A arte de pensar livremente

A arte de pensar livremente
Aqui somos pretensiosos escribas. Nesses pergaminhos virtuais jazem o sangue, o suor e as lágrimas dos que se propõem a pensar com autonomia. (TeHILAT HAKeMAH YIRe'aT YHWH) prov 9,10a

domingo, 31 de julho de 2011

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Apontamentos interessantes que aproximam o Cristianismo e a astrologia

Eis mais um dos milhares de vídeos que circulam sobre os feitos sincréticos de Constantino e de compilação das tradições fundantes do Cristianismo...

Vale sempre a pena conferir e, depois, tomar opinião.






Thiago Barbosa

terça-feira, 19 de julho de 2011

FUNDAMENTALISMOS

Não importa de qual lado, o fundamentalismo causa suas vítimas tanto de um lado quanto de outro... Eis a música de Cajú e Castanha, a disputa entre o Crente e o Cachaceiro. Fundamentalismo de um lado e de outro, mas  "pega" é feio até o final.



O Crente E O Cachaceiro

Caju & Castanha

Quero ouvir você contar
Para o povo Brasileiro
Uma diferença que tem
Do crentre pro cachaceiro [2x]
O crente vai pra igreja
Levando a bíblia na mão
No coração vai a fé
No juízo a salvação
Sempre esperando Jesus para partir com o irmão
Cachaceiro sai de casa
levando o vício na mente
Um tiragosto no bolso
todo metido a decente
Volta conversando só e catingando a aguardente
Quero ouvir você contar
Para o povo Brasileiro
A diferença que tem
Do crentre pro cachaceiro
Quando crente vai a praia
Fica todo agoniado
Por que na praia se vê
Bumbum andando pelado
E quem é crente não gosta
Que é um pecado danado
O cachaceiro não gosta de perder tempo em igreja
Por que lá não tem cachaça
Nem sai Whisky em bandeja
Também não tem misturada
Nem conhaque, nem cerveja
Quero ouvir você contar
Para o povo Brasileiro
A diferença que tem
Do crentre pro cachaceiro
O crente não dá valor
A quem vive na batucada
Não gosta de carnaval
Nem forró e nem lambada
Por que no céu não existe
Essa grande palhaçada
O cachaceiro não gosta
De quem vive se orgulhando
Dizendo que Jesus Cristo
Qualquer dia tá voltando
E o pastor da igreja
Cada vez mais enricando
Quero ouvir você contar
Para o povo Brasileiro
A diferença que tem
Do crentre pro cachaceiro
Crente diz que cachaceiro
Não é um homem moderno
Que quem bebe no verão
Também bebe no inverno
E quem morre de cirrose
Vai direto pro inferno
Cachaceiro diz que o crente
Gosta muito de julgar
Olhar a vida dos outros
Sem Jesus autorizar
Só o crente quer tá certo
E desse jeito não dá!
Quero ouvir você contar
Para o povo Brasileiro
A diferença que tem
Do crentre pro cachaceiro
Crente não gosta de bêbado
Acha isso uma feiura
Diz que bêbado é inxirido
Gosta de contar bravura
E quem gosta de cachaça
Não gosta de escritura
Cachaceiro diz que o crente
Nunca pode ter valor
Crente pobre anda apé
Pra imitar o senhor
E se vende qualquer coisa
Paga imposto ao pastor
Quero ouvir você contar
Para o povo Brasileiro
A diferença que tem
Do crentre pro cachaceiro
Eu não gosto de cinema
Nem assisto futebol
Não dou valor a novela
E nem creio em catimbó
E eu gosto é de ler a bíblia
De gravata e paletó
Pois fique na sua igreja
E deixe eu me divertir
Não fale da minha vida
Que eu também não vou aí
Por que quando eu for pro céu
Lá não quero discutir
Quero ouvir você contar
Para o povo Brasileiro
A diferença que tem
Do crentre pro cachaceiro
Amigo tome um conselho
Abandone essa cachaça
Vá orar numa igreja
Pra sair dessa desgraça
Deixe de ser vagabundo
Que a cirrose lhe ameaça
Irmão quero lhe dizer
Eu sei que o senhor é crente
Não me chame vagabundo
Que senão fico valente
Larga essa escritura
E vamos tomar aguardente
Quero ouvir você contar
Para o povo Brasileiro
A diferença que tem
Do crentre pro cachaceiro
VocÊ sabe que eu sou crente
E jamais vou aceitar
Pode seguir seu caminho
Que eu também vou viajar
Eu acho que esse assunto
Já tá é bom de encerrar
Já que o irmão vai embora
Eu também vou me mandar
MAs lhe peço por favor
VAmos ali em um bar
Se o irmão não pagar duas
Deixe que eu posso pagar
Quero ouvir você contar
Para o povo Brasileiro
A diferença que tem
Do crentre pro cachaceiro
Você é um cachaceiro
E no céu não pode entrar
Jesus não gosta de bêbado
Que bebe pra se mostrar
Lá no céu só entra os crente
Os pinguço vão ficar
O irmão tá enganado
O céu é pra todo mundo
Se no céu tiver cachaça
Lá também tem vagabundo
Então eu vou beber fiado
E vou passar cheque sem fundo
Quero ouvir você contar
Para o povo Brasileiro
A diferença que tem
Do crentre pro cachaceiro
No céu não existe bar
E nem banco com dinheiro
Lá no céu existe a paz
Para o cristão verdadeiro
Lá não entra criminoso
Nem ladrão nem cachaceiro
Irmão lhe peço desculpas
Sei que um dia vou morrer
MAs quando tiver pertinho
Eu vou deixar de beber
Vou pedir perdão a deus
E lá no céu vou viver
Quero ouvir você contar
Para o povo Brasileiro
A diferença que tem
Do crentre pro cachaceiro [5x]


