparar minhas aulas de segunda-feira. Sim, esta é a sina de um professor, trabalhar mesmo fora do local de trabalho, mas não reclamo, são nesses momemtos que tenho contatos comigo mesmo e com o conteúdo que, antes de se apresentar aos alunos, deve inevitavelmente apresentarsse-me antes. Mas naquela manhã não seria assim tão simples, graças a um adepto do Salão das Testemunhas de Jeová.

Um senhor, já passado dos setenta anos, as rugas no rosto e as madexas brancas já se apresentavam como evidências da idade, apresentou-se à porta. Já suado da caminhada por outras casas antes da minha, mas ainda com o bom sorriso interorano, perguntou-me rapidamente como eu estava e se já havia ouvido falar de Jesus. Não, no momento não me veio nem uma só resposta mais complexa à mente, apenas disse que já tinha ouvido falar de Jesus, mas que não o conhecia bem. Sempre sorridente o “senhorzinho” me deu os exemplares da revista SENTINELA e DESPERTAI, e foi-se prometendo que nas revistas eu encontraria com Jesus.

A minha resposta naquela manhã foi recheada de sarcasmo, caso fosse-me apresentado uma visão particular de Jesus, ela teria sido criada mediante a tradição denominacional daquele senhor, e eu a conheceria, mas não me restringiria à ela. Caso me apresentasse um Jesus “novo”, poderia recuar à visão traditiva que me apresentaram desde a infância. Minha resposta dúbia, sarcástica, reflete também o sentimento que tenho como teólogo, afinal, essa é uma pergunta pertinente: Quem é Jesus?

Como personagem histórico, “factual (?)”, o Jesus passa a ser uma expeculação, tomando os textos de John D. Crossan a discussão sobre o JESUS HISTÓRICO se estenderia por mais um século, e possivelmente estaríamos deslizando sobre um lamaçal de “achismos”, afinal dados que evidenciem a historicidade (talvez um conceito que nos ajude nesse momento seja Geschitche) de Jesus não reflete a relação popular, a construção memorial do povo com o Jesus traditivo e/ou com o Cristo da fé.

Correndo o risco de sermos simplórios podemos fazer vários apontamentos sobre Jesus:
1 – Ele foi apenas mais um judeu;
2 – Foi um espírito “iluminado” não um homem verdadeiro, de carne e osso, mas um espírito que esteve entre a humanidade;
3 – Um homem, efetivamente um homem, mas soberano em boas ações, alguém que se condoía com as massas populares, os estratos mais baixos da sociedade de sua época;
4 – Possivelmente foi um agitador de massas, um revolucionário político, que por meio de ações carismáticas mostrou sua indisposição contra o comando governamental de sua época, um agitador que questionava o status quo de sua época;
5 – Um simples carpinteiro, um trabalhador braçal, insatisfeito  com sua religião e que pôs-se a questioná-la e reinterpretá-la.

Todas essas são visões possíveis, em determinado aspecto todas podem inclusive tocar-se, aproximarem-se. Mas evidentemente, ainda simplificam demasiadamente a percepção de Jesus em meio ao povo de hoje.

Podemos restringir nossas observações ao “cristianismo moderno”, e perguntar quem é Jesus para as denominações cristãs. Certamente teremos também várias respostas, pois cada denominação cristã “pintará” Jesus com suas próprias cores, seus próprios matizes, seus pincéis serão os dogmas e as tradições denominacionais. Batistas, metodistas, presbiterianos, luteranos, católicos, e todas as demais denominações terão, traditivamente, o Jesus sob seus matizes doutrinários e dogmáticos. Não é difícil de entender isso, Jesus sempre teve a sua imagem aproximada dos grupos aos quais ele foi apresentado. Na Europa medieval Jesus assume características européias.
 
                                                    
Nos Estados Unidos não seria diferente,  de igual modo ocorreria na Ásia,  na África . Em nós, como seria o Jesus Latino? Talvez com o rosto de nossos indígenas?

Evidencia-se então que, em qualquer sociedade ou grupo a imagem de Jesus é revista, reinterpretada e aproximada ao grupo social de inserção. A imagem do cristo é eurocêntrica no Velho Continente, é do conquistador Norte americano, é de olhos “puxados” na Ásia, o negro africano, ou mesmo o povo da floresta na América Latina. A imagem histórica de Jesus é refém da percepção sociológica, é refém da hermenêutica do povo que o insere e o busca.

