A arte de pensar livremente

A arte de pensar livremente
Aqui somos pretensiosos escribas. Nesses pergaminhos virtuais jazem o sangue, o suor e as lágrimas dos que se propõem a pensar com autonomia. (TeHILAT HAKeMAH YIRe'aT YHWH) prov 9,10a

sábado, 12 de dezembro de 2009

Leonardo Boff, Darcy Ribeiro e a borboleta...

Leonardo Boff - O Darcy Ribeiro deixou no testamento que eu deveria fazer a encomendação do cadáver dele, e eu fiz. Também o que faço muito é atender pessoas que têm uma crise espiritual, estão em busca de alguma coisa, e pedem uma conversa. O Darcy pediu: "Eu quero a minha grande conversa com o frei Betto e o frei Boff". O Betto estava na África, tentei chamá-lo, não encontrei, e fui sozinho. Digamos que foi a última grande conversa entre tantas que tive com o Darcy. Ele disse: "Boff, quero ter uma conversa metafísica. Quero abordar a questão da morte, o que vem depois da morte, e não tem nenhum interlocutor, entre os meus amigos, que possa sustentar o discurso que eu quero". Fui lá uns quinze dias antes de ele morrer, e ele se abriu: "Quero discutir com você o tema da morte, porque estou enfrentando a morte, o meu último grande desafio". Então me fez ler o prefácio do inédito Confissões (livro lançado posteriormente), em que faz uma leitura de sua vida, não uma autobiografia, mas fatos relevantes, luminosos da vida dele. E terminava o prefácio dizendo: "Pena que a vida, tão carregada de lutas e fracassos, e vitórias, e vontade de trabalhar, seja marcada por uma profunda desesperança, porque nós voltamos, através da morte, ao pó cósmico, ao esquecimento, e ficamos na memória, que é curta e só de algumas pessoas, e voltamos à diluição cósmica". Então eu disse, ao terminar a leitura: "Darcy, acho que é uma interpretação de quem vê de fora. É como você ver a borboleta, e ver o casulo. Você pode chorar pelo casulo que foi deixado para trás e ver que ele morreu. Mas você pode olhar a borboleta e dizer: "Não, ele libertou a borboleta, e ela é a esperança de vida que está dentro do casulo".


Interessante, novamente uma entrevista me chama a atenção. Como gostaria de ser uma mosca para presenciar esta conversa.


Thiago Barbosa

2 comentários:

  1. Talvez também haja em mim essa hesitação quando ao fim de meus dias. E creio que também preciso de encontrar um ultimo consolo quando esse fim finalmente chegar.

    Boff foi ilustre, mas também lembro dos sábios budistas que face a morte só têm uma atitude: de uma aceitação que traz paz diante da dúvida que se aproxima.

    PS: Onde encontrou a entrevista meu amigo-mosca Thiago?

    ResponderExcluir
  2. revirando os dizeres do oráculo se acha tudo... foi assim, breve pretendo postar toda a entrevista. O único impecílio é que são várias páginas...
    bem vindo às páginas deste pergaminho pretensioso amigo...

    ResponderExcluir