Thiago Barbosa

terça-feira, 12 de julho de 2011

Há esperança para a Anarquia?



Christiania: a prova de que anarquia não é utopia

Christiania: A Lenda da Liberdade No coração gelado do capitalismo europeu, na fria Copenhagen, Dinamarca, uma comunidade de 10 mil pessoas vive num outro compasso. Cristiania não tem prefeito, não tem eleição e funciona sem governo, sem imposição de leis que controlem a organização social. A lenda da cidade-livre da Dinamarca é real: inspirada no Anarquismo, Christiania resiste há mais de 20 anos, inventando um jeito novo de conviver com os problemas da vida comunitária. Limpeza das ruas, rede de esgoto, manutenção dos serviços básicos, tudo é decidido e feito a partir de reuniões entre os moradores da cidade.

Eles se definem como uma comunidade ecologicamente orientada, com uma economia discreta e muita autogestão, sem hierarquia estabelecida e o máximo de liberdade e poder para o indivíduo. Uma verdadeira democracia popular direta, onde o bom senso e o diálogo substituem as leis. No Brasil, poucos conhecem a história da cidade-livre. O TESÃO vai contar, com exclusividade, a lenda da liberdade.

Christiania começou a escrever sua história em 1971. Foi a partir das idéias de um jornal alternativo, o Head Magazine, que um grupo de pessoas, de idades e classes sociais variadas, decidiu ocupar os barracos de uma área militar desativada na periferia de Copenhagen. Era o início de uma luta incansável contra o Estado. A polícia tentou várias vezes expulsar os invasores da área, mas sem sucesso. Christiania virou um problema político, sendo discutida no parlamento dinamarquês. A primeira vitória veio com o reconhecimento da cidade-livre como um "experimento social", em troca do pagamento das contas de luz e água, até então a cargo dos militares, proprietários da área. O Parlamento decidiu que o experimento Christiania continuaria até a conclusão de um concurso público destinado a encontrar usos para a área ocupada.

Em 73 houve troca de governo na Dinamarca e a situação de radicalizou: o plano agora era expulsar todos e fechar o local. O governo decretou que a área seria esvaziada até o dia 1º de abril de 1976. Na última hora, o Parlamento decidiu adiar o fechamento de Christiania. A população da cidade-livre tinha se mobilizado para o confronto com o Estado, mas a guerra não aconteceu. O dia 1º de abril tornou-se o dia de uma grande manifestação da Dinamarca Alternativa. Ao longo dos anos, a cidade-livre aprimorou sua autogestão: casa comunitária de banhos, creche e jardim de infância, coleta e reciclagem de lixo; equipes de ferreiros para fazer aquecedores a lenha de barris velhos, lojas e fábricas comunitárias de bicicletas.