Jesus, ou ao menos sua imagem, sempre se apresenta próximo de nós, por isso tantas imagens de um mesmo homem, é a nossa necessidade de vê-lo como um de nós. Assim, a imagem de Jesus é relativa ao grupo de inserção. Mas este não é um fenômeno moderno, os evangelhos já apontavam para essa reconstrução imagética de Jesus.

Para minha exposição me atenho ao texto alocado no evangelho de Marcos 8.27-30.

Mc 8.27 – Jesus partiu com seus discípulos para os povoados de Cesaréia de Filipe, e no caminho, perguntou a seus discípulos:”Quem dizem os homens que eu sou?”
Mc 8.28 – Eles responderam:”João Batista; outros Elias; outros ainda, um dos profetas”. –
Mc 8.29 – “E vós, perguntou ele, quem dizeis que eu sou?” Pedro respondeu: “Tu és o Cristo”.
Mc 8.30 – Então proibiu-os severamente de falar a alguém a seu respeito.

Alguns aspectos gerais podemos observar com alusão em outras passagens, Jesus era um Judeu, pertencia formalmente a este viés religioso; era membro dos estratos sociais inferiores sendo um carpinteiro, marceneiro, ou mesmo pedreiro; teve seu nascimento envolto em uma controvérsia já que a explicação de ser “filho do Espírito” não foi bem vista; era tido como um mestre, um rabino itinerante, caminhando pelo terreno árido trazendo esperança e confrontação em seus discursos.

Caso Jesus não fosse assim mesmo, esses são aspectos demonstrados pelos escritos canônicos, aos quais a sociedade toma conhecimento. O personagem Jesus é acessado por esses escritos, bem como o aspecto crédulo de cada fiel.

Chamo a atenção para a resposta dada à arguição de Jesus. Ela demonstra que este é um texto escrito posteriormente, e retropojetado aqui, ainda por um motivo desconhecido. Possivelmente já tenham a intenção de apresentar desde aqui Jesus como o Cristo, e essa afirmação vinda de Pedro denota a reconstrução da imagem desse personagem, que pode ter sofrido desgaste pela ação paulina, ou mesmo em outras passagens onde, por exemplo, Pedro teria “negado”Jesus. É importante que Jesus seja O CRISTO, justamente apontado por Pedro.

Mas aqui iremos por parte, esses poucos versos tem a intenção, e o fazem com grande propriedade, de apresentar a imagem de Jesus. Aqui todos os matizes se encontram, e são três os matizes: João Batista, Elias e os profetas, e O CRISTO.

A primeira resposta obtida é que jesus é João batista. Historicamente é provável que Jesus não tenha apenas se submetido ao batismo de João, mas também tenha integrado o seu círculo de seguidores. Isso pode se evidenciar na abertura do texto Marcano, onde Jesus é batizado por João e assume sua posição de agente retórico junto ao verso de Mc 1.14-15. O texto sugere que após o aprisionamento de João é Jesus seu sucessor direto, tendo o cuidado de que Jesus tenha o mesmo discurso de João, o arrependimento.

Jesus faz parte então do movimento profético-carismático, especialmente as curas e os exorcismos miraculosos apontam para isso. Mas Jesus reinterpreta as experiências carismáticas, afinal a expressão “ a tua fé te salvou” torna-se constante, como uma chave retórica ao final das ações miraculosas. Jesus é então aquele que comumente está envolto aos milagres, às curas, aos exorcismos, mas além disso fala sobre o arrependimento. É sucessor do movimento profético-carismático do “Batista”, mas antes reinterpreta-o, revive-o, transcende-o para algo maior que as maravilhas.

Hoje muitos cristãos vêem Jesus apenas pelo viés das curas, dos exorcismos. São reféns de uma prosperidade financeira miraculosa. Sim, certamente Jesus estava envolto em eventos extraordinários, incompreensíveis aos olhos do povo simples, mas que atingia em cheio suas expectativas. Jesus era agente do imediatismo dessas gentes, era agente da cura, agente da saciedade, agente libertário. Mas diziam muito mais sobre Jesus.

