A arte de pensar livremente

A arte de pensar livremente
Aqui somos pretensiosos escribas. Nesses pergaminhos virtuais jazem o sangue, o suor e as lágrimas dos que se propõem a pensar com autonomia. (TeHILAT HAKeMAH YIRe'aT YHWH) prov 9,10a

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Das verdades metafóricas


Dos pensadores que existiram um parecer ser mais difícil de “engolir”: Friedrich Nietzsche. À menor menção de seu nome muito já ficam sobressaltados e de pelos ouriçados. Sua existência foi conturbada, suas palavras massacrantes. Onde quer que seu discurso seja dirigido, lá produz uma grande chacina. Nietzsche não pode ser endemonizado nem muito menos divinizado, afinal, nos seres metafísicos ele não acreditava. Contudo, o que quero aqui é desafiar os presentes companheiros, atirando flechas envenenadas de pura crítica. Quem haverá de superar?

Existe, pois, entre nós uma pretensa vontade de encontrar o que é absoluto. Se não é encontrar, então poderíamos dizer divagar sobre tal verdade. Existe uma necessidade de adequar alguns conceitos que formularam, ou formulamos, nisto que chamamos de realidade. Nós seres racionais, que não possuímos garras nem presas, criamos o intelecto ao que Nietzsche diria: “o intelecto, como um meio para conservação do indivíduo”. Mas surge daí um impasse: uma vez criado o intelecto, como haveríamos de passá-lo adiante. Ora, forma-se aí a linguagem. Essa necessidade de um “tratado de paz” entre os homens, que nos impulsiona à formulação de uma verdade, será expressa em linguagem. Tal linguagem tende a ser metafórica, uma vez que não expressa a verdade, já que essa foi criada por um impulso de sobrevivência. Esses disfarces criados por nós, artesãos por excelência, com o passar do tempo deixam de ser considerados como tais, que segundo o pensador: “somente por esquecimento pode o homem alguma vez chegar a supor que possui uma ‘verdade’".

Uma vez esquecido, essas metáforas tendem a se canonizar com o passar dos séculos. No entanto, como poderemos deixar de nós perguntarmos o que é a verdade? Nietzsche responde: “Um batalhão móvel de metáforas, metonímias, antropomorfismos, enfim, uma soma de relações humanas, que foram enfatizadas poética e retoricamente, transpostas, enfeitadas, e que, após longo uso, parecem a um povo sólidas, canônicas e obrigatórias: verdades são ilusões, das quais se esqueceu que o são, metáforas que se tornaram gastas e sem fora sensível, moedas que perderam sua efígie e agora só entram em consideração como metal, não mais como moedas”. ("Sobre verdade e mentira no sentido extra-moral", Coleção Os pensadores)

Confesso, queridos amigos aspirantes à teólogos, que me encontro em mais lençóis com esse homem. O que poderão suscitar em meu auxílio neste momento em que a verdade morreu?!


Alan B. Buchard

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