A década de 80 foi marcada pelas drogas. Em 82, o governo começou uma campanha difamatória contra Christiania: a cidade-livre era considerada o centro das drogas do Norte da Europa e a raiz de muitos males. A comunidade teve então que organizar programas de recuperação de drogados e expulsar comerciantes de drogas pesadas, como a heroína. O mercado de haxixe continua funcionando normalmente. O governo dinamarquês nunca deixou Christiania em paz, Vários planos foram elaborados visando a "normalização e legalização" da área.

Em janeiro de 92, finalmente um acordo foi assinado. Christiania já tinha mais de vinte anos de independência e provara ao mundo que é possível viver em liberdade. Mesmo com o acordo, o governo ainda tenta controlar a cidade-livre. A resposta veio no ano passado, com o lançamento do Plano Verde, onde os moradores de Christiania expressam sua visão de futuro e que rumos tomar. A lenda de Christiania continua sendo escrita.


Christiania: uma cidade sem governo

Christiania II: Uma Cidade sem Governo Christiania tem provado ao mundo que é possível viver numa sociedade sem autoridade constituída, sem delegação de poder através de mandatos e eleições. A cidade-livre da Dinamarca criou um experimento social definitivo contra a idéia dominante de que a humanidade se auto-destruirá se não existir um controle sobre a liberdade individual.

Os habitantes de Christiania decidiram correr o risco de andar na contra-mão da história. Para eles, o governo, seja lá qual for, e seus mecanismos de administração pública são sinônimos de burocracia, abuso de poder e corrupção.

Vivendo sem a necessidade de leis que controlem a organização social, cada morador da cidade livre tem que fazer sua parte enquanto cidadão e confiar que todos farão o mesmo. É uma nova ética de convivência, baseada na honestidade e na solidariedade.

Em 23 anos de existência, a cidade-livre sempre esteve associada a rebelião contra a ordem estabelecida e experimentando novos meios de democracia e formas de autogestão da administração pública. Christiania se organiza em vários conselhos, onde todos os moradores têm direito a opinar e discutir os problemas comunitários. As decisões não são feitas por votação, mas sim através do consenso. Isso significa que não é a maioria que decide e sim que todos tem que estar de acordo com as decisões tomadas nas reuniões. Às vezes, contam-se os votos somente para se ter uma idéia mais clara das opiniões, mas essas votações não tem nenhum significado deliberativo, não contam como uma solução para os problemas da comunidade. Christiania é dividida em 12 áreas, cada uma administrada pelos seus moradores, para facilitar o funcionamento dos serviços básicos. As decisões tomadas sempre por consenso podem parecer difíceis para nós, brasileiros acostumados ao poder da maioria sobre a minoria (pelo menos, é assim que se justificam os defensores das eleições).

Mas para os habitantes da cidade-livre, o consenso só é impossível quando existe autoritarismo, quando alguém tenta impor uma opinião sem dar abertura para que outras idéias apareçam e até prevaleçam como melhor solução. A experiência tem ensinado aos moradores de Christiania que cada reunião deve discutir só um assunto, principalmente na Reunião Comum, que decide sobre os problemas mais importantes da comunidade. E, contrariando o pessimismo dos que não conseguem imaginar uma vida sem governo institucional, a utopia está dando certo: a vida comunitária de Christiania preserva a liberdade individual e constrói uma eficiente dinâmica de relacionamento social, livre do autoritarismo e da submissão. A cidade-livre vive o anarquismo aqui e agora.


Ação Direta

Os moradores da Christiania fazem questão de ser uma pedra no sapato do capitalismo. Eles não se contentam apenas em incomodar os valores tradicionais da sociedade européia com a vida alternativa que levam. Christiania também desenvolve várias atividades com o objetivo de contestar o sistema capitalista e divulgar as idéias anarquistas.