O segundo apontamente feito é que Jesus é Elias, ou, um dos profetas. O profeta, é um agente que traduz as necessidades das gentes sob o oráculo de Deus. Assumem a necessidade humana como anseio divino, e seu discurso, sua fala, é nesse sentido. Assim, o profeta expressa sua liberdade em relação ao passado quando reinterpretam a tradição, chegando até a inverter o sentido das palavras “originais”. Jesus como Elias assume para si o principal posicionamento desses personagem. O confronto de Elias se deu com a concretização do primeiro mandamento. A indisposição do profeta com os “baalistas” é quanto à exclusividade cúltica de Yaweh. Elias retorna veementemente ao decálogo da aliança, Jesus representa esse retorno também, porém, reinterpretado, revivido, transcendido às gentes de sua época. O primeiro mandamento é sim o exclusivismo cúltico à Yaweh, mas há agora a complementação retórica, ame ao teu próximo como a ti mesmo. Reintegração da tradição, vivência do presente, tudo em favor da vida e da libertação do povo.

Os temas da crítica social do profetismo de Israel em muito se aproximam dos dizeres de Jesus:
1 – A temática da opressão sofrida pelos pobres é uma constante nos relatos sinóticos;
2 – A denúncia da fraude comercial;
3 – O acúmulo de casas e terras;
4 – Edificações e construções luxuosas à custa dos pobres;
5 – O luxo com sinal de arrogância;
6 – Quebra do direito, sumamente com os menos favorecidos;
7 – Abuso da força e do poder contra os de estratos sociais inferiores;
8 – O cuidado especial ao estrangeiro, à viuva, ao órfão, enfim, aos que necessitam do cuidado.

O sermão da Montanha pode resumir bem o caráter profético de Jesus, e nisso o povo se apoiava e tinha sua expectativa. Jesus é profeta ao reinterpretar os seus dias e se colocar ao lado dos mais necessitados. Mas ele transcende a necessidade do corpo, ele ultrapassa o anseio social. Sim, a imagem de Jesus toma para si a figura do profeta, mas transcende-o. Jesus é mais que um profeta.

Certamente a última resposta ao questionamento de Jesus é a mais interessante, Jesus é O CRISTO. É essa afirmação que denota a retroprojeção do texto, o conceito messiânico traz consigo a força da ressurreição, portanto para que Jesus fosse tido como o CRISTO sua morte e ressurreição já deveriam ter sido evidenciadas por seu círculo de seguidores.

Jesus não via o juízo de Deus já se realizando, mas o domínio de Deus chegando, e isso não por acaso em pessoas que estão em necessidade. As aparições de Jesus, essas epifanias foram entendidas como aparições de Jesus a partir do céu. No entanto, de acordo com a interpretação de seus adeptos, Jesus não foi simplesmente trasladado ao céu como João Batista ou outros mártires antes dele. Antes, a ressurreição representa para eles, ao mesmo tempo sua elevação a uma posição celeste de domínio como “Filho de Deus” e “Senhor”. Decerto é também neste contexto que Jesus é situado dentro a tradição messiânica de Israel como “Christós”. De acordo com a fé de seus adeptos, como ressucitado e elevado a Deus, ele está preparado para estabelecer em seguida o seu domínio sobre Israel.

A morte de Jesus e sua ressurreição, de modo semelhante ao que já sucedera com o martírio do "Batista", são entendidas como uma etapa decisiva a mais no drama histórico-salvífico, sendo que se atribui ao próprio Jesus, nesse tocante, um papel de relevância permanente, desempenhado agora a partir do céu. Na tradição, essa “cristologização” ou “messianização” de Jesus é retroprojetada para o Jesus terreno, como é o caso da passagem que estamos averiguando. Assim, mesmo em vida, Jesus é também o “ha mashiah”, o “Christós”, aquele que trará a definitiva resolução aos problemas do povo de Israel.

De acordo com a fé de seus adeptos, como ressucitado e elevado a Deus, Ele está preparado para estabelecer em seguida o seu domínio em Israel.

Jesus tem consigo, ainda em vida, as dores da cruz a morte e a ressurreição; é também o filho de Deus, libertador, resgatador da humanidade para um mundo novo, redimido. Jesus, então visto como Cristo, torna-se o centro da salvação humana.

Talvez sejamos questionados sobre Jesus. Quem é Jesus, várias são as respostas possíveis, várias foram as respostas dadas a Ele mesmo em seus dias de caminhada em meio ao povo. Certo é que a imagem de Jesus é relativizada junto ao grupo social que inserimo-nos. Jesus é João Batista, é o agente da cura, da libertação dos espíritos imundos, é o agente miraculoso da fé tangível. Mas é muito mais que isso, Jesus é João Batista, mas transcende-o.

