E quando ele diz, a meu ver, vale a pena, ao menos, ouvir com atenção. O que disse abaixo reflete o que hoje poderia ser a melhor forma de se posicionar ao questionamento sobre vida pós morte, a ontologia de Deus e a realidade da alma. Um sacerdote Inglês da Igreja Anglicana disse com propriedade: "a essas questões só nos resta dizer 'não sei, não tenho certeza'!" Abandonaremos nossas certezas? Daremos espaço para a dúvida? Fé em que direção? Dos crentes religiosos? Dos crentes ateus?
Gosto da Esperança que a religião nos traz. Aquela que impulsiona a vida em direção a um viver intenso em busca da utopia brilhante de um novo amanhã.
"1. Não li ainda nem o livro nem a entrevista ao The Gardian. Li, apenas, a "nota" no Último Segundo: o grande físico - Stephen Hawking - teria afirmado que o cérebro é como um computador: quando quebrar uma peça, pára de funcionar, de modo que vida após a morte - e Deus - são ilusões de mentes com medo do escuro: o cérebro vai parar, e acabou. Para Hawking, aos 69 anos, e preso a uma cadeira de rodas por conta de uma doença degenerativa, não há necessidade de se explicar a origem do Universo por meio da hipótese de Deus - os homens, estamos sós e existimos em favos de carbono - mais nada. Lá fora, sopra apenas o vento da Tabela Periódica encantada...
2. Não serei eu a desmenti-lo: há, agora, assunto para duzentos sermões! Todavia, pode parecer sofisticação retórica apenas, mas assevero, não é: trata-se, isso aí, de "fé". Uma fé no oposto da fé clássica, mas, ainda assim, uma fé. Somente pela fé Hawking pode dizer que não há nem Deus nem vida após a morte. É uma fé heróica, eu diria, principalmente para quem está numa cadeira de rodas, e poderia depositar confiança de que do outro lado as coisas lhe sairiam melhores. Mas, como ele sugeriu: Hawking não tem medo do escuro. Sim, que o cérebro vai parar, isso vai - mas não podemos descartar a hipótese de Gasparzinho... uma alma absolutamente desprendida do corpo... Vai saber...
3. Certo: sabemos que a "idéia" de Deus veio a nós dentro e através de nossa história milenar - a noção de morte, de deuses, de vida além, tudo isso são criações humanas, profundamente antropológicas. A fé teísta - crente - que não tem consciência disso, é apenas fé, sem qualquer esclarecimento: um amontoado profundo de crenças emocional e tradicionalmente organizadas e sustentatadas.
4. Todavia, o fato de essas idéias terem surgidos na consciência humana dentro da história humana não significa - em termos epistemológicos - que as grandezas que elas pretendem representar não existam. As idéias são humanas - é verdade. Não cabe doutrina divina, absoluta, "verdadeira". Tudo, absolutamente tudo, da doutrina dos anjos a da salvação, constituem construtos humanos. Todavia, não se pode nem assumi-las, as doutrinas, como certeza nem abandoná-las em nome da mesma certeza. No campo de trabalho de Hawking, são impossibilidades epistemológicas, e não será em seu campo que decidirá por sua validade...
5. Preso ou não em sua cadeira de rodas, Hawking, como todos nós, decidirá - e decidiu (se decidiu!) essa questão no campo da aposta pessoal, da fé, da adesão a um sim ou a um não sem qualquer outra base que o sim e o não que, depois de dados, consideram melhor fundamentados os argumentos racionalizadores que defendem sua posição. Hawking deve considerar mais "racional" o ateísmo, tanto quando "Ratzinger", o teísmo: empate...
6. Eu não tenho pressa em fazer minha aposta. Venho de uma igreja que exige apostas, tomadas com o desconhecimento de se tratar de aposta, de risco, de imprevisibilidade - a segurança que apregoam está baseada na força que dão à própria aposta: é ela, a aposta, que faz de si mesma o que é - segurança... Mas, olhando de fora, não é mais do que isso: um sim carregado de desejo e engajamento emotivo... Como o não de Hawking.
7. Eu vou esperar pra ver. Se é que haverá algo para ver. Se é que haverá quem veja."
Osvaldo Luiz Ribeiro
Jonathan
Que texto delicioso!
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