Durante os primeiros anos, a cidade-livre se tornou conhecida por suas ações no teatro e na política. E quem conseguiu maior sucesso nessa área foi o grupo Solvognen. Uma de suas ações diretas mais famosas foi em 1973, quando a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), uma espécie de braço armado dos Estados Unidos na Europa, realizou um encontro de cúpula em Copenhagen. Inspirados no programa de rádio "Guerra dos Mundos" de Orson Welles, que simulou uma invasão de marcianos colocando em pânico a população norte-americana na década de 40, centenas de pessoas, lideradas pelo grupo de teatro de Christiania, fizeram parecer que um exército da OTAN tinha ocupado a Rádio Dinamarca e outros pontos estratégicos da cidade. A impressão que se tinha era que a Dinamarca estava ocupada por forças estrangeiras. Durante várias horas, o país inteiro ficou em dúvida se a invasão era teatro ou realidade. A ação foi uma dura crítica a intervenção dos Estados Unidos na vida dos países europeus.

O Solvognen também usou a critividade para contestar o comércio da maior festa do cristianismo. Em 1974, o grupo organizou o primeiro Natal dos Pobres da Dinamarca. Milhares de presentes foram distribuídos por um batalhão de Papai Noéis. Detalhe: os presentes eram artigos roubados das lojas de Copenhagen. Resultado: foram todos presos, mas o escândalo ganhou as manchetes dos principais jornais da europa, com fotos de dezenas de Papais Noéis sendo carregados pela polícia. Até hoje o Natal dos Pobres continua sendo organizado como uma tradição e todo ano aproximadamente 2 mil pessoas recebem uma grande ceia em Christiania. Vote Nulo.

retirado da página http://www.brnpunk.cjb.net/

Thiago Barbosa

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Roda Viva com Leonardo Boff

Leonardo Boff participando do programa Roda Viva (1997). São 13 anos passados, mas excessivamente atual...certamente o mais protestante de todos os católicos romanos...









Thiago Barbosa

terça-feira, 5 de julho de 2011

Um esboço sobre aspectos básicos para a teologia acadêmica...ou sua tentativa

SEMINÁRIO TEOLÓGICO BATISTA DO SUL DO BRASIL – FABAT (Rj)

Curso: Teologia Ministerial

Disciplina: O que é, e para que serve teologia?

Professor: Thiago Barbosa (twitter.com/thiagobiotheos)



O QUE É TEOLOGIA?

A de se entender que teologia é uma ciência. Eventualmente não uma ciência como compreendemos e nos acostumamos a observar no cotidiano, porém, sim, é uma ciência. A maior dificuldade possivelmente seja que o elemento de estudo, o objeto teórico desta ciência é de difícil mensuração.

A saber, todas as ciências possuem três elementos essenciais: a) o sujeito epistêmico; b) o objeto teórico; c) o método específico. A teologia como ciência não é diferente. Nela observamos o sujeito epistêmico, o estudioso da teologia (teólogo); o método específico, que se mostra como o percurso feito pelo estudioso para alcançar e sistematizar o seu objeto teórico; e finalmente o objeto teórico da ciência, que para a teologia Deus e a sua criação. Evidentemente cabe um questionamento importantíssimo, pode-se estudar Deus?



DEUS É SÍMBOLO PARA DEUS.

Certamente, não se pode estudar Deus. Ele não é apenas um objeto que pode ser mensurado e avaliado pela percepção racional humana. Deus transcende todas as expectativas de racionalizações, de estudos e percepções. Obviamente este grau de transcendência que caracteriza Deus impede o seu estudo direto, afinal Ele não é um animal como os tantos que existem e que são objeto de estudo dos biólogos e veterinários. Idem acontece com o estudo dos engenheiros e seus edifícios, dos médicos e enfermeiros com seus doentes, dos agrônomos e o solo ou as lavouras. Estes objetos teóricos – animais, edifícios, pessoas doentes, solo ou lavouras – são objetos mensuráveis, mas evidentemente não apresentam o nível de transcendência que Deus nos mostra.

A frase de Paul Tillich representa bem como a teologia como ciência busca estudar Deus e sua criação. No apontamento, Deus é símbolo para Deus, vemos aqui duas proposições. A primeira anuncia que Deus é um símbolo. A continuação da frase completa dizendo que Deus é um símbolo para Deus, ou seja, podemos notar duas apresentações de Deus: 1) o Deus que é símbolo; 2) o Deus que é mais que o símbolo. Vejamos o esquema abaixo:
Deus é símbolo para Deus.