Jesus é Elias e os profetas, é a reinterpretação da Lei, é a disposição ao lado dos necessitados, famintos, excluídos, é aquele que caminha com os que estão à margem. Jesus é a disposição ao lado das gentes, dos povos de Israel, do Crescente fértil, mas não somente lá, aqui também, é Jesus , como profeta, que se dá a conhecer aos povos latinos. É Jesus, que alia-se aos uruguaios, argentinos, mexicanos ou Cubanos. É Ele que esteve com os povos indígenas massacrados pela imposição do poderio imperialista ibérico. É ele que ainda está nos acampamentos de trabalhadores sem-terra, ou mesmo com os povos da floresta que anseiam por suas terras. É Jesus como profeta que vai de encontro ao grito dos favelados e sertanejos do Brasil. Sim, Jesus é Elias e os profetas, mas transcende-os.

Jesus é enfim, o Cristo. É a esperança da fé, da redenção. É a esperança que se impõe contra o mau d’alma humana.Cura d'Alma. Jesus Cristo é a esperança daqueles que anseiam por dias melhores, plenos, repletos, da graça e da soberania de Deus. Mesmo sob um mundo desesperançado, com Jesus, O CRISTO, há de vir a esperança, e redimir nossas vidas para a plenitude. Opioso esse posicionamento? Mediante a causticidade dos dias, resta-nos o sonho, o suspiro, o ópio de um Deus que se manifesta na humanidade de Jesus, que é mil em perspectivas imagéticas, mas que se apresenta à esperança humana da vida. Se Jesus é relativo, O CRISTO é absoluto.

Com fé e esperança, N’Aquele que é o Cristo.
Thiago Barbosa

terça-feira, 27 de março de 2012

Educação planetária

Que Edgar Morin é um gênio isto é fato. Que, usualmente, os gênios são tomados por hereges é também um outro fato. Que a educação perdeu sua capacidade de perceber o complexo é notório, mas ainda há esperança na educação complexa. De igual modo há esperança para um mundo que se perceba complexo. Uma religião complexa, eis o desafio?
Sempre vale à pena retornar à Morin, e sua educação planetária complexa.





Thiago Barbosa

quinta-feira, 22 de março de 2012

O Cântico da Terra

Essa é pra quem diz que as coisas boas vivem no mundo das ideias:


O Cântico da Terra
Eu sou a terra, eu sou a vida.
Do meu barro primeiro veio o homem.
De mim veio a mulher e veio o amor.
Veio a árvore, veio a fonte.
Vem o fruto e vem a flor.
Eu sou a fonte original de toda vida.
Sou o chão que se prende à tua casa.
Sou a telha da coberta de teu lar.
A mina constante de teu poço.
Sou a espiga generosa de teu gado
e certeza tranqüila ao teu esforço.
Sou a razão de tua vida.
De mim vieste pela mão do Criador,
e a mim tu voltarás no fim da lida.
Só em mim acharás descanso e Paz.
Eu sou a grande Mãe Universal.
Tua filha, tua noiva e desposada.
A mulher e o ventre que fecundas.
Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor.
A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu.
Teu arado, tua foice, teu machado.
O berço pequenino de teu filho.
O algodão de tua veste
e o pão de tua casa.
E um dia bem distante
a mim tu voltarás.
E no canteiro materno de meu seio
tranqüilo dormirás.
Plantemos a roça.
Lavremos a gleba.
Cuidemos do ninho,
do gado e da tulha.
Fartura teremos
e donos de sítio
felizes seremos.

terça-feira, 20 de março de 2012

Teologia da prosperidade com Valdemiro Santiago.

Apenas apresento o vídeo, sem comentários, eles são desnecessários. E ainda acusam a teologia da libertação de ser uma espiritualidade "de esquerda". Talvez seja apenas a necessidade de se perceber que o evengelho é para todos, tal qual o Sermão do Monte nos diz:
E Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos; E, abrindo a sua boca, os ensinava, dizendo:
Bem-aventuradosos pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus;
Bem-aventuradosos que choram, porque eles serão consolados;
Bem-aventuradosos mansos, porque eles herdarão a terra;
Bem-aventuradosos que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos;
Bem-aventuradosos misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia;
Bem-aventuradosos limpos de coração, porque eles verão a Deus;
Bem-aventuradosos pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus;
Bem-aventuradosos que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus;
Bem-aventuradossois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.

