(Péricles na Ágora grega)
"A Grécia se reconhece numa certa forma de vida social, num tipo de reflexão que definem a seus próprios olhos sua originalidade, sua superioridade sobre o mundo bárbaro: no lugar do Rei cuja onipotência se exerce sem controle, sem limite, no recesso de seu palácio, a vida política grega pretende ser o objeto de um debate público, em plena luz do sol, na Ágora (centro da cidade - local de debate), da parte de cidadãos definidos como iguais e de quem o Estado é a questão comum; no lugar das antigas cosmogonias associadas a rituais reais e a mitos de soberania, um pensamento novo procura estabelecer a ordem do mundo em relações de simetria, equilíbrio, de igualdade entre diversos elementos que compõem o cosmos." (Jean-Pierre Vernant, As origens do pensamento grego, ed. Bertrand Brasil, p. 12)
Os gregos são filhos da Cidade; a "filosofia é filha da cidade". Depois que abandonam o passado Micênico, por conta da invasão dos Dórios, os gregos estruturam uma nova forma de sociedade, com ela uma nova forma de pensar, e com esta última, a razão, uma nova forma de enxergar o mundo. Seus mitos, aqueles de "soberania", dão lugar ao equilíbrio presente em cada homem; a sociedade estruturada na mitologia dá espaço à um pensamento laico. É uma reviravolta e tanto...
Pergunto-me: será que precisaremos da invasão de um povo estranho que nos leve a repensar nossas crenças, nossos dogmas, para que enxerguemos que essa divinização das figuras de poder (políticos, papa, pastores, sábios, sadus, confenrencistas) não passa de um profundo engano?! De uma obstrução da Razão?! Será mesmo preciso uma nova reviravolta grega?!
Alan Buchard
Nenhum comentário:
Postar um comentário