O Deus que é objeto teórico para a ciência teológica é um símbolo, uma representação do Deus transcendental, fruto da fé e da busca de cada pessoa que visa relacionar-se com o Deus transcendental.

Podemos trabalhar como conceito para símbolo a construção epistemológica racional que os homens fazem de um objeto ou de algo, “aquilo que, de forma arbitrária ou convencional, representa outra coisa” . Pierre Bourdieu tende a considerar a cultura e os sistemas simbólicos em geral como um instrumento de poder, isto é, de legitimação da ordem vigente. O Deus objeto teórico da teologia é, portanto, culturalmente concebido, fruto de um momento histórico, de uma perspectiva social, de uma demanda política, de um aparato econômico. Assim sendo é melhor dizer que a teologia estuda os discursos e apontamentos feitos por homens e mulheres na busca - ou em nome - de um Deus. Deus este que é símbolo, construção humana, em face de um Deus que transcende e mostra-se infinitamente maior que a capacidade racional humana. Esse Deus da fé humana não pode ser mensurado, nem, todavia estudado, a Ele cabe a fé, a busca. Mas a teologia debruça-se sobre os que os humanos dizem ser Deus, e, como esse Deus que é símbolo se manifesta na criação divina.

A perspectiva de que a teologia estuda o Deus que é símbolo permite ao estudioso da teologia um maior rigor crítico e metodológico em seus trabalhos. Contudo, esse teólogo não perde um dado fundamental para o estudo da teologia – que é a revelação – tal fato diferencia os estudioso da teologia e os estudiosos das ciências da religião. O teólogo não abandona o quesito da revelação falando a partir de sua perspectiva, em contrapartida o cientista da religião faz uma descrição metódica e neutra do fenômeno religioso. Enquanto o teólogo mostra-se inserido no processo que estuda, percebendo a realidade da revelação, o estudioso das ciências da religião apenas descreve metodologicamente as manifestações religiosas.



MAS COMO ASSIM REVELAÇÃO?

Etmologicamente pode-se descrever o significado de teologia como sendo um discurso, um saber, uma palavra, uma ciência de ou sobre Deus. Assim, situa-se numa sequência de movimentos que terminam em Deus concebido pela fé, seu intento é então aprofundar, justificar, esclarecer seu ato de fé. “A fé e a razão aliam-se no conhecimento verdadeiro. A fé genuína procura compreensão e expressão inteligente” .

A revelação é, portanto, as diversas formas como entendemos a manifestação divina. Evidentemente essa manifestação não é algo incontestável – tem um cunho totalmente pessoal e também se relaciona ao Deus transcendental - e deve ser aguçada pelo entendimento racional, sem desmerecer o dado da fé. Não se pode então estudar a revelação em si como a um objeto teórico, mas podemos nos ater aos fenômenos descritivos dessa revelação que são seus símbolos.

A revelação se dá então ao homem mediante sua história vivencial, dia após dia, nos elementos que o cercam e eventos que o emolduram; e também na sua cultura, em seus elementos relacionais, sua troca de experiências. Essa revelação de Deus na história e na cultura humana são elementos da fé e não podem ser mensuradas e sistematizadas pelo estudo teológico, a não ser pela teologia sistemática que se debruça justamente sobre os elementos da fé, organizando-os e apresentando reinterpretações da fé e, no caso, da revelação de Deus aos homens. Assim a proposta de sistematizar a revelação não é uma grandeza estática, antes se renova e reinterpreta constantemente, na mesma velocidade que o homem se altera na história e na cultura.

Evidentemente vemos vários fenômenos revelacionais, tais fenômenos são os eventos que podem ser relatados – são objetos teóricos – e podem então ser mensurados, estudados. Entre os fenômenos da revelação de Deus aos homens podemos ter principalmente:

a) Teofania – conceito teológico para a manifestação de Deus em algum lugar, coisa ou pessoa. É uma manifestação sensível ou mensurável de Deus, ou mesmo mediante uma aparição angelical, ou ainda por intermédio de fenômenos impressionantes da natureza. O texto bíblico é repleto de relatos teofânicos que serão mais bem estudados nos módulos seguintes.

b) Hierofania – É o ato de manifestação do sagrado. Mircea Eliade cunha o termo hierofania em seu Tratado sobre a História das Religiões, buscando referir-se a uma consciência fundamentada no sagrado. Esta manifestação ocorre então em objetos habituais do ideário humano.