( Mt 5:1 -11)






Thiago Barbosa

quarta-feira, 7 de março de 2012

O Deus Mercado

O mercado assume o lugar de Deus, e as instituições religiosas adentram um caminho perigoso. As exposições feitas pelo pastor Ricardo Bitum é interessantíssima.

O Pr. Ricardo Bitum, no Seminário Lutando pela Igreja, aborda A Crise Neopentecostal. Dentro da sua palestra ele enfatiza como o Deus Mercado tem influenciado a teologia principalmente a da Prosperidade e da Batalha Espiritual.










Thiago Barbosa

sexta-feira, 2 de março de 2012

Lembrando Milton Schwantes

Certamente esse é o teólogo que trouxe uma lufada de ar fresco ao pensamento teológico da América Latina. mais que um pensador, seu pensamento se fez com os alunos. Este vídeo mostra essa relação. Uma relação de vida acadêmica, uma vida que vale à pena ser vivida. Uma vida com Deus.
Obrigado Milton Schwantes, suas contribuições nos direcionaram ao estudo teônomo, ao academicismo, mas também à comunidade, às gentes latinas, ao ser humano.



Thiago Barbosa

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Aprendendo com o imponderável

A última postagem de meu amigo Jonathan me chamou a atenção. Há certezas? Essa é um pergunta que, afoitamente, qualquer religioso mais obtuso disporia-se ao sim, claro, assertivo. Mas em uma sociedade volátil como a que estamos inseridos, a certeza, é que não há certezas. Em nós resta-nos o salto no escuro, a fé, na religião ou na ciência. Ainda sim fé. Resta-nos o imponderável, aquilo que está para além de nós mesmos.

Luís Carlos de Menezes é professor do Instituto de Física da USP e membro do Conselho Técnico Científico da CAPES para Educação Básica e membro da equipe da UNESCO do Projeto de Currículos Integrados no Ensino Médio. Aqui ele mistura assuntos como cosmos, tempo, educação, tecnologia e exclusão social para discorrer sobre o momento singular da atualidade. Para ele "devemos reconhecer o imponderável, gerar o novo, tendo a dúvida como direito, essa é a condição de liberdade".

No vídeo a seguir, o professor Luis Carlos Menezes põe-se a pensar na possibilidade de se aprender com as incertezas, o aprendizado que vem do imponderável. Agradou-me, afinal, agrada-me a possibilidade de um alicerce movediço, ovos que são pisados, enquanto arfamos por uma vida mais autônoma. Na expectativa religiosa talvez seja mais adequado o uso do termo "tillichiano" - uma vida teônoma. Aquela que manifesta-se na busca incerta do Sagrado. Um sagrado mais para Rudolph Otto do que para Karl Barth. Talvez mais próximo do Deus desconhecido "nietzschiano" do que do Deus presente e palpável dos fundamentos estadunidenses. Talvez um Deus como o do PseudoDionísio de Aeropagital, um Deus que está para além, que é super-trans-over-hiper. Um Deus que está para além dele mesmo (talvez?), mas que certamente está para além de nós. Mas estranhamente, ainda assim, em nós.



Thiago Barbosa

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Sobre os esteriótipos sociais em declínio

A seguir segue o vídeo de Regina Casé, aqui ela apresenta sua percepção sobre a quebra dos rigores sociais esteriotipados impostos, em parte, pela mídia. Acima de tudo, eia a oportunidade para nós teólogos retornarmos à Paul Tillich, retornarmos à cultura como fenômeno de manifestação do sagrado, e ao invés de demonizá-la (a cultura), santificá-la. Eis a saída para um mundo que percebe Deus nas relações humanas e no fazer, e saber fazer dos homens e mulheres.

Há de se ter esperança, ao menos na percepção igualitária, na intenção cristã de que os esteriótipos sejam deixados de lados, e nos reste apenas a alcunha de irmãos.

TEDxSP 2009 - Regina Casé from TEDxSP on Vimeo.




Thiago Barbosa

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Certezas, verdades, que nada!


Quiçá um dia cristãos brasileiros entenderão que a lógica do literalismo, da verdade absoluta, do “é assim ou é assado”, é, na verdade, um desenho à lápis, além de se constituir como lógica de exclusão. Quiçá um dia reconheceremos, todos nós, que “certezas são como prisões” e que nossos esforços hermenêuticos são filhos da provisoriedade  das construções humanas que não, de maneira alguma, podem fugir do movimento da vida, do devir, da dança existencial.


