A exegese dos escritos sagrados de Israel tem sua origem antes do Novo Testamento. Nos livros do Antigo Testamento já se encontram interpretações e explicações a respeito da palavra de Deus que havia sido registrada e eram promulgadas às pessoas, prova disso são as tradições, traduções e interpretações emanadas das escrituras, mesmo sem uso metodológico exegético.
Possivelmente o primeiro grande esforço exegético tenha sido a tradução da “LXX”. A septuaginta teve o desafio de acessar uma língua consonantal, com padrões de vocalização e idéias totalmente diferentes. Na verdade tentaram transportar toda uma cultura característica do Crescente Fértil, emoldurada com características peculiares nos aspectos sociológicos, econômicos, políticos, religiosos, traditivos e, de modo desafiador, expor essas realidades a uma cultura e civilização totalmente distinta. Oriundos desse esforço hercúleo para tornar acessível um texto caracteristicamente judeu para a sociedade helênica, e em contrapartida para os cristãos, podem notar distinções entre o processo interpretativo de ambas as realidades, tanto judaica como cristã. Para os judeus, a escritura em seu conteúdo e extensão total é a única norma para o pensamento teológico, palavra por palavra a aplicam a suas vidas através dos midrash. De modo distinto, a comunidade de cristãos primitivos acessam o Antigo Testamento se dá por intermédio do Espírito que permite de modo retrospectivo como referência à plenitude escatológica.
No período referente aos pais da igreja, o Canon do Antigo Testamento não era uma realidade fechada, desse modo houve a possibilidade de se inserir os textos que formam o Novo Testamento. Assim há a proposta de um acesso metodológico diferenciado da usual literalidade, o acesso alegórico é uma forma de transcender e interpretar as escrituras por intermédio da metáfora. Emanam agora dos textos verdades mais profundas e inatingíveis até então. Em Teodoro há o retorno da interpretação textual, no período que caminha para o fim do período dos pais da igreja retornamos a uma interpretação que caminha para um sentido ético. Vemos em Teodoreto de Ciro a intenção de transmitir as possibilidades de interpretação exegéticas possibilitadas até então. No ocidente aponta-se para um tríplice sentido na interpretação bíblica: 1)histórico; 2)místico; 3)ético.
Com o estudo da patrística chegamos à idade medieval. Torna-se possível elucidar a mensagem cristã mesmo no âmago de textos do Antigo testamento. Mesmo sem um ideal conhecimento das línguas originais formadoras do Canon, os estudiosos medievais caminharam de forma sustentada para uma interpretação literal consistente. A exegese do Antigo Testamento recebe um valoroso auxilio advindo do acesso à exegese judia.
No período que perfaz a Reforma vemos o surgimento do ideário conhecido como Sola Scriptura, ou seja, somente a escritura é parâmetro para a fé e a construção doutrinária eclesiástica. A investigação escriturística volta-se, definitivamente, para o acesso às línguas originais, bem como a formação do conceito de que o Novo Testamento é a chave interpretativa para o Antigo Testamento. A ortodoxia protestante aponta para a inspiração total do texto bíblico, tal qual sua inerrância, ambas de origem divina.
A idade moderna traz consigo o método histórico-crítico e uma racionalização profunda sobre os textos bíblicos, essencialmente o Pentateuco. A partir de Immanuel Kant percebemos o levante do rigor científico no que diz respeito à interpretação da bíblia. Para J. G. Herder o texto do Antigo Testamento ganha vida na experiência do leitor que, intuitivamente, penetra nele e permite que o texto alcance uma relevância teológica e comprometedora frente ao homem auto-suficiente. A partir daqui temos os diversos acessos metodológicos oriundo do hiperônimo “método histórico-crítico”, citando como exemplos Ewald e Wellhausen.
Aqui percebemos a saga de diversos pensadores e suas tentativas de acessarem a palavra de Deus. O texto ganha força e atualidade na vida das pessoas que buscam nele sentido de vida. os textos são defesas das piores horas. É forma de responder a vida. Agrega-se neles resistência e utopia frente às tragédias. São por tudo chaves da vida. Somente depois de um trabalho metodologicamente correto a Bíblia poderá pronunciar a palavra que tem que proclamar para cada época.
Thiago Barbosa
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