"Para aqueles que têm uma experiência religiosa, a natureza como um todo é susceptível de se revelar como sacralidade cósmica. O cosmos como um todo pode se tornar uma hierofania. O homem das sociedades arcaicas tende a viver tanto quanto possível o sagrado ou na privacidade dos objetos consagrados. A sociedade moderna habita um mundo dessacralizado”.

c) Epifania – É uma sensação de realização ou compreensão da essência ou do afeto de alguém, no caso teológico, o sagrado. O termo é usualmente aplicado quando há um pensamento inspirado ou iluminado, que por sua completude é tido como divino. Traditivamente as religiões monoteístas têm em seu texto sagrado o dado da inspiração divina, trata-se, portanto, de uma epifania literária. As epifanias literárias podem ocorrer sob dois aspectos:

1) Epifania Literária Direta – O sagrado manifesta diretamente à mente do autor, e este serve apenas para a redação do texto em questão.

2) Epifania Literária Indireta – O sagrado manifesta sua ação na história e na cultura, assim o autor interpreta os fenômenos da história e da cultura que o cerca, os aspectos sociais, políticos e econômicos. O autor aqui está totalmente inserido no processo e deixa no texto suas impressões e perspectivas, bem como ideologias e percepções de sua própria autoria.

Sob essa perspectiva, a manifestação dos fenômenos da revelação pode ser mensurada, mas, a revelação em sim é um dado da fé que emana do sujeito religioso.



MAS O QUE É FÉ?

Quanto ao termo ou conceito, pode-se apontar que fé é a firme opinião de que algo seja verdade, mesmo quando não se tem provas ou critérios objetivos para verificação. Dá-se então pela absoluta confiança que depositamos em determinada proposição ou mesmo na fonte que transmite tal proposição. Mas a fé não parece ser muito mais complexa que um simples conceito? Ainda mais quando esse conceito teima em opor termos como fé e dúvida?

O Dr. Osvaldo Luiz Ribeiro aponta para a fé sob quatro vieses distintos, e porque não dizer complementares:

a) Fé enquanto encontro – aspecto místico/misterioso;

b) Fé enquanto ensino – transmissão dos dogmas mediante o evento educacional da catequese e do doutrinamento;

c) Fé enquanto encanto – relacionado ao aspecto mágico dos eventos da “magia”;

d) Fé enquanto entrega – enquanto confiança em um aspecto desconhecido.

A fé mostra-se então como cada um desses aspectos, um termo polissêmico , mas sobre tudo é a na prática eclesiástica a junção de todas essas possibilidades na vida do sujeito religioso. A fé pode então ser apresentada em relação a uma pessoa, objeto inanimado, ideologia, pensamento filosófico ou sistema qualquer, conjunto de regras, paradigma popular social historicamente instituído, base dogmática de uma religião, é então sustentado, não por evidências racionalmente concebidas, mas transcende tudo isso. O filósofo existencialista Soren Kierkengaard conceitua fé como “um salto no escuro”. Sendo assim associa-se às experiências pessoais e pode ser relatada/compartilhada pelas pessoas, principalmente em um ambiente de fé. Embora - enquanto entrega - seja bastante percebida também nos meios acadêmicos. A fé não é percebida então exclusivamente nos ambientes religiosos, mas antes é característica evidenciada em cada ser humano, representa suas expectativas a respeito do mundo que o cerca.



CONSIDERAÇÕES FINAIS... (por enquanto...)

A teologia é sim uma ciência complexa possuindo em sua estrutura básica, várias outras disciplinas que a auxiliam no desenrolar de seus estudos. É comum termos aspectos da filosofia, sociologia, antropologia, arqueologia, lingüística, biologia, economia, entre outras, no intuito de corroborarem na perspectiva teológica. O teólogo é antes de tudo, um indivíduo comprometido com a fé, mas que não se furta de ler, reler, interpretar e reinterpretar o mundo, tudo com o intuito de compreender as pessoas e o mundo, mediante os aspectos da(s) fé(s).



Thiago Barbosa