Jonathan

domingo, 12 de fevereiro de 2012

A VIDA NOS LIVROS - É assim a vida com os livros:

é vento que acaricia o rosto livre
é voo que guia aos sem destino
é vida que vem e que vai nas palavras
é o saber daquilo que não se sabe;

é o destino que escreve a alma humana
é a alma que acalenta a esperança
é esperança que, teimosa, insiste em dar graça
é Graça que teima em resistir

é o saber que bate à porta e liberta
que enumera as possibilidades que se apresentam
que refaz a vida das migalhas

é palavra que acalenta
é vida que teima em seguir
e quando segue e finda, ainda há o que viver.

(Thiago Barbosa)

sábado, 21 de janeiro de 2012

A educação da dúvida

Hoje sou professor. Gosto muito do que faço, embora ainda tenha coisas que me desagrada, mas são coisas menores, pequenas, muito insípidas perto do prazer de estar em sala de aula.
Sim, o grande prazer nem é tanto estar como professor, mas sim estar em sala, ali o ambiente me soa mágico, lúdico, é ali que está aberto o campo da dúvida e da autonomia, e essas são palavras importantes de serem resgatadas, ainda mais por quem se enxerga como professor.


Minha caminhada até aqui foi em sala de aula, fui pra lá muito cedo, com pais que têm uma longa jornada de trabalho fora do lar, a escola acaba sendo o refúgio dos órfãos de horário comercial. Creio ser essa impressão que torna parte das escolas depósitos de crianças, e não mais um lugar tão lúdico assim. Isso parece ficar mais grave à medida que a criança se desenvolve, as dúvidas são tidas como afrontas aos mestres. Pobres mestres, já não são mestres se perderam a percepção de que a dúvida é o combustível de sua profissão. Inverteram a lógica do aprendizado, disseram que as respostas são mais importantes. Mentira. As respostas, se vieram, vieram por intermédio de uma pergunta, assim, matar a noção de curiosidade, da busca, é aniquilar o senso motor da educação.


Bom será o dia em que poderei me calar, e mediante a chuva de indagações, eu ficarei em silêncio, aí sim as crianças terão tomado para si a educação. Não essa curricular, segmentada, aprisionada em afirmações assertivas e predispostas, mas antes a educação dos anseios e expectativas da humanidade.


Se uma oração pode ser feita por um professor ela mescla cristianismo e filosofia: “Deixai vir a mim os pequeninos” (...)”só sei que nada sei”.


E pra não dizerem que não falei de Edgar Morin, que se levante na sociedade a educação do PENSO LOGO EXISTO, assim como a do EXISTO LOGO PENSO.


Thiago Barbosa

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Os inimigos da razão

Eis mais um vídeo de Richard Dawkins. Certamente não concordo com todos os seus apontamentos, porém, creio ser tão importante aprofundarmos naquilo que concordamos quanto naquilo que NÃO concordamos. Na teologia devemos nos aventurar na dúvida, no questionamento, assim nossas percepções serão cada vez menos certas, porém, serão cada vez mais nossas, pessoais. Talvez assim tenhamos contato com um ser humano não segmentado, mas, completo, complexo, tanto biológico quanto noológico. Como os pés firmes no hoje, nas gentes, mas com a mente que transcenda a finitude  e apresente a esperança.

Creio que Dawkins seja tão fundamentalista quanto qualquer clérico cristão, porém o clérico olha para a casa e vê dentro um homem, Dawkins e seu ateísmo olha para a casa e não vê ninguem lá dentro. Sendo a casa uma metáfora para o metafísico, ambos têm fé, e muita, vendo ou não vendo o homem na casa. Aconselho sempre a leitura homeopática de A ESSÊNCIA DO CRISTIANISMO - Ludwig Feuerbach. 

Ps. Esta conduta esotérica teima em aproximar-se dos discursos proferidos nos púlpitos cristãos. Talvez seja a hora de visitar as vociferações de Dawkins, e mais, de tudo aquilo que o século XIX já nos dizia com seus pensadores, para construirmos um novo trilhar para a religião. Teimo em prosseguir na solidão de meu caminho, com o vento gélido no rosto, e o horizonte amplo e inóspito à frente; sei que não estou sozinho, mas mesmo esta multidão trilha o caminho autônomo, sós, enfim.





Thiago Barbosa